terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Dia Internacional dos Direitos Humanos

Dia Internacional dos Direitos Humanos

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Há tempos venho me questionando sobre quais os motivos que levam os Direitos Humanos a causarem tamanho desconforto e mal-estar entre muita gente, por aí. Até que, de repente, entendi que falar sobre tais direitos é um ato que expõe a dimensão do nosso fracasso civilizatório.

Sim, porque apesar de todas as tentativas de domesticação e civilização, o Homo sapiens permanece o bárbaro, o primitivo, de sempre. Com especial atenção para a contemporaneidade, quando ele encontrou um discurso de legitimação para o seu individualismo, o seu egoísmo, o seu narcisismo e a sua ânsia por liberdade sem limites.

Razão pela qual estamos diante de uma luta explícita entre a indignidade e os Direitos Humanos. Enquanto ela promove um verdadeiro tsunami de desumanização na sociedade, eles tentam, a duras penas, permanecer o farol de segurança e acolhimento da população; sobretudo, das camadas mais frágeis e vulneráveis, em tempos caóticos.

E isso acontece porque existe uma construção discursiva histórica que obstaculiza a compreensão de que os Direitos humanos significam um direito meu, um direito seu, um direito nosso. Ora, essa ideia desconstrói a possibilidade de se justificar as desigualdades no mundo! Em síntese, ela representa um abalo nas regalias, privilégios e poderes, das classes historicamente dominantes.

Afinal de contas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), publicada em 10 de dezembro de 1948, em seus 30 artigos não estabeleceu hierarquias de raça, credo, gênero, escolaridade, status, ... Falou-se estritamente sobre e para os seres humanos. Os indivíduos foram, portanto, igualados na sua condição existencial, porque é isso o que realmente importa. Cada vida que chega a esse mundo tem as mesmas demandas fundamentais para sobreviver, de modo que está nesse contexto o real ponto de análise.

Embora, a DUDH não nasceu para ter força de lei, pelo menos, ela sempre buscou exercer o papel fundamental de delinear um roteiro para que haja uma conscientização social sobre a necessidade da manutenção da dignidade humana. Abordando os direitos e liberdades individuais, sociais, políticos, jurídicos e nacionais dos indivíduos, ela estabelece uma consciência em torno das responsabilidades e compromissos com a coletividade humana.

O que me parece ser um ponto nevrálgico para que diversos espectros dentro da sociedade manifestem tamanho desprezo ou ódio em relação aos Direitos Humanos.  Considerando o grau de importância e desimportância social atribuído a certas parcelas da população, a dignidade, em seus mais diferentes aspectos, se torna uma questão não acessível a todos. Como se ela pudesse ser apropriada por uns em detrimento de outros. Daí ao longo da história nos depararmos com situações de exploração, de trabalho análogo à escravidão, de desumanização.

Algo difícil de compreender e aceitar, na medida que subtrai do ser humano qualquer sinal de empatia, de alteridade, de respeito, que deveriam ser intrínsecos à sua natureza. Mas, infelizmente, tal comportamento está disseminado por todo o planeta, de uma maneira trivializada, banalizada, naturalizada. Trazendo a impressão de que muitos indivíduos estão, de fato, perdendo a capacidade de reconhecer a sua humanidade no outro. O que torna as expressões da desumanização contemporânea cada vez mais aterrorizantes e brutais. Basta se debruçar sobre as notícias estampadas pelos veículos de comunicação e de informação, para se ter a dimensão a respeito.

Como escreveu Carlos Drummond de Andrade, “Os direitos do homem são muitos, e raro o direito de gozar deles. Nem todo homem tem direito a conhecer seus direitos”. Esse é o contexto da reflexão a ser desenvolvida por cada indivíduo. Na análise crítica do seu papel individual sobre o coletivo, no sentido de aceitar, de concordar e, até mesmo, referendar, todo tipo de absurdos cometidos contra os seus semelhantes. Afinal, “A injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar” (Martin Luther King Jr.).