quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Crônica de quarta-feira!!!


E quem disse que a Primavera é fácil?!


Por Alessandra Leles Rocha


Depois da hostilidade dos dias frios alternados com calor e sol intensos, a natureza se prepara para se restabelecer e cumprir seu papel mantenedor da vida. É assim, de modo silencioso e poético, que a Primavera chega para nos fazer pensar sobre a significância do ato de regenerar.
Galhos secos, desprovidos de folhas e frutos, o solo sem a devida cobertura vegetal,... o verde desbotado aos matizes do cinza se confunde com o panorama urbano, árido da sensibilidade natural que nos reconforta o cotidiano. Então, de repente nos perguntamos, quando é mesmo que podemos determinar a finitude das coisas?! Não há receita, nem manual, nem protocolo; simplesmente um sopro etéreo e enigmático corre sobre a vida e renova o que parecia ter chegado ao fim.
Das diminutas partículas acontece o espetáculo improvável, que confronta ao bom senso da realidade de tão poucas condições favoráveis. Teimosia da Natureza?! Não. Talvez responsabilidade, amor, comunhão, solidariedade com o todo que depende dela para não sucumbir; ela sabe bem, o quanto necessitamos do pão e do belo fornecido por seus elementos, para manter o equilíbrio da nossa existência.
Ainda que nossos olhos se percam na imensidão da pressa diária, dos compromissos, dos afazeres, das agendas, o restante dos sentidos percebe nitidamente a grande transformação em redor. A atmosfera rende-se a uma leveza, a um perfume, a um estado de beleza único que faz do céu e da terra um elemento de simbiose perfeita. O espetáculo das cores desafia os limites da aquarela, através das suas combinações e arranjos. A geometria das formas exibe o panorama da complexa simplicidade, enquanto nos faz refletir os extremos da criação.
Por isso, a impossibilidade de não rendição é nula! Salpicados em meio à tamanha revolução da natureza, os impactos desse exterior sobre o interior de cada individuo são inevitáveis. Leves ou extremos, isso pouco importa! Não são as roupas mais alegres, ou as cordialidades eventuais, ou as explosões de simpatia e sorrisos; a questão maior está na percepção de estarmos também nos regenerando. Sentir que podemos extrair de uma força desconhecida, que habita todos nós, as potencialidades capazes de colocar-nos um passo adiante no processo de evolução. E quem disse que a Primavera é fácil?! Podar, descamar as imperfeições é o caminho para permitir aflorar o que há de mais belo, puro e sagrado.
Êxito ou fracasso fazem parte da vida, das Primaveras! Portanto, não pensemos que tudo serão flores, ou sementes, ou frutos. Os dias continuam a cumprir seu rito, sol e lua a ensinar suas lições, sorrisos e lágrimas a desenhar nosso rosto; contudo, ao nos permitir essa regeneração trazemos à tona o ânimo, a esperança, a perseverança em quantidades suficientes para esperar pelo tempo e o privilégio de uma nova Primavera.