Hostilidade
e beligerância eleitoral
Por Alessandra
Leles Rocha
A hostilidade e a beligerância sempre
marcaram as disputas eleitorais no Brasil. No entanto, com o advento das
Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs), a escalada desse movimento
vem atingindo patamares cada vez mais perigosos e antiproducentes ao verdadeiro
debate de ideias.
Recortes midiáticos, Fake News e
outras estratégias, então, favorecem ao profundo esgarçamento da proposição dos
planos de governo. A busca por likes e compartilhamentos parece ser o objeto
central das campanhas eleitorais em detrimento da discussão sobre as demandas
sociais.
Mas, não bastasse isso, uma certa
omissão silenciosa, por parte da Justiça Eleitoral, em relação às condutas de
certos candidatos e seus históricos pregressos, recheados por práxis delituosas,
precisa ser questionada. Afinal, tal flexibilização permissiva do judiciário
brasileiro contribui sim, para a consolidação de verdadeiras arenas de
vale-tudo.
Começam pela violência verbal e
atingem as vias de fato em um piscar de olhos. Assim, ao invés de promover suas
plataformas de governo, o que explode em suas redes sociais é a visualização da
verborragia e de todos os tipos de manifestações de vulgaridade. De modo que a
campanha eleitoral tem se transformado em monetização do absurdo, da
irracionalidade, do despautério.
O que, infelizmente, acontece pelo
excesso de cautela da Justiça brasileira para punir candidatos e respectivos
partidos políticos. Aliás, os veículos de comunicação e de informação
trouxeram, no fim de semana, a notícia de que três procurados da Justiça, pelos
atos criminosos em 08 de janeiro de 2023, se lançaram candidatos e faziam
campanha sem serem presos. Antes disso, circularam notícias a respeito de organizações
criminosas que vêm trabalhando para eleger representantes no cenário-político
partidário.
Pois é, essa é a tecitura
representativa que o país vem construindo. Ela acentua os piores valores e princípios
existentes. Está fazendo uma aposta perigosa no “quanto pior melhor”. Algo
que escancara a despreocupação total com a solução dos problemas que afetam
milhares de pessoas todos os dias. Enquanto, uns e outros, por aí, focam na exaltação
dos seus próprios interesses.
Tão atuais as palavras de Rui Barbosa,
quando escreveu que “Creio que a ordem não pode florescer, senão no seio da
estabilidade e da justiça. Mas vejo os depositários da ordem respirarem
deliciosamente na agitação, animando-a, promovendo-a, propagando-a, e sinto
empolarem-se, cada vez mais acirradas, as paixões políticas, em que a vida
oficial parece comprazer-se” 1. Afinal,
é exatamente isso o que temos bem diante dos olhos.
Há alguns anos que a sociedade
vem falando a respeito da fragilização democrática, justamente, porque as “Democracias
podem morrer não nas mãos de generais, mas de líderes eleitos – presidentes ou primeiros-ministros
que subvertem o próprio processo que os levou ao poder” (Steven Levitsky – Como
as Democracias Morrem, 2018). Daí a
necessidade de atenção ao contexto político-eleitoral em todos os seus níveis
de organização. Todos têm responsabilidade com a defesa da Democracia, do Estado
de Direito, da Cidadania.