Páscoa:
a passagem pela metamorfose humana
Por
Alessandra Leles Rocha
É Páscoa. Tempo de reflexão para que seja possível alcançar o real sentido da passagem, do renascimento da
alma. Mais do que nunca, esse processo se torna imprescindível.
Quando tudo parece
se esfacelar ao redor, o ser humano tende a acreditar que a transformação
necessária é mesmo de cunho exterior e se abstém do olhar franco e honesto para
dentro de si. No entanto, o que acontece de fora é só um reflexo do caos que o
habita.
Nas constantes e
diárias tentativas de se esquivar dos quinhões de responsabilidade consigo e
com o mundo é que as pessoas vêm queimando suas pontes de passagem e se
enclausurando por meio de muros que sufocam seu espírito.
A humanidade
sangra. Suas feridas não dispõem do tempo e dos cuidados necessários para se
curar. Uma loucura desmedida tomou de assalto nosso bem mais precioso. E por
quê? Cada um que responda a seu modo.
O certo é que
precisamos parar. Respirar nem que seja por um segundo. É preciso dimensionar
os fatos e reestabelecer o sentido da vida. Somos ou temos? Desaprendemos o
significado do essencial e do supérfluo, do afago e do desprezo, do amor e do
ódio... enquanto, cada dia mais, objetificamos o ser humano.
Então, como
celebrar esse tempo de introspecção reflexiva atormentados pelo turbilhão que
nos afasta de nós mesmos? Sim, porque a indiferença que parte de nossos
pensamentos e ações se inicia no mais profundo de nossa própria alma. Sim,
estamos indiferentes ao nosso Eu.
Desaprendemos a
ouvir os nossos silêncios, os nossos gritos, as nossas inquietudes, as nossas dores. Estamos
próximos, muito próximos, de alcançar a mais plena artificialização de nossa inteligência.
Por isso, enquanto
ainda nos resta um fiapo de humanidade é preciso transitar pelo desconhecido de
nossos desertos existenciais em busca da água que nutre a nossa sabedoria. Não somos
seres imóveis. A metamorfose é parte da nossa essência, queiramos admitir ou
não.
Todos os dias somos
outros, impactados pelos altos e baixos da vida. Resta-nos posicionar sobre que
tipo de “outros” queremos ser. Viver é escolher, é arregaçar as mangas, é se
predispor a realizar, a transformar.
A Páscoa não é um
dia, ela é um processo diário e ininterrupto. De certo modo, ela define bem o
que deve ser a evolução humana, no propósito de garantir de maneira individual
e coletiva a chamada coexistência harmônica e pacífica.
Assim, quem sabe não tarde o momento em que acenderemos velas apenas por gratidão e respeito, ou
verteremos lágrimas apenas por emoções e sentimentos felizes, ou sairemos às
ruas apenas para celebrar as alegrias da vida.
Quando isso acontecer teremos, então, a
certeza de termos alcançado a nossa Páscoa em plenitude e rompido, definitivamente,
com a artificialidade dos ritos, os quais se seguiram por tanto tempo em sua
incapacidade ímpar de permitir que nossas asas pudessem se mover em meio a
insustentável leveza do ser.