sexta-feira, 4 de junho de 2021

Sustentabilidade a partir dos 4R’s: os primeiros passos rumo à Economia Verde


Sustentabilidade a partir dos 4R’s: os primeiros passos rumo à Economia Verde

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

 

A Organização das Nações Unidas (ONU) propôs como tema para o Dia Mundial do Meio Ambiente, a ser comemorado amanhã, dia 05 de junho, a Restauração de Ecossistemas, ou seja, que os países membros sejam capazes de prevenir, deter e reverter a degradação dos ecossistemas em todo o planeta. Um chamado importante, que traz luz sobre as relações humanas com o espaço geográfico em que elas acontecem.

Ainda que muitos tenham dificuldade de compreender essa dinâmica, como é o caso do Brasil, todos os problemas e desafios a serem enfrentados nas diversas áreas do cotidiano estão ligados direta ou indiretamente ao Meio Ambiente.

Simplesmente, porque o planeta Terra é o berçário de todos os ecossistemas, ou seja, dos diversos conjuntos constituídos pelas interações entre componentes bióticos (vivos) – plantas, animais, microorganismos –, e elementos abióticos (não vivos) – ar, água, solo e minerais –, os quais interagem por processos de transferência de energia entre si.

Trata-se, portanto, de uma sintonia muito fina, na qual o mínimo desequilíbrio causa desdobramentos inimagináveis, que podem se repercutir por diversas gerações.

De modo que ajudar nesse processo de restauração dos ecossistemas significa a possibilidade de contribuir para a erradicação da pobreza, para o combate as mudanças climáticas; mas, particularmente, para a prevenção de uma extinção em massa.

Tendo em vista que 2030 é o prazo estabelecido pela ONU para a consolidação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o mundo científico percebeu que o prazo até lá representa a última oportunidade de a sociedade global evitar uma grande catástrofe climática.

Assim, a sugestão proposta por eles visa fortalecer o engajamento global; visto que, nenhuma entidade ou país seria capaz de conduzir esse desafio de maneira individual. O que significa não somente investir na restauração; mas, estabelecer os incentivos corretos, reduzindo subsídios que financiam práticas prejudiciais. Celebrar as lideranças que já estão se colocando em ação nesse movimento, a fim de mudar o comportamento das demais. Investir em pesquisa e construir capacitação a partir dos grupos marginalizados, os quais são os mais impactados com a destruição dos ecossistemas, para que possam assumir um papel ativo nesse processo. Celebrar a cultura da restauração no propósito de construir a próxima geração através da educação; e, por fim, ouvir e aprender com os resultados obtidos.

Então, como entender o cenário ambiental brasileiro nesse contexto, considerando os últimos 2 anos e meio? O Brasil está na contramão do pensamento socioambiental do mundo. Não só pela barbárie imposta a Floresta Amazônia, ao Pantanal e ao Cerrado, por meio de queimadas criminosas, desmatamento insustentável, mineração clandestina, uso e ocupação ilegal de terras indígenas; mas, em todos os demais componentes do desenvolvimento sustentável nas áreas urbanizadas e rurais; tais como, o manejo de resíduos, o tratamento de efluentes, a preservação de áreas verdes e matas ciliares, a recuperação de encostas, o controle da emissão de poluentes etc.

Em relação ao espaço geográfico brasileiro, o trato com a Natureza não tem sido muito diferente daquele estabelecido no século XVI, quando o país foi colonizado, ou seja, uma gestão totalmente exploratória e dizimadora regida pelo imediatismo de interesses econômicos de grupos dominantes.

Tanto que, o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), composto pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) 1, O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recurso Naturais Renováveis (IBAMA) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) 2, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) 3, e demais órgãos seccionais e locais, tiveram as suas engrenagens de trabalho interrompidas pelo desmantelamento e mudanças abruptas de seus instrumentos legais – protocolos, portarias, convênios etc. -, a fim de atender a política ambiental definida pela atual gestão federal.

O que significa dizer que o modelo econômico empregado pelo Brasil não se preocupa em exacerbar desigualdades e gerar ameaças ao meio ambiente e a saúde humana. O país está, portanto, fora do alinhamento da economia verde inclusiva, a qual tem como princípios fundamentais aprimorar o bem-estar humano e construir equidade social concomitantemente a redução de riscos e escassez ambiental.

A economia verde demanda uma consciência socioeconômica baseada na redução da pobreza, na promoção de um trabalho decente e resultante em crescimento econômico, na inovação e infraestrutura industrial, no fomento as cidades e comunidades sustentáveis e ao consumo e produção sustentável. Exatamente o que não se vê e nem se ouve discutir no país.

Enquanto os EUA e diversos países da Europa miram seu desenvolvimento e crescimento, apesar da Pandemia, em uma economia verde (ou sustentável), o Brasil abre mão de todas as oportunidades, tendo em vista os diversos compromissos ambientais assumidos na esfera internacional e o alerta da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2020, de que o crescimento sustentável seria crucial para a recuperação econômica brasileira.

De modo que o não engajamento ao movimento de recuperação inspirado pela economia verde faz perder tanto o meio ambiente quanto a economia do país 4. Afinal, como disse o biólogo Barry Commoner, “A primeira lei da Ecologia é que tudo está ligado a todo o resto”; pois, os ecossistemas interagem entre si constituindo uma teia sem fim.

Daí a importância de Repensar, Reduzir, Reaproveitar e Reciclar. Essa é a razão pela qual pensar a economia a partir dos fundamentos da sustentabilidade seja tão compensador. Porque ao dimensionar o valor financeiro dos ecossistemas, incluindo eventuais riscos e danos, se fortalece não só as tomadas de decisão para as políticas ambientais governamentais e potenciais investimentos da iniciativa privada; mas, a sobrevivência do próprio ser humano e do planeta.



1 Função de supervisão e planejamento.

2 Responsáveis pela execução das normas de proteção ambiental.

3 Órgão consultivo e deliberativo do governo.