Para
pensar...
Por
Alessandra Leles Rocha
Não é porque
o mundo parece ter se virado de cabeça para baixo que absolutamente tudo mudou.
Certas coisas permanecem como sempre foram. Ação e reação. Fatos e argumentos.
Sobe e desce. ... Então, de olho nas notícias desse dia, não há porque se
espantar que o Brasil não pertença mais ao rol das 10 maiores economias do
mundo e o resultado do seu Produto Interno Bruto (PIB) foi de menos 4,1% em
2020.
Fatos que
não recaem exclusivamente sobre os ombros da Pandemia; mas, que tiveram nela o
seu agravamento significativo. Verdade seja dita, o modelo econômico proposto e
vigente não passa de um experimento que acumula problemas e vem se mostrando
malsucedido as eventuais expectativas. A ideia de alçar voos rumo ao sucesso
deixou quaisquer voos de galinha constrangidos, pois não saiu do lugar.
As
estatísticas econômicas demonstram. Não se trata de conversa fiada e
especulativa. A economia brasileira patina e não avança, a olhos vistos. Há
sempre alguma coisa para ser apontada como causa dessa inação, como justificativa;
mas, que não justifica nada. E se a economia não flui, é claro que a população
sofre as consequências. Só que dessa vez elas se agravam dada a conjuntura do
mundo. Uma Pandemia está em curso.
Todos os
olhos estão voltados para controlar a franca expansão desse novo vírus. A
prioridade mundial é essa. Portanto, as economias estão transitando numa
velocidade menor, as perdas são evidentes e a recuperação tratada como projeção
em um prazo ainda indeterminado. Mas, não é possível fazer diferente. São mais de
2,5 milhões de vidas perdidas em todo o mundo.
E o que faz
uma sociedade bem-sucedida economicamente são pessoas. Seres humanos
desempenhando suas respectivas atividades. Produzindo. Construindo. Consumindo.
... Se elas estão doentes, mortas ou em condições adversas de sobrevivência,
como o desemprego e a miséria, o país não tem como alcançar suas metas
econômicas; mesmo que não representem nada de tão ousado.
Além disso,
embora cada país seja responsável por superar suas próprias adversidades e
desafios, se algum deles demonstra lentidão, ou dificuldade, ou incapacidade em
fazê-lo, pode sim, comprometer o fluxo coletivo das relações econômicas. Uma
nação que não consiga atender demandas esperadas, certamente, será substituída
por outra que seja capaz. Uma nação cujos custos de produção são muito elevados
torna-se menos competitiva e perde lugar de mercado. Enfim...
Sejamos
honestos, a economia brasileira mais parece um novelo emaranhado em que se
tenta descobrir o fio da meada para desatar os nós. Mas, ao contrário de
exercitar toda a lucidez e bom senso possíveis, especialmente diante da
Pandemia, o Brasil se armou de um agressivo e arraigado comportamento para
manter suas convicções sobre políticas econômicas. O resultado como era de se
esperar não foi positivo. Alguns raros e parcos segmentos do mercado obtiveram
algum lucro; mas, ainda sim, aquém.
A
insistência em dissociar a economia da saúde tem sido fatal. Não houve por
parte dos gestores econômicos do país nenhum movimento no sentido de se
comprometer com as medidas sanitárias vigentes mundo afora, a fim de barrar a
expansão da Pandemia e garantir possibilidades de retomada de crescimento e
desenvolvimento mais rápidas. Não houve um apelo maciço em favor da aquisição
de vacinas para imunização da população; tão logo, os primeiros imunobiológicos
foram sendo aprovados. Não houve empenho para a elaboração de um plano de
suporte, consistente e exequível, aos diversos setores da cadeia produtiva para
que pudessem mitigar os impactos negativos oriundos dessa crise. Não houve...
Diante da
perplexidade que toma de assalto o cidadão que se depara com o resultado do
PIB, todas essas outras considerações causam ainda mais estranheza. Acreditar
que um corpo técnico com renomada qualificação no setor, simplesmente,
negligenciou medidas tão importantes para trazer segurança e estabilidade para
a economia nacional, parece surreal. Pensar que sua apatia diante dos fatos foi
deliberadamente voluntária; além de perverso, seria pensar, então, que a
política econômica pleiteada não era mesmo para o país, mas para um círculo
minoritário de pessoas.
No entanto,
tal visão limitada da realidade comprometeu os planos. A economia derrete. O
desemprego avança. A renda e o poder de compra diminuem. A vulnerabilidade
social se consolida. A Pandemia se agrava e alastra pelo país. São mais de 10,6
milhões de casos. Mais de 250 mil mortes. Colapso do sistema de saúde pública e
privada. A vacinação se arrasta a passos de tartaruga. A quantidade de vacinas
é insuficiente. ... “E agora, José? [...]Você marcha, José! José, para onde?
” 1.
1 https://www.letras.mus.br/carlos-drummond-de-andrade/353799/