Serão
anjos ou demônios?!
Por
Alessandra Leles Rocha
Não é de surpreender que as
atuais conjunturas conduzam as pessoas a ficarem com os nervos à flor da pele. Além
da Pandemia, a “cereja do bolo” no
momento, há milhares de outras questões incomodando e perturbando a paz de
muita gente. Mas, apesar disso, é fundamental recobrar o foco e a lucidez e não
se deixar consumir pelas avaliações rasas e inoportunas.
E posso dizer, sem errar, que
isso aconteceu amiúde no dia de hoje. O primeiro dia de depoimentos na Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI), instaurada pelo Senado Federal, para apurar os
fatos sobre a Pandemia da COVID-19, no país, e, durante todo o dia, cidadãos
acompanhavam o depoimento do 1º Ministro da Saúde, nesta gestão, enquanto outros
se digladiavam nas arenas tecnológicas do mundo contemporâneo.
Dentro desse contexto, o que mais
chamou a atenção foi perceber as distorções presentes nas manifestações
virtuais. Os comentários, em geral, davam conta de um desconhecimento razoável sobre
política, sobre as CPIs e sobre o país em que vivemos.
Ora, o propósito de uma CPI é investigar
e, diante disso, buscam-se as pessoas que melhor possam trazer informações a
respeito do objeto da investigação. Pessoas que conhecem o assunto ou que
estiveram diretamente ligados a ele, como é o caso do Ministro.
Posso muito bem compreender o nível
de indignação e inconformismo que arrebata milhões de brasileiros. Os motivos
são muitos e robustos. O problema é que algumas pessoas estavam destilando sua
ira, a partir da desqualificação do Ministro, pelo fato de ele ter aceito fazer
parte do governo atual.
Então, muita calma nessa hora! Não
é isso que está em discussão na CPI e ninguém melhor do que aqueles que
estiveram no centro desse poder político para fornecer informações
substanciosas e capazes de traduzir, detalhadamente, o que vem acontecendo,
nesses mais de 12 meses, à população.
Em se tratando da política
nacional, a história parece clara em afirmar que os interesses caminham sempre léguas
adiante do compromisso representativo da República. E no caso de cargos por
indicação, como os Ministérios, é óbvio que exista certa afinação
ideológico-partidária com o governo vigente. Ninguém é chamado somente pela expertise nesse ou naquele assunto.
Governos se sustentam por apoios e precisam de pessoas que trabalhem na defesa
de seus interesses.
E por mais absurdo que possa
parecer, em pleno século XXI, há muita gente que acredite, mesmo, que aceitar
certos convites políticos pode significar um caminho para colocar em prática
ações importantes, transformadoras para o país. Entretanto, quando descobrem a “surpresa dentro do ovo” sentem-se
frustradas, ou enganadas, ou incapazes de seguir adiante na empreitada.
Foi exatamente isso o que aconteceu.
Os dois primeiros ministros que ocuparam a cadeira da Saúde, nesta gestão
federal, mostraram que essa tal “afinidade”
foi insuficiente para fazê-los prosperar no ofício ministerial.
De repente, se depararam com uma
situação que transcendeu essas raias para se tornar uma obediência cega e
insensata que lhes custaria o preço da própria identidade e dignidade. Aí, o limite
apareceu.
A verdade é que qualquer ser
humano está sujeito a cair em uma esparrela dessas. Pode não ser no serviço
público; mas, no setor privado, também, acontece. A questão crucial é que, a
partir do momento em que a pessoa esteve naquela posição é dela as perspectivas
que podem elucidar os fatos a respeito da dinâmica daquele setor.
E é exatamente isso o que a CPI
espera obter, porque não se faz uma investigação parlamentar apenas baseada em
notícias oriundas dos veículos de comunicação e informarão ou de conversas de
corredor.
Portanto, ninguém que vai sentar
naquelas cadeiras do Senado, nas próximas semanas, está sendo convidado para
receber um par de asas e auréola; muito pelo contrário. Ninguém ali está
barganhando; talvez, um pouco de publicidade e visibilidade. Porque, no fundo,
todo mundo é um bocadinho vaidoso. Mas, nada comparado aos mecanismos
fisiologistas que persistem na história política nacional.
Ali, na CPI da COVID-19, eles não só têm um compromisso jurídico com a verdade; mas, com a opinião pública. Que no caso, em particular, tem como elemento motivador a indigesta consciência de que mais de 400 mil pessoas morreram pela Pandemia e outras milhares podem ter o mesmo fim, se as práxis nefastas empregadas, até o momento, não forem contidas. Então, respira e não pira, tá?!