Patriota...,
mas não muito!
Por
Alessandra Leles Rocha
“Após promessa de dobrar
recursos, governo corta orçamento do Meio Ambiente” 1. “Desenvolvimento Regional e Educação têm
maiores cortes no orçamento” 2. “Orçamento da Saúde tem corte de R$20 bilhões
em 2021” 3. “Vacinas, bolsas e serviços: universidades preveem apagão com corte de
verba” 4. “Auxílio emergencial: Com benefício reduzido em 2021, Brasil terá 61
milhões na pobreza” 5. “Estudo do Dieese mostra alta da cesta
básica e defasagem do salário mínimo” 6.
“Brasil tem 14,4 milhões de desempregados
– maior número da série histórica” 7.
“Brasil tem 2.949 mortes por COVID-19 em
24h; total passa de 428 mil” 8... Sem arrastar
as correntes do passado nacional, essas são algumas manchetes que traduzem o
panorama do Brasil atual.
À primeira vista, poderíamos nos
iludir com a ideia de que tantas mazelas fazem o país se entristecer, ou se
constranger, ou, quem sabe, até, se desculpar. Só que não.
Porque o patriotismo brasileiro
não chega a tanto. Nem passa perto de se sensibilizar com o próprio
esfacelamento do país. Haja vista a notícia bombástica do dia: “Portaria
eleva salário de Bolsonaro e ministros em até 69% e estoura teto constitucional” 9.
Ainda que “o barco esteja fazendo água”, ninguém
parece preocupado em salvá-lo.
De tão surreal, tudo o que está
acontecendo no país, e no mundo, confesso que tem sido difícil viver sob uma
inversão de parâmetros tão absurda. O choque, o estranhamento, diante das
notícias, é porque as prioridades do país tornaram-se outras, apesar das
conjunturas. Como se optassem por construir uma governança de caráter ficcional
e não real.
A verdade é que há pouco mais de 2
anos, o Brasil realiza cortes profundos naquilo que é de interesse direto da
população; mas, não estanca a sangria da gastança supérflua, oriunda do próprio
governo. Nunca se viu tanto apreço pelas regalias e privilégios, como agora. Quem
assistiu ao filme “Maria Antonieta”
(2006), há de se lembrar dos excessos da corte francesa Pré-Revolução, no
século XVIII.
O próprio orçamento federal
recém-aprovado pelo Congresso foi considerado por muitos economistas e
especialistas na área de gestão pública, como uma “peça de ficção”, que por conta de todos os malabarismos incluídos pode
travar o funcionamento da máquina pública em breve. De modo que o peso imposto
pelas desigualdades somado aos impactos da Pandemia ameaça, e muito, a sobrevivência
do próprio país.
Então, nem precisa perguntar quem
irá pagar a conta de tudo isso, porque já estão pagando. Antes, podíamos nos
referir aos pobres, miseráveis e invisíveis o ônus dessa função. Mas, agora,
todos estão pagando por essa conta; na medida em que os ultraliberais da
extrema-direita nacional tomaram emprestado a filosofia de seus arqui-inimigos
socialistas sobre a supressão das classes sociais e as estão dissolvendo,
achatando, até que só existam dois extremos, milionários e paupérrimos.
No fim das contas, o patriotismo
que vigora na Terra Brasilis é “cada um por si e Deus por todos”, porque
não há, nem nunca houve, senso de unidade, de coletividade por aqui. E cada dia
mais, temos nos parecido com qualquer reprodução desbotada das pinturas de Debret. Apegada ao ideário colonial
absolutista, a minoria que detém o poder tenta constituir uma identidade
nacional pautada, anos luz de distância, ao mundo high tech do século XXI. Estão tentando transformar o seu conservadorismo
de fachada em ufanismo patriótico. Pois é, o Brasil não conhece o Brasil.
Não é à toa que “A maior desgraça de uma nação pobre é que,
em vez de produzir riqueza, produz ricos” (Mia Couto – escritor e biólogo).
E essa realidade faz com que jamais a sociedade, na sua grande parcela de sustentação,
saiba o verdadeiro significado do patriotismo. Porque ela não alcança a consciência
primeira do que é ser cidadão; na medida em que é preterida e privada de seus
direitos fundamentais. Assim, o patriotismo, verde-amarelo, se enviesa e se
superficializa cada vez mais.
1 https://www.correiobraziliense.com.br/economia/2021/04/4919825-apos-promessa-de-dobrar-recursos-governo-corta-orcamento-do-meio-ambiente.html
2 https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2021-04/desenvolvimento-regional-e-educacao-tem-maiores-cortes-no-orcamento
3 https://www.extraclasse.org.br/politica/2021/04/orcamento-da-saude-tem-corte-de-r-20-bilhoes-em-2021/
4 https://educacao.uol.com.br/noticias/2021/05/10/vacinas-bolsas-e-servicos-universidades-terao-apagao-com-corte-de-verbas.htm
5 https://www.bbc.com/portuguese/brasil-56843399#:~:text=O%20valor%20do%20benef%C3%ADcio%20foi,milh%C3%B5es%20de%20fam%C3%ADlias%20em%202021.
6 https://www.extraclasse.org.br/economia/2021/01/estudo-do-dieese-mostra-alta-da-cesta-basica-e-defasagem-do-salario-minimo/