A
valentia dos valentões...
Por
Alessandra Leles Rocha
Nunca entendi qual a
vantagem da valentia e, muito menos, a existência dos valentões. A manifestação
da besta-fera em forma de gente, sempre me pareceu uma exortação da ignorância
arrogante, e nada mais. Então, de tão rasa que é acaba por não fazer sentido
algum, não trazendo em si ou consigo nenhum benefício. Como diz, uma velha canção,
“[...]O homem que diz sou / Não é! / Porque
quem é mesmo é / Não sou! [...]” 1.
E em pleno século
XXI, com o mundo e o Brasil “pegando fogo”,
o que mais se precisa é de gente inteligente, equilibrada e de bom senso. Problemas,
principalmente, os mais graves e complexos, não se resolvem na base do grito,
batendo a mão na mesa, vociferando absurdos para quem estiver na frente,
empunhando arma. Isso, nada mais é, do que sinal de incompetência, de
incapacidade dialógica, de ausência completa de domínio da situação.
Pena, que o valentão
acredita, piamente, que ao agigantar toda a sua estupidez tem nas mãos o poder
suficiente de pacificar quaisquer tormentas. Ele está tão embebido por sua
vaidade e prepotência que não enxerga os limites da sua própria condição
humana; nem tampouco, da realidade que o cerca. Qualquer semelhança não seria
mera coincidência, em relação ao conto “A
Roupa Nova do Rei” 2, do escritor dinamarquês
Hans Christian Andersen. Afinal, mais uma vez, “O rei está nu! ”.
Particularmente, no
caso do Brasil, todas as promessas mirabolantes, de “refazer do zero” a governança, fazendo luzir uma roupagem
maravilhosa, foram um fiasco. A valentia não conseguiu se vestir de sucessos e êxitos
costurados por frágeis e decadentes ideologias distorcidas. Cada iniciativa tem
esgarçado um pedaço da tecitura proposta, de modo que foram se figurando remendos
em cima de remendos, construindo um mosaico disforme e ininteligível, cujos
resultados não poderiam distar da frustração.
Como o valentão não
admite seus equívocos e, muito menos, suas derrotas, sejam em que circunstâncias
forem, permanece investindo recursos nessa confecção esfarrapada. Então, o
dinheiro se esvai ... em um poço cada vez mais sem fundo; enquanto, a vida
segue o curso insolúvel das suas urgências e emergências.
Aliás, um dos
parceiros da valentia é o capital, porque o apoio nem sempre é conquistado;
mas, comprado. Geralmente, em parcelas polpudas. Então, quando carecem os
recursos, a tendência natural é perder a sustentação social. Por essa razão é que,
bem antes do que imaginam, uma legião de “pobres
diabos”, também, estará nua, na sua dignidade, porque os “apoios” vêm à
frente na fila de prioridades.
Não é à toa, que “os privilegiados simplesmente se isolam
numa barreira de indiferença para com a sina dos pobres, cuja miséria repugnante
procuram ignorar ou ocultar numa espécie de miopia social, que perpetua a
alternidade” (Darcy Ribeiro – O Povo Brasileiro: A formação e o sentido do
Brasil).
Dessa forma, a valentia dos valentões vai esfacelando a sobrevivência do país, da população, dos interesses diplomáticos e comerciais, ... até que, “o homem mergulha na multidão para afogar o grito do seu próprio silêncio” (Rabindranath Tagore – poeta e filósofo bengali); pois, “Democracia com fome, sem educação e saúde para a maioria, é uma concha vazia” (Nelson Mandela – Ex-Presidente sul-africano).