Quando o
silêncio grita ...
Por Alessandra
Leles Rocha
Os céus do Brasil cobertos por uma
densa fumaça de queimadas. Biomas ardendo em chamas. Animais silvestres morrendo
sedentos e queimados. Cidades ameaçadas pelo fogo. Grandes extensões agrícolas destruídas
pelos incêndios. Rebanhos cercados pelas labaredas. ... Esse é o cenário
nacional em 2024.
Que os eventos extremos do clima
estão aí, a ciência não se cansou de avisar! Que a baixa umidade e a escassez hídrica
para certas regiões brasileiras, nesse período anual, também, não é novidade para
ninguém!
De modo que a incidência de focos
de incêndio, de forma muito pontual e esporádica, poderia realmente acontecer. Mas,
não é esse o caso. O país foi tomado pelo fogo, de forma simultânea e
avassaladora, ou seja, criminosa.
É certo que toda a população vem
sendo afetada, em diferentes formas. Mas, chama bastante atenção o fato de que o
agronegócio, profundamente atingido por essa crise, não tenha se manifestado
publicamente a respeito.
Bem, mesmo sabendo que muitos de seus
integrantes são opositores ferrenhos às práxis sustentáveis da Economia Verde,
a gravidade da situação impõe uma conduta mais pragmática e realista. Aliás,
porque o silêncio, nessas horas, diz tanto quanto as palavras em si. O silêncio
não fala, ele grita.
Por trás de toda ação há sempre
uma intenção. No caso desses incêndios criminosos há sim, uma dose de
tensionamento sobre a economia, desequilibrando a oferta e a procura de
alimentos, impulsionando uma possível elevação inflacionária.
Mas, não fica nisso. Há, também, uma
franca tentativa de desmoralização do protagonismo brasileiro em relação à
defesa das pautas ambientais e de sustentabilidade, no cenário global. Afinal,
há quem não queira que seus meios de produção estejam associados às
preocupações de inclusão social, consumo consciente e preservação ambiental.
Lamentavelmente, as elites
brasileiras do século XXI, em significativa parcela, pensam exatamente como
seus antepassados do século XVI. Não enxergam um palmo a frente do nariz! Não se
permitem acompanhar os avanços e as discussões científicas, quando essas não
coadunam exatamente com o seu pensamento e/ou interesse. Mantendo-se arraigados
às velhas práxis produtivas, totalmente desalinhadas às demandas contemporâneas.
Não importa se estão certos. Não importa
o grau de limitação do seu conhecimento. Não importa a força da realidade a luz
dos seus olhos. Não importa. ...
Essas pessoas estão presas à uma
teia histórica de princípios e convicções retrógrados; já desconstruídos e reconstruídos
pelo desenvolvimento científico. Mas, elas precisam manter o peso da sua
opinião, a autoridade do seu poder, a força da sua supremacia.
Acontece que dentro desse cenário
todos perdem! Enganam-se ao pensar que estão arranhando e desqualificando isoladamente
a imagem do governo.
Cada segmento social é
responsável pela imagem que produz a partir das suas escolhas, das suas
condutas, das suas decisões, dos seus discursos.
Governos vêm e vão. O país fica. A
sociedade fica. Os problemas ficam. De modo que, no campo da diplomacia ou do
comércio exterior, é esse entendimento que prevalece.
Olhando para os interesses do
agro brasileiro, ardendo em chamas, posso imaginar como os concorrentes
estrangeiros estão, no mínimo, satisfeitos. Perdas aqui. Lucros gigantescos aos
que puderem suprir o Brasil.
Pagaremos caro, por isso? Sim. Mas,
os grandes produtores também terão muito que pagar, considerando as dívidas de empréstimos
com o governo, para uma safra que, de repente, virou fuligem, diante do fogaréu.
Números que irão impactar diretamente no Produto Interno Bruto (PIB) em que
suas produções figuram.
Já dizia a Fábula da Ratoeira, de Esopo, “Na próxima vez que você ouvir dizer que alguém está diante de um problema e acreditar que o problema não lhe diz respeito, lembre-se que quando há uma ratoeira na casa, toda fazenda corre risco. O problema de um é problema de todos”.