terça-feira, 16 de abril de 2024

A diplomacia e a dialogia em frangalhos


A diplomacia e a dialogia em frangalhos

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Em plena Guerra Fria, Leonid Brejnev dizia que “A diplomacia é uma alternativa de não resolver as diferenças e os conflitos pela força, não por ameaças e fanfarronices, mas por meios pacíficos, à mesa de conferência”. Pois é, houve um tempo na história em que se acreditava nessa possibilidade diplomática para a resolução dos conflitos.

Mas, olhando para um mundo em que duas guerras estão em curso, um espaço de questionamento a respeito do papel diplomático se abre de maneira contundente. Porque não se trata apenas da beligerância em escala extrema; mas, de outras formas de demonstrar a fragilização diplomática na contemporaneidade.

Ora, recentemente, a embaixada do México no Equador foi invadida por policiais equatorianos 1 e Israel bombardeou o consulado iraniano na Síria, deixando o saldo de alguns mortos 2. Quem diria, que as unidades diplomáticas chegariam a tal ponto de vulnerabilidade? Que seriam alvos do absurdo?

Algo, realmente, a se pensar. Esta não é só uma questão geopolítica. Temos bem diante do nariz, o fracasso da dialogia, da argumentação, da exposição de ideias. E isso é muito grave, na medida em que transmite às futuras gerações uma orientação equivocada a respeito da convivência e da coexistência, onde os problemas, as divergências, só podem ser resolvidas através da beligerância.

É preciso compreender que a derrota dialógica é a legitimação da barbárie, da violência, da incivilidade. Não importa se em menor ou em maior escala. O ser humano passa a acreditar que esse é o único caminho para resolver os impasses sociais. Inclusive, pelo fato de que, dependendo da intensidade empregada no processo, pode sim, ser o fim da disputa, ou seja, o outro morre.

Maria Montessori dizia que “As pessoas educam para a competição e esse é o princípio de qualquer guerra. Quando educarmos para cooperarmos e sermos solidários uns com os outros, nesse dia estaremos a educar para a paz”. Mas, se não estamos abertos ao exercício diplomático dialógico como alcançaremos essa paz? Se tudo passa pela tensão, pelo conflito, pela agressividade, pela combatividade, as relações sociais na sua essência deixam de existir.

Pois é, “Tanta gente nasce e morre sem dialogar com a vida. Contam coisas, falam por falar, mas não conversam, não usam a palavra como elemento de troca” (Martha Medeiros). E isso é genial, porque nos desperta para as consequências de todo o individualismo narcísico contemporâneo.

De repente, fica clara a razão de as pessoas se agregarem, cada vez mais, em bolhas. A afinidade ideológica, comportamental, emocional, não passa de um modo de necessitar menos do diálogo; pois, é como se conseguissem, rapidamente, um senso comum para reger as suas crenças, valores, princípios, vontades, ... Um modo estranho de homogeneizar a nossa identidade humana.

Aliás, a homogeneização é um ponto importante. Afinal, trata-se de um processo disruptivo na sociedade. Do ponto de vista diplomático, por exemplo, ela é muito representativa pelas manifestações imperialistas. São visíveis as intenções de homogeneização para alcançar o êxito dominador.

O outro é despido, abruptamente, da sua identidade nacional, cultural, existencial, para atender aos interesses de quem tem o poder. Portanto, não há diálogo. Não há escolha. Não há troca. É um processo verticalizado, de cima para baixo.

Não é à toa que ele favorece à demarcação de uma fronteira muito bem definida entre apoiadores e dissidentes. Sim; pois, por mais que a homogeneização seja intensa, profunda, haverá sempre indivíduos que não aderem ou cedem às pressões. E não havendo espaços para o diálogo, eles tendem a permanecer invisibilizados, à margem, em sua própria bolha.

Aquele que não vê, ou prefere não perceber, que a humanidade, de passo em passo, movimenta-se nesse contexto homogeneizante, simplesmente, nega os efeitos nocivos disso sobre o curso da sua própria evolução.

Sim, porque na abstenção da sua capacidade cognitiva e intelectual, o ser humano retorna às suas origens ancestrais, quando tudo era construído mediante a irracionalidade e a brutalidade da força. Assim, ao que tudo indica, a tentativa de domesticação humana foi em vão. Não somos, em essência, seres de paz.

Lamentavelmente, ao contrário de nos agigantar estamos nos apequenando enquanto espécie. Depois de termos aprendido a falar, a tecer conhecimento, a expandir nossa leitura de mundo, estamos regredindo. Silenciando nossa capacidade de existir e coexistir equilibradamente. Homogeneizando nossa identidade para não ter que lidarmos com as diferenças, com as desigualdades, com nenhum aspecto que exija o exercício da diplomacia dialógica.