O
despreparo e a vergonha
Por
Alessandra Leles Rocha
Há tempos que venho observando
uma mudança abrupta no país, em relação ao preparo de seus cidadãos para
investidura em determinados cargos e funções. A permissividade nacional tem
falado cada vez mais alto e conduzido pessoas a posições para as quais elas estão
anos luz de distância, apenas pelo fato de compactuarem ideologicamente ou pela
existência de relações de interesse muito próximas.
E isso é péssimo para o país. Não
só porque arranha a sua imagem cidadã; mas, porque ressalta o descompromisso na
construção de quadros profissionais devidamente qualificados. Além disso,
levanta aspectos importantíssimos em relação ao binômio Profissionalismo e
Educação.
Apontam-se muitos problemas em
relação ao sistema educacional brasileiro, os quais são, de fato, realidade.
Mas, esse preparo, o qual me refiro nessa reflexão, não está alicerçado
necessariamente na quantidade de anos cursados pelos alunos, ou na excelência
das instituições de ensino frequentadas, ou ao acesso as tecnologias
disponíveis para o aprendizado, ou a qualidade de formação dos docentes
responsáveis, ou do viés profissional a ele atribuído. Ele se constitui além.
Digamos que a educação
formalizada pela escola, com seus eventuais problemas e desafios, é só o
pontapé inicial; a base fundamental para qualquer caminho a ser seguido na vida
por um cidadão. A partir daí, cabem aos indivíduos escolhas sobre infinitas possibilidades
de ser e de fazer.
De modo que um profissional, seja
de que área for, inicia uma jornada de lapidação de suas habilidades e
competências, de aprimoramentos diversos, a qual demandará profunda dedicação e
esforço para que ele se desenvolva dentro das condições impostas pelas
conjunturas.
Sendo assim, um profissional nunca
está preparado completamente. Ele deve estar sempre apto dentro de um
determinado recorte de tempo. Entretanto, esse tempo muda porque a vida, em si,
evolui. Por isso, ele precisa acompanhar essa dinâmica com atenção e
consciência, ao contrário de se julgar pronto, de antemão, para o que der e
vier. Apenas baseando-se em uma pseudossegurança que emerge por conta da sua
indicação para essa ou aquela posição.
Ora, a vida é constituída de
passos. Ainda que a linha de partida possa ser a mesma da chegada, há um
percurso a ser trilhado nesse processo. Haja vista que ninguém chega ao cume do
Everest sem caminhar da base até lá. E no exercício profissional essa maturação
é imprescindível, para dar consciência e sabedoria quanto ao estabelecimento de
uma conexão bem ajustada entre o conhecimento técnico e as demandas da prática
cotidiana.
Pode ser a função mais simples do
mundo, não há receita de bolo que responda a todos os questionamentos que
surgem da repentinidade. Há sempre uma novidade, um ajuste, uma reavaliação,
aqui e ali. Quando esses passos não são respeitados, as etapas são queimadas e
os resultados são sempre decepcionantes. Todo o processo fica aquém das
expectativas e os riscos de fracasso se agigantam.
A questão é que há riscos e
riscos. Nem tudo pode ser contornado, reparado, substituído. Há riscos que
comprometem a estrutura inteira e trazem desdobramentos em curto, médio e longo
prazo. É claro que, se o indivíduo não estava apto para o exercício daquela
função, ele também não sabe como resolver os problemas que surgirem pelo
caminho. Portanto, os custos dessa precipitação são muito altos.
Talvez, por todas essas
considerações, é que grandes corporações, empresas e, até, países concordem que
é necessário observação e cautela na escolha de seus profissionais, a fim de
que cargos e funções possam ser efetivamente ocupados por pessoas
extraordinárias.
Ou seja, pessoas que dispõem de
um lastro de experiências e conhecimentos tão bem ajustados, que lhes permite cumprir
seu ofício com muito mais qualidade e eficiência, do que se possa imaginar.
Afinal, elas não se dispõem a saltos no escuro, a aventuras profissionais, a riscos desnecessários. Elas não comprometem a sua credibilidade, a sua capacidade, nem a sua dignidade humana e profissional, em nome de nenhum arroubo, ou vaidade, ou apelo mundano. Seu objetivo maior é sempre garantir a segurança e o profissionalismo, independentemente da situação.