Dezembros...
Por Alessandra Leles
Rocha
Dezembro
se inicia hoje; mas, há alguns dias tenho observado as pessoas e percebido o
nítido frisson que toma conta dos seres humanos nessa aproximação do fim do
ano. É engraçado, porque diante de todas as tentativas humanas de se controlar
o tempo e fazê-lo subserviente às suas vontades, as pessoas se rendem aos
apelos da mais pura repetição. Ora, o que é o fim do ano senão mais um ciclo
que se finda?
E todos nós sabemos
que isso vai acontecer, porque essa contagem do tempo é uma criação humana. No entanto,
cada vez que se renova esse movimento de resgate e transformação, os Dezembros se moldam diferentes. Como disse
Heráclito de Éfeso 1, “não cruzarás o mesmo rio duas vezes, porque outras são as águas que
correm nele”. O que chama atenção é como esse mesmo processo, ano a ano, é
realmente capaz de desencadear ou intensificar uma série de diferentes e
inovadoras sensações e sentimentos.
De repente, começo a pensar
que Dezembro é a nossa primavera! Impactada
pelos solavancos do inusitado, soterrada lentamente debaixo de uma ferrugem proveniente
das agruras do cotidiano, a alma aguarda o tempo para renascer e revelar o
esplendor das suas mudanças.
Então, esse é o tempo
de se fazer um balanço da vida. Vitórias. Derrotas. Conquistas. Fracassos. Ilusões.
Desilusões. ...um olhar mais intenso e sincero para tudo o que está além do
espelho. Depois de uma longa jornada a casca está em farrapos e a verdade do
que fomos e fizemos está desnuda.
Não, não há como
fugir. Não há como mentir. Não há como se esconder. Por isso, Dezembros nos tornam frágeis; crianças
em busca de colo e de afago. Os encantos do mundo, as luzinhas multicoloridas,
os presentes, o corre-corre pelas cidades... de uma forma ou de outra nos
revolvem os terrenos do espírito em busca do preenchimento de tantos vazios que
estavam ocultos pela inabilidade de priorizar o essencial.
Mas, nem só de
materialismo vive o ser humano. Nessa catarse de Dezembro há espaço para a fé; nosso lado mais íntimo e pessoal, o
qual reside na força magnânima do divino. É o afago que não se vê não se
explica; apenas, se sente. Mas, que dispõe de uma intensidade tão surpreendente
que, não raras às vezes, traduz o intraduzível aos pobres mortais.
Por isso, geralmente,
Dezembros nos tornam mais doces, mais
dóceis, mais gente. Capazes de externar nossa capacidade humana de ser
generoso, fraterno, altruísta..., visibilizando seres e coisas que nossa
cegueira ocultou por tantas passagens dos ponteiros. Afinal, enquanto chama viva, a fé precisa
desse calor que compartilha o pão e a alma em todas as suas dimensões.
Ora, mas é preciso
entender que Dezembros não são
contrições que nos absolvem para retornar ao ponto dessa breve pausa. Dezembros
precisam e devem ser o ponto alto de mudanças que sinalizem nossa evolução. E evoluir
não é tarefa fácil e possível para um único Dezembro.
Precisamos de muitos; mas, sobretudo, da vontade efetiva de fazer diferente, de
ser diferente. E isso envolve diretamente o modo como você se relaciona com o
material e o imaterial da vida, ou seja, o peso que você atribui ao TER e ao
SER.