quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Sobre desqualificação e vergonha ... É preciso refletir!


Sobre desqualificação e vergonha ... É preciso refletir!

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Os recentes ataques da direita e seus matizes; sobretudo, os mais radicais e extremistas, em torno da visita da esposa de um líder de facção criminosa ao Ministério da Justiça, dizem bem mais do que a espuma que aparece visibilizada por certos veículos de imprensa. Por isso, resolvi tecer uma breve reflexão a respeito.

Para início de conversa, um dos traços marcantes da contemporaneidade são os “15 minutos de fama”, os quais as pessoas disputam com ferocidade para não se deixarem cair na invisibilidade cotidiana. 

E com todos os recursos tecnológicos e midiáticos disponíveis, parece difícil que alguém resista a não cair em tentação! Até mesmo, gente da política! Vale dancinha, piadinha, ... e até Fake News, para brilhar à luz dos holofotes.

E são nesses momentos absurdos, que os seres humanos acabam se perdendo, por esquecer o que fizeram ou participaram nos verões passados. Algo que, no caso desse grupo político-ideológico, culmina caindo no rol do vexatório, do mais profundo constrangimento.

Vamos e convenhamos que, depois de todas as relações pessoalíssimas do ex-governo com elementos infratores da lei, ou do episódio de transporte de significativa quantidade de entorpecente em avião do governo federal, seria melhor obedecer ao provérbio “Quem tem telhado de vidro não atira pedra no do vizinho”.

Por isso, cabe aqui fazer uma distinção entre os fatos. Não foi a esposa de um líder de facção criminosa a solicitante da visita, ela estava acompanhando um grupo liderado por uma ex-parlamentar que atua como ativista de direitos humanos no sistema carcerário.

Além disso, ela “esteve recentemente em audiências na Câmara dos Deputados, em Brasília, e também foi recebida por secretária do governo do Amazonas, mas apenas as visitas ao Ministério da Justiça são atacadas” 1.

Já no caso do ex-governo, as situações exemplificadas não deixam dúvidas a respeito das relações pessoalíssimas com os infratores e, portanto, nem podem ser interpretadas de outra maneira 2. Havendo, inclusive, episódios de condecoração de policiais denunciados em organização criminosa 3.

Dito isso, vamos em frente na reflexão. Considerando tempos tão sombrios e acaloradamente beligerantes, o que se pode apontar é que tenha faltado um pouco mais de prudência e de atenção ao staff governamental quanto aos protocolos de acesso aos espaços de governo, para se evitar esse tipo de burburinho desnecessário.

Afinal de contas, a administração pública impõe a si mesma a necessidade de um controle mais intenso e profundo. Contudo, ainda assim, temos que admitir que dissecar as relações sociais de todos os passantes seria impossível.

Haja vista, por exemplo, quantos dissabores recentes o governo federal experimentou, em razão da presença de infiltrados ultradireitistas na administração pública, que figuraram em atos antidemocráticos e anticidadãos, cometidos na capital federal.  Ou o recente caso de arapongagem em que se descobriu a existência de um sistema para espionar supostos desafetos, que fora instituído pelo antigo governo.

A verdade é que na dinâmica social cotidiana, ninguém sai, por aí, distribuindo listas de quem faz parte do seu convívio, por escala de maior ou menor proximidade e/ou afinidade. Sem contar que no contexto das relações sociais deve-se resguardar o princípio da presunção de inocência, não é mesmo?

Outro ponto importantíssimo diz respeito à produção de imagens. Em tempos de selfies com personalidades a tira colo, o ser humano está exposto o tempo todo. Ressalvadas raríssimas exceções, a grande maioria dos famosos ou pessoas públicas não se abstêm de fazer tais registros. E como são situações eventuais, fugazes, ninguém para e pergunta a ficha criminal do cidadão.

Inclusive, já que estou falando de fotografias, vale destacar aqui um outro traço da contemporaneidade, o qual trata da análise de certos assuntos, a partir de fragmentos ao invés da história toda. Isso enviesa, distorce, manipula os fatos, segundo os interesses de quem utiliza desse recurso.

Pois é, assim surgem inúmeras Fake News, sem pé e nem cabeça, por aí. Ora, uma imagem pode traduzir diferentes interpretações, dependendo do contexto prévio de mundo daquele observador. Além disso, quantas montagens podem ser feitas a partir de recursos tecnológicos, à revelia das pessoas?  

No próprio caso da tal visita, houve quem disparasse nas mídias sociais uma foto do Ministro da Justiça ao lado de uma mulher que supostamente seria a esposa de um líder de facção criminosa.

No entanto, bem antes do que imaginavam os propagadores dessa Fake News, a mulher que figura na imagem foi a público desmentir a história e manifestar a sua total indignação por ter tido sua imagem associada ao crime organizado 4. Um desrespeito que pode ser levado à justiça para a reparação cabível.

Portanto, o que se extrai desse acontecimento é que a direita e seus matizes; sobretudo, os mais radicais e extremistas, na ausência de uma proposta de trabalho construtivo, para um país que padece, em pleno século XXI, de mazelas históricas remanescentes desde o seu tempo colonial, precisa conquistar a visibilidade midiática a partir de tecituras narrativas enviesadas, distorcidas e tendenciosamente manipuladas.

Tais atitudes não só empobrecem a dialogia político-partidária nacional, como fragilizam os veículos de comunicação que se prestam ao sensacionalismo, contribuindo para a descredibilização da escolha representativa, nos espaços de poder, por aqueles que se valem desse tipo de desserviço.   

É uma pena que esse grupo político-ideológico, só consiga se lembrar do crime organizado e das questões carcerárias, no Brasil, pela perspectiva do uso politiqueiro do assunto.

Afinal, trata-se de um aspecto importantíssimo, que merece total atenção dos diferentes espectros políticos brasileiros, no sentido de construir propostas que saiam do discurso retórico de palanque para se tornarem práxis alinhadas às demandas contemporâneas nacionais.