Sustentabilidade
a partir dos 4R’s: os primeiros passos rumo à Economia Verde
Por
Alessandra Leles Rocha
A Organização das Nações Unidas
(ONU) propôs como tema para o Dia Mundial do Meio Ambiente, a ser comemorado amanhã,
dia 05 de junho, a Restauração de
Ecossistemas, ou seja, que os países membros sejam capazes de prevenir,
deter e reverter a degradação dos ecossistemas em todo o planeta. Um chamado
importante, que traz luz sobre as relações humanas com o espaço geográfico em
que elas acontecem.
Ainda que muitos tenham
dificuldade de compreender essa dinâmica, como é o caso do Brasil, todos os
problemas e desafios a serem enfrentados nas diversas áreas do cotidiano estão
ligados direta ou indiretamente ao Meio Ambiente.
Simplesmente, porque o planeta
Terra é o berçário de todos os ecossistemas, ou seja, dos diversos conjuntos
constituídos pelas interações entre componentes bióticos (vivos) – plantas,
animais, microorganismos –, e elementos abióticos (não vivos) – ar, água, solo
e minerais –, os quais interagem por processos de transferência de energia
entre si.
Trata-se, portanto, de uma
sintonia muito fina, na qual o mínimo desequilíbrio causa desdobramentos
inimagináveis, que podem se repercutir por diversas gerações.
De modo que ajudar nesse processo
de restauração dos ecossistemas significa a possibilidade de contribuir para a
erradicação da pobreza, para o combate as mudanças climáticas; mas,
particularmente, para a prevenção de uma extinção em massa.
Tendo em vista que 2030 é o prazo
estabelecido pela ONU para a consolidação dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS), o mundo científico percebeu que o prazo até lá representa a
última oportunidade de a sociedade global evitar uma grande catástrofe
climática.
Assim, a sugestão proposta por
eles visa fortalecer o engajamento global; visto que, nenhuma entidade ou país
seria capaz de conduzir esse desafio de maneira individual. O que significa não
somente investir na restauração; mas, estabelecer os incentivos corretos,
reduzindo subsídios que financiam práticas prejudiciais. Celebrar as lideranças
que já estão se colocando em ação nesse movimento, a fim de mudar o comportamento
das demais. Investir em pesquisa e construir capacitação a partir dos grupos
marginalizados, os quais são os mais impactados com a destruição dos
ecossistemas, para que possam assumir um papel ativo nesse processo. Celebrar a
cultura da restauração no propósito de construir a próxima geração através da
educação; e, por fim, ouvir e aprender com os resultados obtidos.
Então, como entender o cenário
ambiental brasileiro nesse contexto, considerando os últimos 2 anos e meio? O
Brasil está na contramão do pensamento socioambiental do mundo. Não só pela
barbárie imposta a Floresta Amazônia, ao Pantanal e ao Cerrado, por meio de
queimadas criminosas, desmatamento insustentável, mineração clandestina, uso e
ocupação ilegal de terras indígenas; mas, em todos os demais componentes do
desenvolvimento sustentável nas áreas urbanizadas e rurais; tais como, o manejo
de resíduos, o tratamento de efluentes, a preservação de áreas verdes e matas
ciliares, a recuperação de encostas, o controle da emissão de poluentes etc.
Em relação ao espaço geográfico
brasileiro, o trato com a Natureza não tem sido muito diferente daquele
estabelecido no século XVI, quando o país foi colonizado, ou seja, uma gestão
totalmente exploratória e dizimadora regida pelo imediatismo de interesses
econômicos de grupos dominantes.
Tanto que, o Sistema Nacional do
Meio Ambiente (SISNAMA), composto pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) 1, O Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recurso Naturais Renováveis (IBAMA) e o Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) 2,
o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) 3,
e demais órgãos seccionais e locais, tiveram as suas engrenagens de trabalho
interrompidas pelo desmantelamento e mudanças abruptas de seus instrumentos
legais – protocolos, portarias, convênios etc. -, a fim de atender a política
ambiental definida pela atual gestão federal.
O que significa dizer que o
modelo econômico empregado pelo Brasil não se preocupa em exacerbar
desigualdades e gerar ameaças ao meio ambiente e a saúde humana. O país está,
portanto, fora do alinhamento da economia verde inclusiva, a qual tem como
princípios fundamentais aprimorar o bem-estar humano e construir equidade
social concomitantemente a redução de riscos e escassez ambiental.
A economia verde demanda uma consciência
socioeconômica baseada na redução da pobreza, na promoção de um trabalho
decente e resultante em crescimento econômico, na inovação e infraestrutura
industrial, no fomento as cidades e comunidades sustentáveis e ao consumo e
produção sustentável. Exatamente o que não se vê e nem se ouve discutir no
país.
Enquanto os EUA e diversos países
da Europa miram seu desenvolvimento e crescimento, apesar da Pandemia, em uma
economia verde (ou sustentável), o Brasil abre mão de todas as oportunidades,
tendo em vista os diversos compromissos ambientais assumidos na esfera
internacional e o alerta da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), em 2020, de que o crescimento sustentável seria crucial para
a recuperação econômica brasileira.
De modo que o não engajamento ao
movimento de recuperação inspirado pela economia verde faz perder tanto o meio
ambiente quanto a economia do país 4. Afinal,
como disse o biólogo Barry Commoner, “A
primeira lei da Ecologia é que tudo está ligado a todo o resto”; pois, os
ecossistemas interagem entre si constituindo uma teia sem fim.
Daí a importância de Repensar, Reduzir, Reaproveitar e Reciclar. Essa é a razão pela qual pensar
a economia a partir dos fundamentos da sustentabilidade seja tão compensador. Porque
ao dimensionar o valor financeiro dos ecossistemas, incluindo eventuais riscos
e danos, se fortalece não só as tomadas de decisão para as políticas ambientais
governamentais e potenciais investimentos da iniciativa privada; mas, a sobrevivência
do próprio ser humano e do planeta.