quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Crônica de quarta-feira!!!


Vermelho no boletim!


Por Alessandra Leles Rocha


O resultado do IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - divulgado ontem 1 não deveria nos causar desconforto ou nenhum espanto; afinal, há tempos o país abandonou a excelência, o mérito, para apostar suas fichas no nivelamento da sociedade pelo patamar mais baixo. O sistema está totalmente desconectado! Se há escolas faltam professores. Se há professores faltam livros e merenda. Se faltam professores os alunos deixam de frequentar a escola. Se o salário do professor é ruim não adianta escolas, nem alunos, nem livros e nem merenda. ... Não há projeto, não há metodologia, não há pesquisa, não há o que de jeito na realidade que se apresenta!
A começar pelo sistema de progressão do ensino público que não mais reprova o aluno no ensino fundamental, que motivação isso provoca em discentes e docentes? Qualquer escola, quaisquer assuntos ou metodologias, quaisquer infraestruturas,... nada mais faz sentido se os anos passam sem que haja uma real avaliação. Nem informação, nem formação, nem cultura, nem conhecimento; apenas alguns poucos, oriundos da rede pública de ensino, expressam o esperado para esse grau de aprendizado.
Por isso, os índices de analfabetismo funcional no país são cada vez mais estarrecedores. O modelo praticado no ensino fundamental público produz um aluno para o ensino médio totalmente desmotivado e incapacitado para uma abordagem mais aprofundada dos assuntos. Durante décadas e décadas, a proposta curricular do ensino médio se baseou na preparação dos alunos para o seu ingresso nas universidades. Infelizmente, não houve uma preocupação com a formação desses indivíduos para outras escolhas futuras, como cursos técnico-profissionalizantes, por exemplo. Mas a grande questão é que, embora haja essa lacuna no ensino médio, a qual precisa sim ser suprida através de uma reformulação no modelo vigente, para nenhum enfoque os alunos estão de fato preparados.
É importante salientar que os números do IDEB também estão presos a uma análise de apenas dois itens curriculares: Língua Portuguesa e Matemática. Mas, o indicador deveria então, apontar a realidade na sua devida dimensão. Seja nos bancos das universidades ou das empresas de recursos humanos, a verdade é que milhares de brasileiros e brasileiras com certificados do ensino médio e/ou superior trazem deficiências de aprendizagem gravíssimas. Leitura e interpretação de texto, gramática e ortografia da língua portuguesa, operações matemáticas básicas são a ponta de um iceberg que se aprofunda na insuficiência de conhecimentos gerais em geografia, história e ciências, tornando-se barreiras limitantes para ampliar o contingente de mão de obra qualificada no país 2. Isso sem contar que, na grande maioria das escolas públicas, o aluno não tem acesso ao aprendizado de línguas estrangeiras, como o inglês e o espanhol, por exemplo, nem de informática básica.
A aprovação escolar no Brasil varia entre seis e sete, de acordo com a região; mas, estamos diante de valores totalmente reprováveis, segundo o próprio IDEB. Educação é coisa séria e de extrema complexidade. Diante de variações geográficas significativas, de parâmetros extremos entre a rede pública e privada, da má formação docente, da precariedade de infraestrutura escolar, dos baixos salários oferecidos aos diversos níveis de profissionais da educação, o colapso do modelo vigente está visível. Enquanto muitos tentam reparar suas deficiências educacionais retornando as escolas para melhorar a qualificação; mais, se mascaram os problemas, pois novas legiões de estudantes recém-formados no ensino médio e nas universidades chegam ao mercado de trabalho despreparados, então, o círculo não se fecha.
Escolas em tempo integral, reformulação curricular com ênfase técnico profissionalizante, uso de tablets são ideias interessantes; contudo, nada disso faz sentido se os conteúdos básicos – Língua Portuguesa, Matemática, Geografia, História, Ciências, Educação Física, Língua Estrangeira, Informática - não forem bem aplicados, a começar pela alfabetização. Precisamos de indivíduos que saibam pegar no lápis, escrever de forma cursiva (não apenas em letra de forma), conhecer e utilizar os sinais de pontuação, ler para ter boa argumentação; enfim... Monteiro Lobato disse que “um país se faz com homens e livros”; mas, não distantes uns dos outros como tem acontecido até agora!