Esticando a corda...
Por Alessandra Leles
Rocha
Vivemos tempos em que as pessoas não medem esforços para
testar os limites do outro. Esticando uma corda até vê-la se partir com
satisfação. E os que fazem isso, certamente encontrarão quem os submeterá a
mesma prática, sem o mínimo de cerimônia ou piedade.
Dentro e fora do nosso pequeno mundinho essa realidade se
dissemina e aponta para uma das mais importantes razões de adoecimento
populacional. As conjunturas do cotidiano por si só são repletas de desafios,
atribuições, etc.etc.etc. e, por isso, não deveriam ser acrescidas de
comportamentos desnecessários, cruéis e perversos, de pessoas que têm problemas
com a sua percepção social e precisam se reafirmar sob pilares de arrogância,
de prepotência, de narcisismo...
Especialistas na área de recursos humanos e psicologia, já
perceberam que um profissional saudável, satisfeito no ambiente de trabalho,
produz muito mais, ou em termos qualitativos um melhor relacionamento,
atendimento ao cliente, clareza mental e na comunicação, motivação e confiança,
e em termos quantitativos a redução de desperdícios, cumprimento de metas e menores índices
de acidentes de trabalho. Então, por que se age na contramão desse
conhecimento?
Infelizmente, em cada círculo social existente o que se
percebe é a opressão no limite mais alto. Pode-se dizer que há uma tendência de
mecanização humana que extrai das pessoas as suas qualidades naturais e lhes
impinge a execução de habilidades e capacidades próprias das máquinas. Nada de
emoções. Nada de sentimentos. Esforço até o limite. Ora, mas se as máquinas se
desgastam, o que dizer de uma estrutura tão delicada quanto o ser humano?
Aos que ainda não entenderam, o descanso é vital para o
desenvolvimento. Aristóteles e seus contemporâneos, já compreendiam que o
trabalho em excesso era um obstáculo ao pleno desenvolvimento intelectual. Afinal,
o tempo livre é um tempo de autoanálise, para que as pessoas possam liberar o
seu subconsciente e perceber a vida de forma mais realista e isenta. Mas, cada
vez mais, poucos são os que podem se dar ao luxo desse “ócio criativo”.
A princípio eu pensava se tratar de uma obsessão calcada nos
resquícios do ideário Fordista da Revolução Industrial, principalmente no que dizia
respeito a extrair o máximo da mão de obra de cada trabalhador; mas, com o
tempo, percebi que a relação de poder de uns sobre outros é o fator
preponderante nessa questão. Assim, segundo Michel Foucault (1999) 1, o poder está em toda parte; não porque
englobe tudo, e sim, porque provém de todos os lugares. E se há poder, a resistência
a ele também existe e se configura como um grito do descontentamento, um
exercício da liberdade.
A grande questão é que nem sempre a resistência obtém êxito,
e quanto mais se estabelece o acirramento dessas forças, mais se consolidam os prejuízos
no campo do desenvolvimento social. Por isso é tão fácil perceber como essa
instituição de autoridade e obediência massacra a capacidade de construção de
uma sociedade livre, criativa, saudável, rica em habilidades e competências.
No fundo, a verdade é que grande parte desse “poder” é tão
somente uma Síndrome
do Pequeno Poder, ou seja, alguém que por meio de atitudes
opressoras diante de um poder adquirido (ou não), utiliza-o de modo autoritário,
mostrando a total escassez de equilíbrio e bom senso, abusando dos limites da
autoridade. Assim, com tantos “novos tiranos” se revestindo dela, em muito pouco tempo serão muitos “caciques” para
nenhum “índio”.
1 FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade: curso no
Collège de France (1975/1976). Tradução de Maria Ermantina Galvão. São Paulo:
Martins Fontes, 1999.