As regras
do jogo ...
Por Alessandra
Leles Rocha
Enquanto as cabeças fervilham na
tentativa de compreender o cabo de guerra que se estabeleceu entre um
multimilionário, naturalizado estadunidense, e a Suprema Corte brasileira, a
história deixa clara as intenções.
Alvo da disputa, a tal rede
social, que pertence ao multimilionário e está suspensa no Brasil, por ordem do
Supremo Tribunal Federal (STF), foi adquirida com o propósito de ser um
instrumento de voz para a ultradireita global.
Não é à toa que, tão logo assumiu
o controle da empresa, a qual havia banido a conta do ex-Presidente, e agora,
candidato à Presidência dos EUA, não só fez o convite para que ele retornasse à
rede social; mas, recentemente, demonstrou total apoio à sua candidatura, pelo Partido
Republicano.
Mas, como é de conhecimento
público, as eleições estadunidenses tiveram um verdadeiro plot twist,
com a indicação da atual Vice-Presidente, como candidata à Presidência, pelo Partido
Democrata. De modo que o protagonismo discursivo do processo eleitoral, desde
então, passou a ser dela.
Considerando as visitas de
congressistas da ultradireita brasileira aos EUA, em 2023, para apontar
perseguição política, regime ditatorial e outros absurdos, em sessão no
Congresso Americano; bem como, a explícita simpatia devotada ao referido
multimilionário, não surpreende o que vem acontecendo.
O Brasil é o pretexto para construir
uma cortina de fumaça monumental e desviar as atenções, em relação à candidata
Democrata, na campanha eleitoral dos EUA.
Valendo-se do desserviço prestado
pelos congressistas brasileiros, o multimilionário utiliza dessas informações
para afrontar à soberania do Brasil. Fazendo com que, interna e externamente, os
olhos se voltem para uma disputa de força.
Como resposta de agradecimento à
ultradireita brasileira, o multimilionário acena com narrativas de apoio a uma
manifestação convocada por ela, no 7 de setembro.
Uma demonstração clara da
incapacidade de alguns brasileiros em entender o seu papel subserviente e de
massa de manobra para interesses estadunidenses, mais uma vez.
O que se demonstra a partir desse
episódio é que certos brasileiros aceitam sim, que qualquer um venha afrontar o
seu país, desrespeitar as suas leis e instituições, dar pitacos aleatórios
sobre o que quer que seja. Como se a dignidade nacional fosse rasa e demasiadamente
flexível; sobretudo, diante do poder econômico do outro.
Mas, voltando ao cerne da
questão, apesar de toda a bravata despejada nas redes sociais, não demorou
muito para que o multimilionário se movimentasse alguns passos atrás, em
relação à sua empresa de comunicação por satélite.
Por ordem do STF, ela não só
teria seus bens bloqueados para pagamento de multas geradas pela tal rede
social, como não poderia liberar o acesso dos usuários à mesma. Lembrando que
as duas empresas pertencem ao mesmo conglomerado de negócios do referido multimilionário.
No entanto, não parece que foram
esses os motivos da recuada. Segundo informações divulgadas à imprensa, o
Tribunal de Contas da União (TCU) abriu investigação por suposta ilegalidade em
licitação dessa empresa de comunicação por satélite, com o Comando Militar da
Amazônia. Há indícios de um possível favorecimento no contrato firmado entre a
empresa e o grupamento militar.
Além disso, é importante
salientar que a promessa de oferecer internet para escolas desconectadas em
áreas rurais da Amazônia Legal brasileira não se cumpriu, segundo informações
do Ministério da Educação e Secretarias Estaduais.
E se a empresa já atende clientes
privados em 697 municípios dessa região, também já se sabe que ela impulsiona
atividades ilegais, como a mineração, levantando questões sobre segurança e
soberania nacional 1.
Daí a necessidade de parar e
refletir profundamente sobre o que está em jogo. Em qualquer lugar do mundo que você chegue
para se estabelecer, tem que cumprir o que determinam as leis, os protocolos,
as etiquetas, daquele país.
Portanto, quando se decide
deslocar para esse ou para aquele lugar social não se pode esquecer essas
questões. Elas significam estar sob uma nova ordem social, com outras crenças,
valores, princípios e convicções. Essas são as regras do jogo.