Por
Alessandra Leles Rocha
Mahatma Gandhi dizia que “Um homem não pode fazer o certo numa área
da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado em outra. A vida é um todo
indivisível”. Mas, olhando para a situação do Brasil, nesse momento, o
problema é não se ver o certo em nenhuma área; mas, uma sucessão de
desmantelamentos que comprometem não só o desenvolvimento do país, como a
sobrevivência de sua população.
Não há nenhum setor em que não se
perceba a velha história do “cachorro
correndo atrás do rabo”, ou seja, um esforço imenso que não traduz em
absolutamente nada. Tudo porque a estrutura foi comprometida pela ausência de
planejamento, de conhecimento, de interesse em promover melhorias e avanços.
Transformaram o país em uma gigantesca arena de confronto ideológico, que não
conseguiu ser claro nas suas próprias convicções e, nem tampouco, estabeleceu
uma mudança com efetividade e relevância propositiva; apenas, discussão arbitrária
e ruptura. Puseram abaixo o que estava funcionando, sem que houvesse um plano
melhor para colocar no lugar.
Por isso, não é justo lançar
sobre a Pandemia a culpa sobre o caos. A presença do Sars-Cov-2 em território
nacional foi, tão somente, mais uma questão a revelar esse movimento
desconstrutivo do país. Mais uma vez, ele manteve sua posição de caminhar na
contramão do desenvolvimento contemporâneo e das perspectivas globais. Uma
trilha própria repleta de atraso e de inação que revela o nível de despreparo e
de ausência plena de habilidades e competências, por parte daqueles que
deveriam tocar as agendas governamentais.
É lógico que se o governo federal
age de maneira atabalhoada, isso repercute diretamente nos demais entes
federativos. A governança do país se dá por uma engrenagem que precisa
articular todos de maneira precisa, a fim de evitar o travamento e a
interrupção dos processos e resultados. Ninguém é pior ou melhor nesse
contexto, todos têm sua importância e sua participação bem definida. Caso
contrário, o país não avança e a população padece as consequências e a
cronificação das mazelas.
Portanto, não é à toa, que paire
no ar um clima de insatisfação generalizada. Universidades sendo “derretidas” a olhos vistos, pela
insuficiência de recursos. Pesquisas importantíssimas para o avanço científico
e tecnológico sendo paralisadas, por perseguições ideologizadas aos grandes
nomes da Ciência nacional. Investidas brutais de uma economia perversa à
sobrevivência da população, especialmente, as parcelas mais vulneráveis. O
retorno triunfante do desemprego e da miséria nacional. A lentidão da
imunização contra a COVID-19 pela carência quantitativa de vacinas. O gargalo
logístico nos serviços de saúde. Enfim... Não adianta culpar a imprensa por
tantas más notícias. A população sente na pele, na dramaticidade cotidiana, o
que está acontecendo no país.
Infelizmente, a resposta mais
elucidativa quanto ao porquê de todo esse movimento, talvez, esteja nas
palavras de George Orwell, quando ele afirma que “O essencial da guerra é a destruição, não necessariamente de vidas
humanas, mas de produtos do trabalho humano. A guerra é um meio de despedaçar,
ou de libertar na estratosfera, ou de afundar nas profundezas do mar, materiais
que de outra forma teriam de ser usados para tornar as massas demasiado
confortáveis e, portanto, com o passar do tempo, inteligentes” 1.
Deixar o país em escombros
significa, então, tornar os 94% da população distribuídos entre a classe média
tradicional e a classe baixa, totalmente, subservientes aos interesses e
objetivos mercantis da elite. Daí a governança se revestir de uma fundamentação
teórica baseada no Biopoder, na Necropolítica e na Aporofobia.
Os indivíduos das camadas
estruturantes da pirâmide social são, portanto, “peças” sem importância humana
para a sociedade, apenas econômica. Por isso, todo e qualquer investimento em
políticas públicas vem sendo preterido. O que faz com que os direitos sociais2 - Educação, Saúde, Alimentação, Trabalho,
Moradia, Transporte, Lazer, Segurança, Previdência Social, Proteção à
maternidade e a infância e Assistência aos desamparados – estejam
sempre na lista da prioridade de cortes no orçamento público, independentemente
da conjuntura vigente.
Por mais que pareça indigesta,
essa breve reflexão é um lampejo da realidade brasileira. Assim, não se esqueça
de que “Os fatos não deixam de existir só
porque são ignorados” (Aldous Huxley); é preciso entender que “[...] quem não espera o bem não teme o mal”
(Maquiavel). Talvez, por isso, Jean-Paul Sartre dizia, “O pior mal é aquele ao qual nos acostumamos”, porque dele se
constitui a nossa voluntária inação.