Colocando os pingos nos
is
Por Alessandra Leles
Rocha
Para mim, mudanças repentinas de atitude só se justificam em
razão de algum distúrbio psicoemocional. Caso contrário, o bom e velho diálogo,
ou como dizem por aí “colocar os pingos nos is”, é a postura mais digna para
harmonizar o que eventualmente possa estar em desarmonia.
No mundo em que vivemos não é raro quem confunda “alhos com
bugalhos” e acabe saindo por aí, destilando o veneno da ira contra uns e
outros. Parecem até que gostam de remoer as diferenças, os mal entendidos, as divergências...
para não dar o braço a torcer e buscar em um bom “dedo de prosa” o
esclarecimento para uma dada situação. Um pretexto sem noção para, no fundo,
tornarem-se vitimas dos próprios ruídos da comunicação.
É; eu sei que comunicar não é lá tarefa muito fácil. Nem sempre
conseguimos nos fazer entender completamente. Precisa paciência, boa vontade, clareza,
etc.etc.etc. e, ainda sim, incorre-se no risco da coisa não funcionar muito
bem. Mas, não há outra forma de coexistir pacífica e harmonicamente se não for
assim; afinal de contas, não dá para ficar no meio do caminho de cara amarrada com
o beiço dependurado, o nariz torcido e a cachola fervendo em caraminholas
diversas. Isso só serve para causar estresse, infarto, e outras doenças mais.
Ora, sejamos uma vez sensatos e reconheçamos nossas
diferenças. Não somos cópia de carbono! Cada um é um; pensa diferente, sente
diferente, entende diferente. Não é possível, então, tirar conclusões
precipitadas e, em muitos momentos, descontextualizadas. Nem tampouco fazê-las
embasadas pelos olhares de terceiros.
Se algo te incomoda, fale. Não deixa para amanhã, sob a
fervura do tempo, que nesses casos não costuma ser bom conselheiro. Passe a limpo a história; retire toda e
qualquer dúvida que paire, como nuvem de tempestade, sobre sua cabeça. É conversando
que nós, seres humanos, nos entendemos. A vida é breve e não se deve desperdiça-la
com coisas tão desnecessárias.
Temos tido tão maus exemplos por aí, de gente que não sabe,
ou não se permite, ou não quer mesmo conversar, dialogar, com o semelhante. É assim,
simples assim, que começam os conflitos, as guerras, as barbáries. Pura ausência
de palavras verbalizadas, ditas olhos nos olhos, para se chegar a um
denominador comum.
É por isso que eu prefiro a franqueza, as cartas na mesa, o
diálogo aberto e sem meias palavras, sem desculpas para deixar para amanhã. Aí,
se tiver que discutir brigar contestar,... esse é o momento. Como uma
tempestade que depois de deixar fluir toda a água represada permite que o céu
se abra em estio. Assim, preserva-se o melhor da vida, do ser humano, das
relações. Como diz a canção, “Sentimento ilhado / morto, amordaçado / volta a
incomodar” 1. Então, não se esconda
atrás de máscaras, subterfúgios ou silêncios. Palavras não ditas podem sufocar.