Sobre
desqualificação e vergonha ... É preciso refletir!
Por
Alessandra Leles Rocha
Os recentes ataques da direita e
seus matizes; sobretudo, os mais radicais e extremistas, em torno da visita da
esposa de um líder de facção criminosa ao Ministério da Justiça, dizem bem mais
do que a espuma que aparece visibilizada por certos veículos de imprensa. Por
isso, resolvi tecer uma breve reflexão a respeito.
Para início de conversa, um dos
traços marcantes da contemporaneidade são os “15 minutos de fama”, os quais as
pessoas disputam com ferocidade para não se deixarem cair na invisibilidade
cotidiana.
E com todos os recursos
tecnológicos e midiáticos disponíveis, parece difícil que alguém resista a não
cair em tentação! Até mesmo, gente da política! Vale dancinha, piadinha, ... e
até Fake News, para brilhar à luz dos holofotes.
E são nesses momentos absurdos,
que os seres humanos acabam se perdendo, por esquecer o que fizeram ou
participaram nos verões passados. Algo que, no caso desse grupo
político-ideológico, culmina caindo no rol do vexatório, do mais profundo
constrangimento.
Vamos e convenhamos que, depois
de todas as relações pessoalíssimas do ex-governo com elementos infratores da
lei, ou do episódio de transporte de significativa quantidade de entorpecente
em avião do governo federal, seria melhor obedecer ao provérbio “Quem tem
telhado de vidro não atira pedra no do vizinho”.
Por isso, cabe aqui fazer uma
distinção entre os fatos. Não foi a esposa de um líder de facção criminosa a
solicitante da visita, ela estava acompanhando um grupo liderado por uma
ex-parlamentar que atua como ativista de direitos humanos no sistema carcerário.
Além disso, ela “esteve
recentemente em audiências na Câmara dos Deputados, em Brasília, e também foi
recebida por secretária do governo do Amazonas, mas apenas as visitas ao Ministério
da Justiça são atacadas” 1.
Já no caso do ex-governo, as
situações exemplificadas não deixam dúvidas a respeito das relações
pessoalíssimas com os infratores e, portanto, nem podem ser interpretadas de
outra maneira 2. Havendo, inclusive,
episódios de condecoração de policiais denunciados em organização criminosa 3.
Dito isso, vamos em frente na
reflexão. Considerando tempos tão sombrios e acaloradamente beligerantes, o que
se pode apontar é que tenha faltado um pouco mais de prudência e de atenção ao staff
governamental quanto aos protocolos de acesso aos espaços de governo, para se
evitar esse tipo de burburinho desnecessário.
Afinal de contas, a administração
pública impõe a si mesma a necessidade de um controle mais intenso e profundo. Contudo,
ainda assim, temos que admitir que dissecar as relações sociais de todos os
passantes seria impossível.
Haja vista, por exemplo, quantos
dissabores recentes o governo federal experimentou, em razão da presença de
infiltrados ultradireitistas na administração pública, que figuraram em atos
antidemocráticos e anticidadãos, cometidos na capital federal. Ou o recente caso de arapongagem em que se
descobriu a existência de um sistema para espionar supostos desafetos, que fora
instituído pelo antigo governo.
A verdade é que na dinâmica
social cotidiana, ninguém sai, por aí, distribuindo listas de quem faz parte do
seu convívio, por escala de maior ou menor proximidade e/ou afinidade. Sem contar
que no contexto das relações sociais deve-se resguardar o princípio da
presunção de inocência, não é mesmo?
Outro ponto importantíssimo diz
respeito à produção de imagens. Em tempos de selfies com personalidades
a tira colo, o ser humano está exposto o tempo todo. Ressalvadas raríssimas
exceções, a grande maioria dos famosos ou pessoas públicas não se abstêm de
fazer tais registros. E como são situações eventuais, fugazes, ninguém para e
pergunta a ficha criminal do cidadão.
Inclusive, já que estou falando
de fotografias, vale destacar aqui um outro traço da contemporaneidade, o qual
trata da análise de certos assuntos, a partir de fragmentos ao invés da
história toda. Isso enviesa, distorce, manipula os fatos, segundo os interesses
de quem utiliza desse recurso.
Pois é, assim surgem inúmeras Fake
News, sem pé e nem cabeça, por aí. Ora, uma imagem pode traduzir diferentes
interpretações, dependendo do contexto prévio de mundo daquele observador. Além
disso, quantas montagens podem ser feitas a partir de recursos tecnológicos, à
revelia das pessoas?
No próprio caso da tal visita,
houve quem disparasse nas mídias sociais uma foto do Ministro da Justiça ao
lado de uma mulher que supostamente seria a esposa de um líder de facção
criminosa.
No entanto, bem antes do que
imaginavam os propagadores dessa Fake News, a mulher que figura na
imagem foi a público desmentir a história e manifestar a sua total indignação
por ter tido sua imagem associada ao crime organizado 4.
Um desrespeito que pode ser levado à justiça para a reparação cabível.
Portanto, o que se extrai desse
acontecimento é que a direita e seus matizes; sobretudo, os mais radicais e
extremistas, na ausência de uma proposta de trabalho construtivo, para um país
que padece, em pleno século XXI, de mazelas históricas remanescentes desde o
seu tempo colonial, precisa conquistar a visibilidade midiática a partir de
tecituras narrativas enviesadas, distorcidas e tendenciosamente manipuladas.
Tais atitudes não só empobrecem a
dialogia político-partidária nacional, como fragilizam os veículos de
comunicação que se prestam ao sensacionalismo, contribuindo para a descredibilização
da escolha representativa, nos espaços de poder, por aqueles que se valem desse
tipo de desserviço.
É uma pena que esse grupo
político-ideológico, só consiga se lembrar do crime organizado e das questões
carcerárias, no Brasil, pela perspectiva do uso politiqueiro do assunto.
Afinal, trata-se de um aspecto
importantíssimo, que merece total atenção dos diferentes espectros políticos
brasileiros, no sentido de construir propostas que saiam do discurso retórico
de palanque para se tornarem práxis alinhadas às demandas contemporâneas
nacionais.
1 https://jornalggn.com.br/noticia/estadao-faz-sensacionalismo-e-governo-lula-erra-na-postura-defensiva/
2 https://iclnoticias.com.br/governo-bolsonaro-recebeu-no-planalto-e-no-alvorada-criminosos-e-suspeitos-de-crimes/