sábado, 19 de junho de 2021

Contra quem, ainda, estamos vivendo?!


Contra quem, ainda, estamos vivendo?!

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

É tão estranho perceber a deterioração social, acontecendo dia a dia, enquanto o ser humano deixa de ser a prioridade da vida e da sociedade. Concordo que a Democracia no Brasil clama por atenção e cuidados, diante de seu visível de esfacelamento pelas forças políticas vigentes; mas, sem seres humanos não há país, não há Democracia, não há nada.

Certas declarações divulgadas nos últimos dias, dão a medida exata do que estou trazendo nessa reflexão. Há pessoas imbuídas de defender a todo custo a ideia de que não há nada de errado acontecendo, que tudo vai muito bem, que estão em “teorias golpistas conspiratórias” as sementes da desestabilização social; como se não tivéssemos alcançado MEIO MILHÃO de vidas perdidas pela COVID-19, neste sábado, e outras milhares, decorrentes de causas diversas.

Não importa se admitem ou não; mas, o fato é que o Brasil cheira a morte. O país está perdendo o viço, porque as pessoas e a dinâmica do cotidiano estão fenecendo. Não é possível limitar a visão de sucesso e felicidade aos 6% da população que compõe a elite nacional, que tem renda domiciliar média / mês acima de R$ 20 mil. São esses os que conseguem sem maior dificuldade viver dentro dos parâmetros constitucionais de atenção aos direitos fundamentais básicos. Esses vivem em um Brasil que não é o mesmo dos 94% restantes da população.

De modo que não é possível aceitar esse balizamento, simplesmente, porque ele não traduz a realidade do país. Só no 1º trimestre desse ano, a taxa de desemprego alcançou 14,7%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Sem contar os desalentados que representam 5,6% de pessoas que desistiram ou não têm condições de procurar emprego. De modo que a miséria retornou avassaladora para o cenário nacional, com 14,5 milhões de cidadãos nessas condições. O que significa pessoas distribuídas entre a extrema pobreza (renda per capita de até R$89,00 / mês) e a pobreza (renda per capita entre R$90,00 e R4178,00 / mês).

Então, fica a pergunta: o Brasil quer mesmo se desenvolver? Pelo menos na prática, o que se vê está longe disso. Recentemente, uma matéria publicada pela BBC News trouxe vários questionamentos do mundo das Ciências Econômicas a respeito dos caminhos do Capitalismo na contemporaneidade, dados os desequilíbrios promovidos pela concentração de riqueza, injustiças sociais e destruição ambiental 1. Tudo o que reflete a política econômica vigente no Brasil.

A questão é que, enquanto o mundo reflete sobre a necessidade de um “novo contrato social do capitalismo”, o que se vê por aqui é o apego exclusivo ao lucro. Todas as práticas econômicas encontram-se distanciadas, principalmente na gestão governamental, de um capitalismo consciente e inclusivo, que seja “capaz de prosperar economicamente como sociedade sem deixar de lado as demandas sociais e planetárias”.

Em suma, estamos na contramão do mundo, alienados por ideias retrógradas. O problema é que esse movimento cobra um preço altíssimo, inclusive, de sobrevivência na esfera global. Porque ninguém quer discutir questões que já foram superadas, que o tempo e a prática mostraram sua ineficiência e insuficiência. Afinal, tempo é dinheiro!

É justamente nesse ponto que se torna imprescindível o papel do ser humano. A roda que vem oprimindo e comprimindo os indivíduos, através dos rótulos de trabalhadores, operários, colaboradores e afins, retira deles a cidadania. Eles ficam tão absortos que não conseguem se enxergar além daquela imagem de mão de obra que produz e consome. Algo sem vida, sem emoção, sem consciência, ... Por isso, seus infortúnios sociais parecem presos a uma inércia sem fim. O que é muito bom para os empregadores, que continuam a produzir e a lucrar, sem sobressaltos; mas, é péssimo para a sociedade.

O não exercício da cidadania afasta a possibilidade do desenvolvimento e do progresso, porque não se estabelecem novidades nos campos sociais. Novas leis. Novas políticas. Novas crenças e valores. Novas organizações e princípios para a competitividade. Enfim... O coletivo cidadão é a grande mola propulsora a determinar o fracasso ou o sucesso social. Sem ele, a sociedade definha e morre. Como escreveu Honoré de Balzac, “O homem morre a primeira vez quando perde o entusiasmo”; portanto, a continuar como está, se os cidadãos não tomarem a sua cidadania pelas mãos estarão fadados a morrer até não restar nem a alma.