quarta-feira, 30 de setembro de 2020

1º DE OUTUBRO - DIA INTERNACIONAL DAS PESSOAS IDOSAS (RESOLUÇÃO 45/106, ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS)


O envelhecimento sob análise...

 

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

 

Disseram que eles seriam o público-alvo preferencial da letalidade pelo COVID-19; mas, sem maiores explicações científicas, a democracia do vírus desconsiderou tal prognóstico inicial e reescreveu a narrativa. E lá se vão os milhões de idosos pelo mundo na sua jornada de sobrevivência ao caos pandêmico e suas imposições sociais. Porque apesar de todos os pesares, a certeza do envelhecimento populacional ainda permanece entre nós.

A escalada do tempo por milhões e milhões de seres humanos segue rumo veloz. Segundo o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), em 2012, “no mundo todo, a cada segundo 2 pessoas celebram seu sexagésimo aniversário – em um total anual de quase 58 milhões de aniversários de 60 anos. Uma em cada 9 pessoas no mundo tem 60 anos de idade ou mais, e estima-se um crescimento para 1 em cada 5 por volta de 2050”; portanto, “projeta-se que esse número alcance 1 bilhão em menos de 10 anos e que duplique até 2050, alcançando 2 bilhões” 1.

Tudo isso decorrente do desenvolvimento dos fatores que envolvem a qualidade de vida e ampliam as expectativas de longevidade humana, ou seja, tratamentos médicos, medicamentos, maior conhecimento nutricional, atividade física, engajamento social, atividades educacionais e culturais. De modo que, embora de maneira não linear e abrangente em todos os lugares do planeta, essas transformações ao mesmo tempo em que beneficiam milhões de pessoas fazem emergir reflexões importantes.  

Afinal, está em curso a ruptura de um perfil sedentário e socialmente marginalizado para o idoso, abrindo espaço para um movimento ativo e socialmente inclusivo. O que impõe não esquecer de que essa é uma parcela populacional bastante heterogênea e, nesse sentido, demande políticas e planejamentos bastante estruturados e conscientes para que as intervenções se mostrem efetivas e satisfatórias. Ora, são muitos grupos dentro de um grande grupo a serem referenciados a partir da renda, da faixa etária, da etnia, do grau de escolaridade e das condições clínicas de saúde.

Mas, para deslocar da teoria para a prática, garantindo a dignidade e a segurança necessária aos idosos é preciso que não só os gestores públicos e as entidades não governamentais estejam envolvidos nesse processo; mas, toda a população. O que se inicia pelo respeito à dignidade e independência do idoso, aceitando-o plenamente como membro natural da sociedade, sem quaisquer ações discriminatórias que possam de algum modo lhes tolher as oportunidades, a acessibilidade e a igualdade de direitos.  

Trabalhar na contramão dessa lógica empática e cidadã é totalmente antiproducente. A cooperação mútua entre os diversos segmentos sociais é o que permite alcançar um desenvolvimento muito mais sustentável e equilibrado para todos. A participação de cada indivíduo na sociedade agrega, em maior ou menor escala, contribuições de ordem material e subjetiva essenciais. Portanto, a longevidade não pode ser um requisito para desqualificar ou banir nenhum ser humano, diante de uma escala de envelhecimento tão emblemática quanto temos diante de nós.

Frente a tantas outras estatísticas, verdadeiramente dramáticas, tais como o desemprego, a miséria, a carência de habitação, a insuficiência de saneamento básico, milhões de idosos e de outras faixas etárias demandam por uma ampliação real de oportunidades de sobrevivência. De serem lembrados em suas habilidades e competências humanas, ao contrário de serem excluídos por razões e argumentos extremamente inconsistentes e desumanos.

Segundo escreveu o executivo americano, Samuel Ullman, “Ninguém envelhece apenas por viver vários anos. Nós envelhecemos abandonando nossos ideais. Os anos podem enrugar a pele, mas desistir do entusiasmo enruga a alma”. E estes são tempos do imediatismo, da pressa, da ansiedade exacerbada. Mas, no fim das contas, nada disso tem levado a sociedade além da desistência de si mesma, absorvida por excessivas frustrações e desapontamentos que só fazem adoecer o corpo e a alma e, de algum modo, antecipar o processo de envelhecimento.

Como se vê, não é o envelhecer o grande obstáculo da sociedade contemporânea; mas, ela própria, na medida em que não consegue enxergar dentro de si e reconhecer o seu verdadeiro valor, na individualidade de cada ser. Afinal, “Vivemos em uma cultura obcecada com a juventude que está constantemente tentando nos dizer que, se não somos jovens, e não estamos brilhando, e não somos gostosos, que não importamos. Eu me recuso a deixar que um sistema ou uma cultura ou uma visão distorcida da realidade me digam que eu não sou importante. Eu sei que só sabendo quem e o que você é, você pode começar a aproveitar a plenitude da vida. Todos os anos devem nos ensinar uma lição valiosa. Se você entende a lição realmente só depende de você” (Oprah Winfrey, Oprah Magazine, 2011).