A
diplomacia e a dialogia em frangalhos
Por Alessandra
Leles Rocha
Em plena Guerra Fria, Leonid Brejnev
dizia que “A diplomacia é uma alternativa de não resolver as diferenças e os
conflitos pela força, não por ameaças e fanfarronices, mas por meios pacíficos,
à mesa de conferência”. Pois é, houve um tempo na história em que se acreditava
nessa possibilidade diplomática para a resolução dos conflitos.
Mas, olhando para um mundo em que
duas guerras estão em curso, um espaço de questionamento a respeito do papel
diplomático se abre de maneira contundente. Porque não se trata apenas da beligerância
em escala extrema; mas, de outras formas de demonstrar a fragilização
diplomática na contemporaneidade.
Ora, recentemente, a embaixada do
México no Equador foi invadida por policiais equatorianos 1
e Israel bombardeou o consulado iraniano na Síria, deixando o saldo de alguns mortos
2. Quem diria, que as unidades
diplomáticas chegariam a tal ponto de vulnerabilidade? Que seriam alvos do
absurdo?
Algo, realmente, a se pensar. Esta
não é só uma questão geopolítica. Temos bem diante do nariz, o fracasso da
dialogia, da argumentação, da exposição de ideias. E isso é muito grave, na
medida em que transmite às futuras gerações uma orientação equivocada a
respeito da convivência e da coexistência, onde os problemas, as divergências,
só podem ser resolvidas através da beligerância.
É preciso compreender que a
derrota dialógica é a legitimação da barbárie, da violência, da incivilidade. Não
importa se em menor ou em maior escala. O ser humano passa a acreditar que esse
é o único caminho para resolver os impasses sociais. Inclusive, pelo fato de
que, dependendo da intensidade empregada no processo, pode sim, ser o fim da
disputa, ou seja, o outro morre.
Maria Montessori dizia que “As
pessoas educam para a competição e esse é o princípio de qualquer guerra. Quando
educarmos para cooperarmos e sermos solidários uns com os outros, nesse dia
estaremos a educar para a paz”. Mas, se não estamos abertos ao exercício
diplomático dialógico como alcançaremos essa paz? Se tudo passa pela tensão,
pelo conflito, pela agressividade, pela combatividade, as relações sociais na
sua essência deixam de existir.
Pois é, “Tanta gente nasce e
morre sem dialogar com a vida. Contam coisas, falam por falar, mas não conversam,
não usam a palavra como elemento de troca” (Martha Medeiros). E isso é
genial, porque nos desperta para as consequências de todo o individualismo narcísico
contemporâneo.
De repente, fica clara a razão de
as pessoas se agregarem, cada vez mais, em bolhas. A afinidade ideológica,
comportamental, emocional, não passa de um modo de necessitar menos do diálogo;
pois, é como se conseguissem, rapidamente, um senso comum para reger as suas
crenças, valores, princípios, vontades, ... Um modo estranho de homogeneizar a
nossa identidade humana.
Aliás, a homogeneização é um
ponto importante. Afinal, trata-se de um processo disruptivo na sociedade. Do ponto
de vista diplomático, por exemplo, ela é muito representativa pelas
manifestações imperialistas. São visíveis as intenções de homogeneização para
alcançar o êxito dominador.
O outro é despido, abruptamente,
da sua identidade nacional, cultural, existencial, para atender aos interesses de
quem tem o poder. Portanto, não há diálogo. Não há escolha. Não há troca. É um
processo verticalizado, de cima para baixo.
Não é à toa que ele favorece à
demarcação de uma fronteira muito bem definida entre apoiadores e dissidentes. Sim;
pois, por mais que a homogeneização seja intensa, profunda, haverá sempre indivíduos
que não aderem ou cedem às pressões. E não havendo espaços para o diálogo, eles
tendem a permanecer invisibilizados, à margem, em sua própria bolha.
Aquele que não vê, ou prefere não
perceber, que a humanidade, de passo em passo, movimenta-se nesse contexto
homogeneizante, simplesmente, nega os efeitos nocivos disso sobre o curso da
sua própria evolução.
Sim, porque na abstenção da sua
capacidade cognitiva e intelectual, o ser humano retorna às suas origens
ancestrais, quando tudo era construído mediante a irracionalidade e a brutalidade
da força. Assim, ao que tudo indica, a tentativa de domesticação humana foi em
vão. Não somos, em essência, seres de paz.
Lamentavelmente, ao contrário de
nos agigantar estamos nos apequenando enquanto espécie. Depois de termos
aprendido a falar, a tecer conhecimento, a expandir nossa leitura de mundo, estamos
regredindo. Silenciando nossa capacidade de existir e coexistir
equilibradamente. Homogeneizando nossa identidade para não ter que lidarmos com
as diferenças, com as desigualdades, com nenhum aspecto que exija o exercício
da diplomacia dialógica.