Contra
quem, ainda, estamos vivendo?!
Por
Alessandra Leles Rocha
É tão estranho perceber a
deterioração social, acontecendo dia a dia, enquanto o ser humano deixa de ser
a prioridade da vida e da sociedade. Concordo que a Democracia no Brasil clama
por atenção e cuidados, diante de seu visível de esfacelamento pelas forças
políticas vigentes; mas, sem seres humanos não há país, não há Democracia, não
há nada.
Certas declarações divulgadas nos
últimos dias, dão a medida exata do que estou trazendo nessa reflexão. Há pessoas
imbuídas de defender a todo custo a ideia de que não há nada de errado
acontecendo, que tudo vai muito bem, que estão em “teorias golpistas
conspiratórias” as sementes da desestabilização social; como
se não tivéssemos alcançado MEIO MILHÃO de
vidas perdidas pela COVID-19, neste sábado, e outras milhares, decorrentes de causas diversas.
Não importa se admitem ou não;
mas, o fato é que o Brasil cheira a morte. O país está perdendo o viço, porque as
pessoas e a dinâmica do cotidiano estão fenecendo. Não é possível limitar a
visão de sucesso e felicidade aos 6% da população que compõe a elite nacional,
que tem renda domiciliar média / mês acima de R$ 20 mil. São esses os que
conseguem sem maior dificuldade viver dentro dos parâmetros constitucionais de
atenção aos direitos fundamentais básicos. Esses vivem em um Brasil que não é o
mesmo dos 94% restantes da população.
De modo que não é possível
aceitar esse balizamento, simplesmente, porque ele não traduz a realidade do
país. Só no 1º trimestre desse ano, a taxa de desemprego alcançou 14,7%,
segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Sem contar os
desalentados que representam 5,6% de pessoas que desistiram ou não têm
condições de procurar emprego. De modo que a miséria retornou avassaladora para
o cenário nacional, com 14,5 milhões de cidadãos nessas condições. O que
significa pessoas distribuídas entre a extrema pobreza (renda per capita de até R$89,00 / mês) e a
pobreza (renda per capita entre
R$90,00 e R4178,00 / mês).
Então, fica a pergunta: o Brasil
quer mesmo se desenvolver? Pelo menos na prática, o que se vê está longe disso.
Recentemente, uma matéria publicada pela BBC News trouxe vários questionamentos
do mundo das Ciências Econômicas a respeito dos caminhos do Capitalismo na contemporaneidade,
dados os desequilíbrios promovidos pela concentração de riqueza, injustiças
sociais e destruição ambiental 1. Tudo o
que reflete a política econômica vigente no Brasil.
A questão é que, enquanto o mundo
reflete sobre a necessidade de um “novo
contrato social do capitalismo”, o que se vê por aqui é o apego exclusivo
ao lucro. Todas as práticas econômicas encontram-se distanciadas,
principalmente na gestão governamental, de um capitalismo consciente e
inclusivo, que seja “capaz de prosperar
economicamente como sociedade sem deixar de lado as demandas sociais e
planetárias”.
Em suma, estamos na contramão do
mundo, alienados por ideias retrógradas. O problema é que esse movimento cobra
um preço altíssimo, inclusive, de sobrevivência na esfera global. Porque ninguém
quer discutir questões que já foram superadas, que o tempo e a prática
mostraram sua ineficiência e insuficiência. Afinal, tempo é dinheiro!
É justamente nesse ponto que se
torna imprescindível o papel do ser humano. A roda que vem oprimindo e comprimindo
os indivíduos, através dos rótulos de trabalhadores, operários, colaboradores e
afins, retira deles a cidadania. Eles ficam tão absortos que não conseguem se
enxergar além daquela imagem de mão de obra que produz e consome. Algo sem
vida, sem emoção, sem consciência, ... Por isso, seus infortúnios sociais
parecem presos a uma inércia sem fim. O que é muito bom para os empregadores, que
continuam a produzir e a lucrar, sem sobressaltos; mas, é péssimo para a
sociedade.
O não exercício da cidadania
afasta a possibilidade do desenvolvimento e do progresso, porque não se
estabelecem novidades nos campos sociais. Novas leis. Novas políticas. Novas crenças
e valores. Novas organizações e princípios para a competitividade. Enfim... O
coletivo cidadão é a grande mola propulsora a determinar o fracasso ou o sucesso
social. Sem ele, a sociedade definha e morre. Como escreveu Honoré de Balzac, “O homem morre a primeira vez quando perde o
entusiasmo”; portanto, a continuar como está, se os cidadãos não tomarem a sua cidadania pelas mãos estarão fadados a morrer até não restar nem a alma.