Na corda bamba
Por Alessandra Leles
Rocha
Uma notícia aqui, outra ali. Fatos ocorridos
à luz de nossos olhos. Então, de repente, torna-se impossível não parar para
refletir e até se tomar por um sentimento de desânimo e tristeza 1. Apesar de todo ano ser uma caixinha de
surpresas, um sobe e desce de emoções e acontecimentos, há certas coisas que
não se alteram do ponto de vista prático da vida; compras no supermercado,
arrumações na casa, rotina de trabalho,... e o pagamento mensal das despesas
fixas (água, luz, telefone, plano de saúde etc.etc.etc.) e dos impostos.
Não sou especialista em economia e
finanças; mas, sou boa observadora do que acontece ao meu redor e, talvez, por
isso tantas questões me intrigam e ficam sem uma resposta satisfatória. Ano a
ano divulgam os órgãos governamentais os índices de inflação do país. Há quem
diga que ela está sob controle... 4 Mas, basta
uma breve corrida ao mercado para descobrir o “milagre da multiplicação dos
preços” de uma semana para outra ou solicitar a visita de um prestador de
serviços 5! Então, por que será que a carestia
aponta uma elevação bem superior aos dados divulgados?!
Fala-se muito sobre esforços em
combater a miséria no país; mas, basta sair dela para perceber o peso da carga
tributaria a incidir sobre o cotidiano do cidadão. Cada degrau que se tenta
subir na pirâmide social a mordida do fisco fica mais dolorosa, especialmente
no que diz respeito ao recolhimento do imposto de renda na fonte 6. Para começar, desde quando salário significa
renda?! Ora, salário é a paga recebida pelo exercício de uma função que visa
exclusivamente à manutenção das necessidades básicas do trabalhador (alimentação,
moradia, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social),
não um valor a ser acumulado ao longo do tempo para consolidação de riqueza.
Renda, ao meu modo de entender, significa aquilo que representa acúmulo de bem por
si só ou por constante valorização ao longo do tempo, como por exemplo:
aplicações financeiras, ações na bolsa de valores, imóveis para aluguel. Mas,
aqui na terra Brasilis, não há choro
e nem vela, mensalmente o desconto do IR está descrito no contracheque e no ano
seguinte, o contribuinte ainda é obrigado a fazer uma “declaração de ajuste”
para ver se não é possível tirar dele um bocadinho mais. Por essas e por outras,
já faz algum tempo que a estratificação social do país vem achatando, ou
melhor, fundindo e extinguindo algumas classes 7;
com a menor capacidade de contribuição do IR ocorre inevitavelmente uma sobrecarga
aos poucos que podem fazê-la 8.
Nessa corrida de gato e rato para se
manter nos trilhos, a população só faz exaurir as próprias forças, lutar contra
as marés. Não vemos o poder de compra ampliar com segurança, mas vemos a
capacidade de endividamento entornar; afinal, sobra mês e falta salário para
dar conta do recado. É! Um “recado” que deveria estar sendo oferecido, de forma
satisfatória, pelo próprio Estado; pois, não está escrito na Constituição
Federal de 1988 que “são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância,
a assistência aos desamparados”, então?! Pagamos dobrado, triplicado, pelo
mesmo serviço porque pagamos através dos impostos e de forma direta e
individual; por isso, a conta sempre fecha no vermelho.
Até quando equilibraremos a nossa sobrevivência
e a do Estado é difícil precisar! A pressão da conjuntura social e econômica do
país, bem como do mundo, nos comprime cada vez mais. Já passou da hora de rever
as práticas, de sanear as contas, de estancar os desperdícios e de gerir os
recursos de maneira responsável para que não havemos de assistir por aqui a
explosão de uma “bolha econômica”, como aconteceu nos Estados Unidos e diversos
países da Europa 9.