CONSUMO...
Por
Alessandra Leles Rocha
Hoje é um dia bastante oportuno
para a reflexão a respeito do consumo consciente. Quando incorporamos
estratégias consumistas, largamente utilizadas em outros países, esquecemos de
observar certos detalhes fundamentais. A começar pelas diferenças socioeconômicas
que marcam as realidades.
Sim, o primeiro ponto de análise aborda
as desigualdades. A estimulação do consumismo em países afetados por esses
abismos socioeconômicos, não só expõe os cidadãos a uma corrida frenética pela
constante aquisição de bens, produtos e serviços, como estabelece fronteiras
subjetivas para o pertencimento social. O Ter se transforma, portanto, em
palavra de ordem.
Milhares de pessoas começam a ultrapassar
os seus limites orçamentários, físicos e mentais para atingir as metas que os
possibilitem acompanhar a avalanche de novidades trazidas pelo mercado. Seus propósitos
de vida acabam condicionados pelo consumo, o que fomenta uma crise inevitável
de fastio ou de insatisfação, na medida em que é um caminho sem fim, sem
limites. O que significa algo extremamente viciante ao mesmo tempo em que
exaustivo, extenuante, sob diferentes aspectos.
Contudo, não para por aí. O comportamento
consumista afeta diretamente o espaço geográfico do planeta e o equilíbrio socioambiental.
Um bom exemplo para compreender essa questão está em matérias, tais como “Lixões
persistem e coleta seletiva ainda não é universal: IBGE revela como o Brasil
lida com resíduos” 1 , “’Lixo do mundo’: o
gigantesco cemitério de roupa usada no deserto do Atacama” 2,
e “Os segredos revelados pelas ilhas de lixo formadas nos oceanos” 3.
Queiram ou não aceitar, o consumo
excessivo e desinteligente é flagrantemente incompatível com o bem-estar do
planeta e da população. Veja, a maioria
dos produtos possui um tempo de decomposição superior à expectativa de vida dos
seres vivos. De modo que as áreas de descarte e aterro consomem espaços geográficos
importantes para a dinâmica cotidiana, incluindo áreas de vegetação nativa que
auxiliam no ciclo hidrológico. Sem contar, a diversidade de contaminantes que
passa a penetrar no solo e nos cursos d’água, durante o processo metamórfico
dos resíduos. Portanto, alguns lugares se tornam impossibilitados de permitir
um reaproveitamento espacial pela população.
Muitos se esquecem ou não se dão
conta, também, de que a produção industrial por si só, já resulta no consumo de
recursos naturais, especialmente, a água. Cada produto consumido é fruto de
processos os quais, nem sempre, são planejados de maneira sustentável e de
menor potencial degradante. Além disso, a própria engenhosidade produtiva
resulta em novos resíduos e efluentes a serem descartados na atmosfera, no solo
e nas fontes hídricas, sem que se respeite eventuais medidas de controle e
mitigação.
Daí a necessidade de se REPENSAR
o consumo, analisando criticamente as nossas prioridades, inclusive, pelo nosso
ponto de vista cidadão, que extrapola o individualismo para exercitar um olhar mais
coletivo. Essa consciência RESPONSÁVEL não significa abolir o consumo,
por completo. Temos necessidades e precisamos supri-las. No entanto, isso pode
ser feito de uma maneira inteligente.
Podemos, por exemplo, RECUSAR
os excessos. Se por um lado, as promoções do tipo “leve 3 pague 2”
parecem economicamente atraentes e viáveis, por outro, elas nos levam a
consumir um volume de produtos desnecessário. O que muitas vezes, acaba
ocasionando em perdas do prazo de validade e mais resíduos para descarte. Uma
lista de compras bem planejada, pensada, permite REDUZIR não só os gastos,
como, também, as falsas demandas.
Por isso, na hora de elaborá-la,
vale um olhar atento sobre o que se pode REUTILIZAR, RECICLAR e RESTAURAR.
São muitas as publicações e reportagens disponíveis, a respeito dessas estratégias
sustentáveis. Termos como upcycling 4
e downcycling 5 já são
uma realidade na consolidação da chamada moda ecológica ou eco-friendly.
Afinal, o objetivo é fazer com que a população estabeleça uma consciência sobre
o seu papel na minimização do impacto ambiental tanto na produção quanto no
consumo.
E esses comportamentos, não dizem
respeito somente à moda. Eles cabem em qualquer segmento da vida cotidiana. Utensílios
domésticos. Decoração. Mobiliário. Material escolar. Cozinha. ... Basta um
bocado de atenção ao ambiente em que se está inserido e uma boa pitada de
criatividade, para colocar em movimento essas práxis.
Assim, pensando sobre todas essas
questões, é impossível não lembrar das palavras da poetisa Cecília Meireles: “É
preciso amar as pessoas e usar as coisas e não, amar as coisas e usar as
pessoas”. Sim, porque é nesse sentido que o consumismo tem conduzido
milhões de seres humanos. A uma hipervalorização da monetização e da
mercantilização das coisas e das pessoas, como se tudo pudesse ser despojado de
ética e de moral, para atender aos desejos insaciáveis da sociedade de consumo.
1 https://g1.globo.com/meio-ambiente/noticia/2024/11/28/lixoes-persistem-e-coleta-seletiva-ainda-nao-e-universal-ibge-revela-como-o-brasil-lida-com-os-residuos.ghtml
4 É
o termo dado para a transformação de um produto que iria ser descartado, em um
novo produto pronto para o uso.
5 É uma solução prática e importante para reaproveitar e reutilizar matéria-prima que não poderia ser reciclada de outra forma, acabando num aterro ou incinerada.