domingo, 22 de agosto de 2021

A valentia dos valentões...


A valentia dos valentões...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Nunca entendi qual a vantagem da valentia e, muito menos, a existência dos valentões. A manifestação da besta-fera em forma de gente, sempre me pareceu uma exortação da ignorância arrogante, e nada mais. Então, de tão rasa que é acaba por não fazer sentido algum, não trazendo em si ou consigo nenhum benefício. Como diz, uma velha canção, “[...]O homem que diz sou / Não é! / Porque quem é mesmo é / Não sou! [...]” 1.

E em pleno século XXI, com o mundo e o Brasil “pegando fogo”, o que mais se precisa é de gente inteligente, equilibrada e de bom senso. Problemas, principalmente, os mais graves e complexos, não se resolvem na base do grito, batendo a mão na mesa, vociferando absurdos para quem estiver na frente, empunhando arma. Isso, nada mais é, do que sinal de incompetência, de incapacidade dialógica, de ausência completa de domínio da situação.

Pena, que o valentão acredita, piamente, que ao agigantar toda a sua estupidez tem nas mãos o poder suficiente de pacificar quaisquer tormentas. Ele está tão embebido por sua vaidade e prepotência que não enxerga os limites da sua própria condição humana; nem tampouco, da realidade que o cerca. Qualquer semelhança não seria mera coincidência, em relação ao conto “A Roupa Nova do Rei” 2, do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen. Afinal, mais uma vez, “O rei está nu! ”.

Particularmente, no caso do Brasil, todas as promessas mirabolantes, de “refazer do zero” a governança, fazendo luzir uma roupagem maravilhosa, foram um fiasco. A valentia não conseguiu se vestir de sucessos e êxitos costurados por frágeis e decadentes ideologias distorcidas. Cada iniciativa tem esgarçado um pedaço da tecitura proposta, de modo que foram se figurando remendos em cima de remendos, construindo um mosaico disforme e ininteligível, cujos resultados não poderiam distar da frustração.

Como o valentão não admite seus equívocos e, muito menos, suas derrotas, sejam em que circunstâncias forem, permanece investindo recursos nessa confecção esfarrapada. Então, o dinheiro se esvai ... em um poço cada vez mais sem fundo; enquanto, a vida segue o curso insolúvel das suas urgências e emergências.

Aliás, um dos parceiros da valentia é o capital, porque o apoio nem sempre é conquistado; mas, comprado. Geralmente, em parcelas polpudas. Então, quando carecem os recursos, a tendência natural é perder a sustentação social. Por essa razão é que, bem antes do que imaginam, uma legião de “pobres diabos”, também, estará nua, na sua dignidade, porque os “apoios” vêm à frente na fila de prioridades.

Não é à toa, que “os privilegiados simplesmente se isolam numa barreira de indiferença para com a sina dos pobres, cuja miséria repugnante procuram ignorar ou ocultar numa espécie de miopia social, que perpetua a alternidade” (Darcy Ribeiro – O Povo Brasileiro: A formação e o sentido do Brasil).

Dessa forma, a valentia dos valentões vai esfacelando a sobrevivência do país, da população, dos interesses diplomáticos e comerciais, ... até que, “o homem mergulha na multidão para afogar o grito do seu próprio silêncio” (Rabindranath Tagore – poeta e filósofo bengali); pois, “Democracia com fome, sem educação e saúde para a maioria, é uma concha vazia” (Nelson Mandela – Ex-Presidente sul-africano).