quinta-feira, 13 de maio de 2021

Patriota..., mas não muito!


Patriota..., mas não muito!

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

“Após promessa de dobrar recursos, governo corta orçamento do Meio Ambiente” 1. “Desenvolvimento Regional e Educação têm maiores cortes no orçamento” 2. “Orçamento da Saúde tem corte de R$20 bilhões em 2021” 3. “Vacinas, bolsas e serviços: universidades preveem apagão com corte de verba” 4. “Auxílio emergencial: Com benefício reduzido em 2021, Brasil terá 61 milhões na pobreza” 5. “Estudo do Dieese mostra alta da cesta básica e defasagem do salário mínimo” 6. “Brasil tem 14,4 milhões de desempregados – maior número da série histórica” 7. “Brasil tem 2.949 mortes por COVID-19 em 24h; total passa de 428 mil” 8... Sem arrastar as correntes do passado nacional, essas são algumas manchetes que traduzem o panorama do Brasil atual.

À primeira vista, poderíamos nos iludir com a ideia de que tantas mazelas fazem o país se entristecer, ou se constranger, ou, quem sabe, até, se desculpar. Só que não.

Porque o patriotismo brasileiro não chega a tanto. Nem passa perto de se sensibilizar com o próprio esfacelamento do país. Haja vista a notícia bombástica do dia: “Portaria eleva salário de Bolsonaro e ministros em até 69% e estoura teto constitucional” 9. Ainda que “o barco esteja fazendo água”, ninguém parece preocupado em salvá-lo.

De tão surreal, tudo o que está acontecendo no país, e no mundo, confesso que tem sido difícil viver sob uma inversão de parâmetros tão absurda. O choque, o estranhamento, diante das notícias, é porque as prioridades do país tornaram-se outras, apesar das conjunturas. Como se optassem por construir uma governança de caráter ficcional e não real.  

A verdade é que há pouco mais de 2 anos, o Brasil realiza cortes profundos naquilo que é de interesse direto da população; mas, não estanca a sangria da gastança supérflua, oriunda do próprio governo. Nunca se viu tanto apreço pelas regalias e privilégios, como agora. Quem assistiu ao filme “Maria Antonieta” (2006), há de se lembrar dos excessos da corte francesa Pré-Revolução, no século XVIII.

O próprio orçamento federal recém-aprovado pelo Congresso foi considerado por muitos economistas e especialistas na área de gestão pública, como uma “peça de ficção”, que por conta de todos os malabarismos incluídos pode travar o funcionamento da máquina pública em breve. De modo que o peso imposto pelas desigualdades somado aos impactos da Pandemia ameaça, e muito, a sobrevivência do próprio país.

Então, nem precisa perguntar quem irá pagar a conta de tudo isso, porque já estão pagando. Antes, podíamos nos referir aos pobres, miseráveis e invisíveis o ônus dessa função. Mas, agora, todos estão pagando por essa conta; na medida em que os ultraliberais da extrema-direita nacional tomaram emprestado a filosofia de seus arqui-inimigos socialistas sobre a supressão das classes sociais e as estão dissolvendo, achatando, até que só existam dois extremos, milionários e paupérrimos.  

No fim das contas, o patriotismo que vigora na Terra Brasilis é “cada um por si e Deus por todos”, porque não há, nem nunca houve, senso de unidade, de coletividade por aqui. E cada dia mais, temos nos parecido com qualquer reprodução desbotada das pinturas de Debret. Apegada ao ideário colonial absolutista, a minoria que detém o poder tenta constituir uma identidade nacional pautada, anos luz de distância, ao mundo high tech do século XXI. Estão tentando transformar o seu conservadorismo de fachada em ufanismo patriótico. Pois é, o Brasil não conhece o Brasil.

Não é à toa que “A maior desgraça de uma nação pobre é que, em vez de produzir riqueza, produz ricos” (Mia Couto – escritor e biólogo). E essa realidade faz com que jamais a sociedade, na sua grande parcela de sustentação, saiba o verdadeiro significado do patriotismo. Porque ela não alcança a consciência primeira do que é ser cidadão; na medida em que é preterida e privada de seus direitos fundamentais. Assim, o patriotismo, verde-amarelo, se enviesa e se superficializa cada vez mais.