Xi!
Quero só ver desatar esse nó!
Por
Alessandra Leles Rocha
Xi!
Quero só ver desatar esse nó! Falam tão mal do passado, tratam-no como velharia
sem sentido, apontam-no agruras de todos os tipos, pintam-no um quadro de total
ausência de progresso e desenvolvimento. Pois é! Mas para quem pensa que ele
ouve esses comentários sem contestar, engana-se! Nada de palavrões, murmúrios
ou muxoxos; afinal, o passado é bem educado e acredita que exemplos práticos
são mais eficazes do que centenas de milhões de palavras.
Desde
que ficou de pé, a raça humana não faz outra coisa senão criar moda. Descobriu o
fogo, aprendeu a caçar, desenvolveu vestimenta a partir da pele de animais,
começou a plantar,... tudo dentro de um processo lento e gradual pautado no equilíbrio
entre a necessidade real e a maquinação engenhosa do seu cérebro privilegiado. Foi,
foi, foi... até que um dia ele se esqueceu do equilíbrio e deixou a ousadia
extrapolar todos os limites; então, cá estamos nós na era da informação, da
tecnologia, do virtualismo e, sobretudo, do consumismo.
Sim!
O progresso e o desenvolvimento da humanidade nos entorpeceram os sentidos. Não
é de se estranhar se esse tal comportamento consumista lembra bastante os
efeitos das drogas. Nada mais nos satisfaz o querer por muito tempo; precisamos
de mais, mais e mais para ver se um fiapinho de felicidade nos causa arrepio. Com
ares de pré-história muita gente considera esquentar a comida no fogão um
atraso descomunal, quando basta colocar no micro-ondas para ficar tudo
quentinho em fração de segundos. Em dias quentes de verão em que água do
chuveiro sai naturalmente em temperatura aquecida, por causa da eletricidade ao
alcance das mãos, ninguém mais se lembra de desligar o chuveiro e resgatar os “tempos
da vovó”. O velho e bom hábito de escrever cartas e cartões, por exemplo, está
à beira da extinção por causa da praticidade do mundo dos computadores... É uma
dependência tão absurda que transformamos o cotidiano numa via crucis de fios, tomadas, interruptores, telas “touch screen”,
cabos e toda a parafernália eletroeletrônica disponível.
Apenas nos esquecemos de um mísero detalhe: a
grandiosidade de todo esse progresso e desenvolvimento tecnológico, o qual
tanto nos traz comodismo e certa agilidade no mundo contemporâneo, surgiu
intimamente dependente dos recursos naturais. É! Minerais que compõem a cadeia
de elementos constituintes do sistema eletroeletrônico, o plástico oriundo do petróleo
e que hoje representa um dos principais materiais utilizados na indústria, a
água e o carvão mineral dos quais se obtêm a energia elétrica para uso
individual e coletivo. Bem, mas em se tratando da Natureza, todo cuidado deveria
ser dispensado; afinal, já se sabe, ou pelo menos deveríamos saber, as reservas
são finitas!
A vida
não para, a população continua a crescer, o tempo corre e o progresso para não
ficar para trás seguiu o fluxo; mas, aqui no Brasil, só nos demos conta da
crise energética lá pelos anos 2000. Foi um chororô só, quando anunciaram que
seria preciso racionar energia! Mas, para não ter que pagar pelo excedente,
todo mundo seguiu a cartilha do racionamento direitinho! Lâmpadas incandescentes
substituídas por fluorescentes, banho contado no relógio, adeus as “chapinhas”
e secadores de cabelo, nada de micro-ondas, freezers desligados, ar
condicionado só em situações extremas, eletrodomésticos antigos e altos
consumidores de energia substituídos por novos com tecnologia sustentável,... enfim,
uma longa lista de boas mudanças de hábito.
Mas,
como a alegria da Natureza dura pouco, logo após o “susto” do racionamento
começaram a ressurgir as notícias da construção de novas hidrelétricas e termoelétricas
(que ajudam, mas são de altíssimo custo o qual é repassado nas tarifas aos consumidores),
fazendo transparecer que o risco de racionamento havia desaparecido como em um passe
de mágica: apagões nunca mais! Voltamos a gastar como antes, ou até pior, e nos
esquecemos de olhar para o Meio Ambiente!
Não
precisa ser expert em ambientalismo para ver a mudança climática que vem se desenvolvendo
ao longo dos anos caracterizada por catástrofes inimagináveis. No caso das
águas o desequilíbrio é total, graças ao derretimento das calotas polares, ao
aquecimento das aguas oceânicas e a alteração dos regimes pluviométricos em
todo o planeta. Já se fala abertamente sobre uma eventual escassez hídrica no
mundo; então, sem água não há como produzir energia elétrica.
Por
incrível que pareça a decisão sobre o futuro energético do planeta não está
apenas nas mãos governamentais, ela está principalmente em nossas mãos, nos
nossos hábitos. O governo brasileiro, por exemplo, pode até favorecer a criação
de novas fontes de energia elétrica a partir da energia solar e eólica, tão
abundantes em nosso território tropical; mas, se não nos conscientizarmos
individualmente sobre o modo que estamos conduzindo nosso consumo, nada
adiantará, pois estaremos retirando “água da canoa com dedal”!
No final
de dois mil e doze a população recebeu a noticia da redução no valor da tarifa
de energia elétrica a partir do ano seguinte 1.
Agora, já em dois mil e treze, recebemos a notícia de que os reservatórios de
água que abastecem as usinas estão muito abaixo dos limites necessários e que a
utilização das termoelétricas têm sido inevitável 2.
Para fugir da crise econômica mundial, o Brasil precisa movimentar a engrenagem
produção e consumo; só que, para tal, depende do equilíbrio na disponibilização
da oferta de sua reserva de energia elétrica. Como se configura o quadro atual,
talvez só haja êxito se a população for conclamada a fazer sua parte e reduzir
o consumo, ou melhor, aprender a consumir apenas o que for estritamente
necessário. Entretanto, dessa vez não seria apenas uma medida em curto prazo,
mas já se pensado na sustentabilidade do país e da população em médio e longo
prazo, porque ou usamos a luz da razão ou ficaremos no escuro graças às trevas
da ignorância!