Vermelho no boletim!
Por Alessandra Leles Rocha
O resultado do IDEB – Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica - divulgado ontem 1 não
deveria nos causar desconforto ou nenhum espanto; afinal, há tempos o país
abandonou a excelência, o mérito, para apostar suas fichas no nivelamento da
sociedade pelo patamar mais baixo. O sistema está totalmente desconectado! Se
há escolas faltam professores. Se há professores faltam livros e merenda. Se
faltam professores os alunos deixam de frequentar a escola. Se o salário do
professor é ruim não adianta escolas, nem alunos, nem livros e nem merenda. ...
Não há projeto, não há metodologia, não há pesquisa, não há o que de jeito na
realidade que se apresenta!
A começar pelo sistema de progressão do ensino público
que não mais reprova o aluno no ensino fundamental, que motivação isso provoca
em discentes e docentes? Qualquer escola, quaisquer assuntos ou metodologias, quaisquer
infraestruturas,... nada mais faz sentido se os anos passam sem que haja uma
real avaliação. Nem informação, nem formação, nem cultura, nem conhecimento; apenas
alguns poucos, oriundos da rede pública de ensino, expressam o esperado para
esse grau de aprendizado.
Por isso, os índices de analfabetismo funcional no
país são cada vez mais estarrecedores. O modelo praticado no ensino fundamental
público produz um aluno para o ensino médio totalmente desmotivado e
incapacitado para uma abordagem mais aprofundada dos assuntos. Durante décadas e
décadas, a proposta curricular do ensino médio se baseou na preparação dos
alunos para o seu ingresso nas universidades. Infelizmente, não houve uma
preocupação com a formação desses indivíduos para outras escolhas futuras, como
cursos técnico-profissionalizantes, por exemplo. Mas a grande questão é que,
embora haja essa lacuna no ensino médio, a qual precisa sim ser suprida através
de uma reformulação no modelo vigente, para nenhum enfoque os alunos estão de
fato preparados.
É importante salientar que os números do IDEB
também estão presos a uma análise de apenas dois itens curriculares: Língua
Portuguesa e Matemática. Mas, o indicador deveria então, apontar a realidade na
sua devida dimensão. Seja nos bancos das universidades ou das empresas de
recursos humanos, a verdade é que milhares de brasileiros e brasileiras com
certificados do ensino médio e/ou superior trazem deficiências de aprendizagem gravíssimas.
Leitura e interpretação de texto, gramática e ortografia da língua portuguesa,
operações matemáticas básicas são a ponta de um iceberg que se aprofunda na insuficiência
de conhecimentos gerais em geografia, história e ciências, tornando-se barreiras
limitantes para ampliar o contingente de mão de obra qualificada no país 2. Isso sem contar que, na grande maioria
das escolas públicas, o aluno não tem acesso ao aprendizado de línguas
estrangeiras, como o inglês e o espanhol, por exemplo, nem de informática básica.
A aprovação escolar no Brasil varia entre seis e
sete, de acordo com a região; mas, estamos diante de valores totalmente reprováveis,
segundo o próprio IDEB. Educação é coisa séria e de extrema complexidade. Diante
de variações geográficas significativas, de parâmetros extremos entre a rede
pública e privada, da má formação docente, da precariedade de infraestrutura
escolar, dos baixos salários oferecidos aos diversos níveis de profissionais da
educação, o colapso do modelo vigente está visível. Enquanto muitos tentam
reparar suas deficiências educacionais retornando as escolas para melhorar a
qualificação; mais, se mascaram os problemas, pois novas legiões de estudantes recém-formados
no ensino médio e nas universidades chegam ao mercado de trabalho
despreparados, então, o círculo não se fecha.
Escolas em tempo integral, reformulação curricular
com ênfase técnico profissionalizante, uso de tablets são ideias interessantes;
contudo, nada disso faz sentido se os conteúdos básicos – Língua Portuguesa,
Matemática, Geografia, História, Ciências, Educação Física, Língua Estrangeira,
Informática - não forem bem aplicados, a começar pela alfabetização. Precisamos
de indivíduos que saibam pegar no lápis, escrever de forma cursiva (não apenas
em letra de forma), conhecer e utilizar os sinais de pontuação, ler para ter
boa argumentação; enfim... Monteiro Lobato disse que “um país se faz com homens
e livros”; mas, não distantes uns dos outros como tem acontecido até agora!