Os novos ares da realeza
Por Alessandra Leles Rocha
Distante de quaisquer gestos de alienação ou indiferença à realidade do mundo, nada melhor do que por alguns instantes repousar na alegria contagiante do casamento real entre o príncipe William e a plebeia Kate Middleton. O conto de fadas contemporâneo que soprou novos ares sobre a charmosa e tradicional monarquia britânica ecoou além das altas montanhas do velho mundo para o restante do planeta. Cientes de que o mundo não é cor-de-rosa e nem a felicidade algo inatingível aos solavancos naturais da vida, ainda sim, esse acontecimento nos resgata a promessa de dias mágicos envoltos pela euforia dos preparativos. O foco de repente mudou para o lado bonito da vida; nada de guerras, ou conflitos, ou tragédias, nossa alma merece um pouco que seja de alento e emoção.
Na busca da construção de um projeto de vida a dois, repleto do entusiasmo e da identidade impressa pela juventude, daquela vontade infinita de que tudo dê certo, das declarações de afeto, de amor e de cumplicidade que saem dos lábios e comovem o mais profundo do ser, fomos todos convidados a embarcar nessa história e revirar a própria memória para reencontrar esses sentimentos talvez esquecidos.
Em meio a essa efervescência há os que julgam e condenam piegas todas as manifestações em torno desse momento da monarquia britânica; bem como, quaisquer outros que tenham como pano de fundo os sentimentos e as emoções humanas. Dizem que não há tempo para se perder com superficialidades e sentimentalismos banais. Vivem do realismo visceral, se contorcendo e gemendo aos açoites da vida contemporânea e aos apelos da frieza tecnológica e desenvolvimentista. Agem como se o amor, o companheirismo, a cumplicidade, o casamento ou as relações afetivas fossem artigos restritos ao universo das letras ou dos meios de comunicação. Mas, há os que agradecem esfuziantes a oportunidade de vivenciá-las. Está no ar, na atmosfera, independente se você foi convidado ou não para a cerimônia, para a festa, para o baile. Pessoas estão genuinamente felizes, e isso é motivo mais do que suficiente para comemorar, num mundo em que tem sido cada vez mais raro ser feliz! Enquanto o mal consegue a façanha de exalar a repulsa e a separação, o bem em todas as suas formas exerce a qualidade de unir e se propagar entre os viventes.
Suspensa por fios invisíveis e brilhantes, a felicidade ganha formas e alimenta nossos sonhos, como quando abríamos os livros de contos de fadas e nos maravilhávamos com cada quadro da história. Na vida real, ela se transforma na especulação sobre como será o vestido da princesa, quais flores ornarão a Abadia de Westminster, qual será o cardápio da festa, quem conseguirá o buquê da noiva,... os detalhes que serão guardados caprichosamente nos sonhos daquelas que almejam com o seu “dia de princesa”, mesmo que tudo seja muito mais simples e menos requintado. Inspiração. Apenas isso para nos transportar acima das adversidades, das tristezas e nos realimentar de esperanças e planos.
Depois de amanhã tudo volta ao normal, ao rito das obrigações diárias, ao nosso compromisso inadiável com a realidade; mas, ainda que chova, que os ventos soprem insistentemente, que a pressa nos tome de assalto os segundos, um arco-íris estará teimosamente sorrindo no infinito. A monarquia britânica espalhou uma alegria até então desconhecida pelo mundo e construiu silenciosa e respeitosamente uma ponte importante e moderna de convivência com seus súditos. A Inglaterra do terceiro milênio se estabelece com mais confiança e total dimensão sobre as necessidades que clamam dentro e fora de seu território e tende a caminhar no compasso das mudanças que se fizerem necessárias.