quarta-feira, 4 de setembro de 2024

As regras do jogo ...

As regras do jogo ...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Enquanto as cabeças fervilham na tentativa de compreender o cabo de guerra que se estabeleceu entre um multimilionário, naturalizado estadunidense, e a Suprema Corte brasileira, a história deixa clara as intenções.

Alvo da disputa, a tal rede social, que pertence ao multimilionário e está suspensa no Brasil, por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), foi adquirida com o propósito de ser um instrumento de voz para a ultradireita global.

Não é à toa que, tão logo assumiu o controle da empresa, a qual havia banido a conta do ex-Presidente, e agora, candidato à Presidência dos EUA, não só fez o convite para que ele retornasse à rede social; mas, recentemente, demonstrou total apoio à sua candidatura, pelo Partido Republicano.

Mas, como é de conhecimento público, as eleições estadunidenses tiveram um verdadeiro plot twist, com a indicação da atual Vice-Presidente, como candidata à Presidência, pelo Partido Democrata. De modo que o protagonismo discursivo do processo eleitoral, desde então, passou a ser dela.

Considerando as visitas de congressistas da ultradireita brasileira aos EUA, em 2023, para apontar perseguição política, regime ditatorial e outros absurdos, em sessão no Congresso Americano; bem como, a explícita simpatia devotada ao referido multimilionário, não surpreende o que vem acontecendo.

O Brasil é o pretexto para construir uma cortina de fumaça monumental e desviar as atenções, em relação à candidata Democrata, na campanha eleitoral dos EUA.

Valendo-se do desserviço prestado pelos congressistas brasileiros, o multimilionário utiliza dessas informações para afrontar à soberania do Brasil. Fazendo com que, interna e externamente, os olhos se voltem para uma disputa de força.

Como resposta de agradecimento à ultradireita brasileira, o multimilionário acena com narrativas de apoio a uma manifestação convocada por ela, no 7 de setembro.

Uma demonstração clara da incapacidade de alguns brasileiros em entender o seu papel subserviente e de massa de manobra para interesses estadunidenses, mais uma vez.

O que se demonstra a partir desse episódio é que certos brasileiros aceitam sim, que qualquer um venha afrontar o seu país, desrespeitar as suas leis e instituições, dar pitacos aleatórios sobre o que quer que seja. Como se a dignidade nacional fosse rasa e demasiadamente flexível; sobretudo, diante do poder econômico do outro.

Mas, voltando ao cerne da questão, apesar de toda a bravata despejada nas redes sociais, não demorou muito para que o multimilionário se movimentasse alguns passos atrás, em relação à sua empresa de comunicação por satélite.

Por ordem do STF, ela não só teria seus bens bloqueados para pagamento de multas geradas pela tal rede social, como não poderia liberar o acesso dos usuários à mesma. Lembrando que as duas empresas pertencem ao mesmo conglomerado de negócios do referido multimilionário.

No entanto, não parece que foram esses os motivos da recuada. Segundo informações divulgadas à imprensa, o Tribunal de Contas da União (TCU) abriu investigação por suposta ilegalidade em licitação dessa empresa de comunicação por satélite, com o Comando Militar da Amazônia. Há indícios de um possível favorecimento no contrato firmado entre a empresa e o grupamento militar.

Além disso, é importante salientar que a promessa de oferecer internet para escolas desconectadas em áreas rurais da Amazônia Legal brasileira não se cumpriu, segundo informações do Ministério da Educação e Secretarias Estaduais.

E se a empresa já atende clientes privados em 697 municípios dessa região, também já se sabe que ela impulsiona atividades ilegais, como a mineração, levantando questões sobre segurança e soberania nacional 1.

Daí a necessidade de parar e refletir profundamente sobre o que está em jogo.  Em qualquer lugar do mundo que você chegue para se estabelecer, tem que cumprir o que determinam as leis, os protocolos, as etiquetas, daquele país.

Portanto, quando se decide deslocar para esse ou para aquele lugar social não se pode esquecer essas questões. Elas significam estar sob uma nova ordem social, com outras crenças, valores, princípios e convicções. Essas são as regras do jogo.