Liberdade:
o peso do relativismo!
Por
Alessandra Leles Rocha
Liberdade.
Definida, enquanto palavra, no dicionário 1;
estabelecida como direito na Declaração Universal dos Direitos Humanos 2; expressa intimamente no exercício da
condição humana. Ser humano é ser livre; estar não nos é suficiente! A
liberdade nos regula o oxigênio que percorre o corpo, a velocidade dos
pensamentos e ideias oriundos do cérebro em milhões de reações químicas, a
dimensão das emoções e dos sentimentos sobre a carcaça. Mas, apesar de tudo,
ser livre é ainda um projeto ambicioso e sem a certeza plena de ser alcançado!
Em
todos os séculos da história humana, lá está ela no centro das discussões! Isso
porque não se consegue consolidá-la em plenitude. As relações humanas e sociais
quase sempre esbarram nas individualidades; aí, a liberdade se vê em confronto
com outros ideais e necessidades. Além disso, faz-se fundamental o exercício do
bom senso, da lucidez e do discernimento para não macular e nem distorcer a
grandeza de ser livre. Mas, com tantas voltas e reviravoltas no mundo, a
liberdade anda bastante arranhada. Há muita gente por aí, acreditando que pode
agir a revelia de todos os protocolos, normas, diretrizes e legislações sociais,
porque são livres. De fato, a liberdade
nos coloca a mesa diversas opções: certo ou errado, bem ou mal, cuidar ou
destruir,... mas, para cada escolha ela também nos cobra um preço, o qual não
se costuma pagar individualmente, mas em coletivo.
O levante de ódio
religioso que se abateu nos últimos dias no Oriente Médio, em decorrência da divulgação de um “filme” produzido nos Estados Unidos que
satiriza o profeta Maomé 3, expõe
claramente o tênue “limite” da liberdade. A questão a ser analisada é: se cada
individuo é livre para professar a sua fé, por que razão transformá-la em
elemento de discórdia, intolerância, ou arma de propagação da violência?
Independente de qual seja a escolha religiosa, o desrespeito aos símbolos,
ritos e preceitos sagrados da fé é inadmissível. A crença envolve questões extremamente
complexas, as quais no caso específico do Islamismo estabelecem laços diretos
com o poder político: Religião e Estado se orientam a partir de uma mesma
diretriz. O pior é que, não bastasse esse episódio, na França 4 uma revista publicou uma charge também
ofensiva ao islã e na Alemanha 5 uma outra pretende
publicar, colocando os respectivos países em risco de represálias. Parece que a
grave crise econômica que se abateu pelo mundo, sobretudo os Estados Unidos e
vários países do continente Europeu, não é suficiente para desestabilizar o
equilíbrio; é preciso fomentar cada vez mais as turbulências e envolver
discussões de foro totalmente individual, como a religião e a fé. Por outro
lado, os excessos e desrespeitos praticados não outorgam aos muçulmanos o
direito de respondê-los com tamanha fúria extremista. Assim, a sobreposição das
divergências rompe quaisquer possibilidades de manutenção da liberdade de
ambos.
É! A
liberdade vive seu maior conflito de identidade: o descontrole dos egos. Ninguém
quer ouvir, ver ou falar em prol do consenso e da harmonia; o destempero ocupou
o território. Não é compreensível que pessoas se arvorem da própria liberdade
para interferir na liberdade alheia dessa forma! Onde está a racionalidade? O
que ganham com essas atitudes? Será esse abuso o grande mal da humanidade? Assim,
não é mesmo à toa que a liberdade se registre na maioria das mentes como um
sonho distante e inatingível, conceito em forma de poesia, palavra que por
desinteresse ou negligência permitimos acabar presa ao papel. A continuar nessa
toada, não nos espantemos se um dia, muito em breve, o peso do relativismo a
faça cair de fato em total inexistência.