Período
sabático...
Por Alessandra
Leles Rocha
Por mais limites que eu tenha
estabelecido, em relação às Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs),
é cada vez mais difícil não se deixar afetar pela avalanche de informações que
nos chegam a todo instante.
Consciente de que somos energia,
na medida em que tudo são átomos aglutinados, esse excesso é sim, muito
desgastante. Afinal de contas, nem toda energia dissipada ou consumida é boa.
Basta uma breve passada de olhos
pelos veículos de comunicação e de informação, para se ter a dimensão exata do
perfil de notícias exibido. Nem tudo são flores! Aliás, temos muito mais
espinhos!
E o que assistimos, o que lemos,
o que refletimos, o que manifestamos a respeito, acaba também desempenhando um
papel nessa contabilidade energética. Algo que não pode nos passar indiferente
ou despercebido.
Foi, então, que decidi tomar uma
decisão importante. Desde 2004, quando comecei a me dedicar à escrita, colocar
no papel minhas impressões e considerações sobre a vida, o ser humano, o
cotidiano, o planeta, através de crônicas e poesias, tornou-se uma atividade
primordial para mim.
Acontece que o prazer, a
satisfação, o contentamento, também, demandam limites. Escrever se transformou em
algo tão natural, tão fluido no meu dia a dia, que muitas vezes eu produzia um
texto atrás do outro. Tamanho era o impulso de traduzir as ideias e compartilhá-las
com meus leitores.
Entretanto, passadas duas décadas
desse processo contínuo, me dei conta de que esse movimento tem impactado sobre
a minha saúde física e mental. Comecei a observar com mais atenção a quantidade
de horas dedicadas ao trabalho de tecitura literária e a correlação delas com o
meu cansaço, o meu desconforto postural, os gatilhos para minhas dores de cabeça,
enfim.
Aí entendi que era fundamental
promover uma mudança de rotas a respeito. Decidi constituir um período sabático
para o meu exercício literário. Descansar a mente e o corpo em relação ao turbilhão
de ideias, de informações, de acontecimentos, de maneira profunda e
restauradora.
Por mais que eu tenha conseguido
ingressar na jornada da meditação diária, o meu cenário existencial mostrou-se
tão avassaladoramente cansativo e fatigante, que a minha dedicação aos momentos
de tranquilidade, equilíbrio e relaxamento já não estão se mostrando
suficientes às minhas demandas.
Ora, queiramos ou não, ser humano
é ser multitarefas. Os apelos do mundo são muitos. São muitas obrigações,
deveres, tarefas, a serem cumpridas a tempo e a hora, na maioria das vezes. Então,
se podemos, ao menos, em algum aspecto, minimizar o peso dessa situação,
devemos fazê-lo, sem pestanejar.
Assim, em profundo respeito aos
meus leitores, resolvi anunciar essa pausa literária. Não estabeleci nenhum
prazo, justamente, para não criar expectativas sobre o meu mental. Vamos e convenhamos que minha mente esteve a
postos, basicamente, em atividades intelectuais. Escrita literária. Escrita acadêmica.
Docência.
E por mais que o mundo, na
maioria do tempo, não reconheça a consumição gerada por esse tipo de atividade,
ela existe, é real e é devastadora. Você emprega toda a sua energia psíquica,
ainda que voluntária e prazerosamente, no que está fazendo; mas, quando acaba se
sente destruído, com vontade de se deitar, fechar os olhos e dormir, enquanto
puder.
Como já dizia Carlos Drummond de Andrade, “A vida necessita de pausas”; por isso, sem mais a acrescentar, bora para o meu período literário sabático! Afinal, agora começo a entender que “Depois de todas as tempestades e naufrágios o que fica de mim e em mim é cada vez mais essencial e verdadeiro” (Caio Fernando Abreu).