Os eventos
socioambientais extremos fora da pauta eleitoral
Por Alessandra
Leles Rocha
Não, não foi surpresa; mas, foi
decepcionante que as campanhas eleitorais municipais, esse ano, não tenham dado
nenhuma atenção à realidade dos eventos socioambientais extremos. Afinal, já
alcançamos um patamar em que se torna impossível permanecer dissociando esse
assunto das demais questões cotidianas.
Tudo é atravessado pelo meio
ambiente, na medida em que nos apropriamos dele, enquanto civilização, para
construir a dinâmica da nossa existência planetária. Fazemos o uso e a ocupação
dos espaços geográficos. Produzimos cidades. Estabelecemos planos de gestão
urbanística. Desapropriamos terras e imóveis. Garantimos a existência de
grandes latifúndios. Enfim...
No entanto, a historicidade desse
processo não veio acompanhada da preservação e conservação ambiental. Ao
contrário, como topo de cadeia, o ser humano se arvorou do direito de escolher
e decidir, sem levar em consideração o meio ambiente, no que diz respeito aos
recursos naturais e ao equilíbrio dos ecossistemas. E deu no que deu, essa era
antropocêntrica!
Queiramos ou não admitir, o grau
de tensionamento imposto pelas ações antrópicas sobre o meio ambiente vem
desencadeando uma crise de fenômenos extremos, numa escalada vertiginosamente
ameaçadora à sobrevivência humana. Bem, sem o ser humano não há cidades,
comércios, indústrias, escolas, espaços de cultura e lazer, empregos, ...
O que significa que as discussões
socioambientais deveriam ser imprescindíveis para os gestores públicos.
Sobretudo, os gestores municipais que são a ponta de lança das ações imediatas;
pois, estão mais próximos das ocorrências e da população. Mas, isso não
aconteceu, pelo menos, não da maneira que deveria!
Plantar árvores, investir no
tratamento de água e esgoto, fazer coleta seletiva, instituir a educação
ambiental nas escolas, promover a gestão de resíduos sólidos e efluentes, ...
são medidas básicas e obrigatórias de qualquer gestão pública contemporânea.
A frustração advém do fato da não
existência de projetos e planejamentos socioambientais capazes de auxiliar na
prevenção e na mitigação dos eventos extremos que vêm ocorrendo. Começando pelo
diagnóstico ambiental, o qual consiste em identificar todos os impactos
possíveis e prováveis de ocorrência nas cidades.
Feito isso, estabelecer os
objetivos e metas, ou seja, determinar de maneira realista e alcançável as
ações a serem empreendidas. Em seguida, priorizar as medidas preventivas, as
quais contemplam práticas de cautela em relação aos impactos socioambientais.
Só assim, é possível desenvolver o plano de ações proposto, considerando os
custos, o prazo de execução das metas e a responsabilidade técnica para cada
atribuição.
Por fim, se chega à implementação
e ao monitoramento, a fim de avaliar por meio de indicadores e análises
estatísticas, o progresso do planejamento em si. O que significa, então,
identificar eventuais problemas ou desafios, propondo ajustes e melhorias que
possibilitem uma reformulação e/ou atualização do plano. Distante desse cenário
não existe, portanto, uma discussão efetiva sobre eventos socioambientais
extremos.
Acontece que negar, invisibilizar
ou omitir a realidade, não muda o que está acontecendo. Embora, seja difícil
precisar, tudo pode acontecer no contexto da realidade contemporânea. Tornados.
Enchentes. Incêndios. Seca. Inundações. Deslizamentos de terra. Escassez
hídrica. Assoreamento dos cursos d’água. Amplitudes térmicas extremas. Calor
demasiado. ...
Daí a necessidade de
planejamentos estratégicos estabelecidos pela consciência de que a governança,
a partir de agora, tem que se ajustar preventivamente às crises que possam se
instalar e não, ao contrário. Sobretudo,
do ponto de vista orçamentário.
É preciso reconhecer que o tempo
tem nos dado, cada vez menos, oportunidade de persistir errando quanto as
escolhas das nossas prioridades. A sobrevivência humana é um bom exemplo!
Garantir que possamos estar vivos dignamente, amanhã, deveria estar no topo da
lista. Só que não. Nossos gestores estão preocupados com juros, inflação,
redução de gastos e investimentos, conchavos, disputas de poder, ... De modo
que o essencial se perde nesse redemoinho.
Enquanto isso, o mundo vai
girando, rodopiando, deslizando silenciosamente na imensidão azul, tentando se
moldar aos eventos socioambientais extremos, que nos colocam em uma iminente
corda bamba sem redes proteção, sem um pacto fechado com o futuro.
Assim, reflita sobre as palavras
de Paulo Coelho, “O guerreiro da luz aprendeu que Deus usa a solidão para
ensinar a convivência. Usa a raiva para mostrar o infinito valor da paz. Usa o
tédio para ressaltar a importância da aventura e do abandono. Deus usa o
silêncio para ensinar sobre a responsabilidade das palavras. Usa o cansaço para
que se possa compreender o valor do despertar. Usa a doença para ressaltar a
benção da saúde. Deus usa o fogo para ensinar sobre a água. Usa a terra para
que se compreenda o valor do ar. Usa a morte para mostrar a importância da
vida” 1.