A ameaça
do personalismo às instituições brasileiras
Por Alessandra
Leles Rocha
Por mais extenuante que possa
parecer acompanhar a ebulição que vive o Brasil, nesses primeiros oito meses de
2023, vale a pena o esforço na medida em que se consegue perceber os pontos
nevrálgicos da deterioração da organização socioinstitucional do país. E,
talvez, o mais visível e perigoso deles seja o personalismo que toma conta das
instituições nacionais.
De repente, a visão particular ou
o ponto de vista extremamente pessoal, a respeito de algo ou de alguém, transbordou
os limites institucionais, fazendo com que se estabelecesse um conflito de
interesses muito graves, e comprometedores, ao equilíbrio da nação. Ora, tais
instituições estão a serviço do país, dos interesses nacionais, da sua
coletividade populacional e, portanto, não podem agir sob a seletivização dos propósitos
de uns e outros.
Assim, é preciso deixar claro
qual caminho pretendem seguir as instituições, a partir de agora. O que significa
separar o joio do trigo, ou seja, podem elas permitir as devidas responsabilizações
aos seus elementos envolvidos em atos reprováveis de desobediência e total
indisciplina, quanto ao cumprimento das suas atribuições estabelecidas em lei,
ou se predispor a assumir seu papel na corresponsabilidade das infrações, ainda
que isso venha a impor um peso negativo à sua imagem.
Afinal de contas, isso é necessário
em virtude de as instituições, ao menos em tese, se fundamentarem pela coesão e
pela coerência de um senso comum a fim de garantir-lhes a confiança e a
credibilidade da população. O que faz com que as expectativas sociais construídas
em torno de seus servidores, ou de seus funcionários públicos, orbite a
satisfação dos interesses coletivos nacionais e não, de alguns em detrimento de
outros.
Parece urgente, então, a
necessidade de as instituições brasileiras reverem o acirramento dos
constrangimentos comportamentais, impostos por certos elementos, com o intuito
de fazer prevalecer o individualismo egóico de suas opiniões e perspectivas,
como se não houvesse uma distinção entre a vida privada e a vida pública do cidadão.
Ora, o cotidiano não funciona sob as mesmas orientações e protocolos sociais em
todos os espaços geográficos que ocupamos!
Quando não se estabelece a transparência
no posicionamento institucional, ainda que equivocada, há uma tendência natural
de se homogeneizar os acontecimentos, ou seja, atribuí-los diretamente às
instituições e não, aos seus membros. Especialmente, quando estes se mantêm
apegados aos elementos representativamente simbólicos, das instituições as
quais pertencem.
De modo que teimo em insistir que
as instituições não podem e não devem permitir se transformar em palcos de
desafios ideológicos, de insubordinações afrontosas, de ilegalidades dolosas,
por parte de alguns dos seus, como se tem visto acontecer amiúde no país.
Não é hora de silêncios estratégicos.
Nem de contemporizações enviesadas. Nem de construções narrativas esgarçadas. É
hora de exercitar a lisura, a clareza, a objetividade, tão comumente presentes
no ideário que se faz a respeito das instituições. Nada mais nada menos, do que
colocar os pingos nos is e defender os valores, as crenças, os princípios e as
convicções que sempre se apresentaram como o seu alicerce. Em suma, passando a
história a limpo!
E é tecendo reflexões como esta,
que se percebe como todo esse personalismo, em expansão, nas instituições brasileiras
pode afetar diretamente a manutenção do senso prático de nossa Democracia. Já
tão fragilizada e vulnerabilizada, sob diferentes formas, na contemporaneidade.
Afinal, é desse personalismo nutrido pela ousadia, pela arrogância, pela arbitrariedade de alguns, por aí, que somos envolvidos sutilmente pelo manto do medo, ou seja, “O medo é que faz que não vejas, nem ouças porque um dos efeitos do medo é turvar os sentidos, e fazer que pareçam as coisas outras do que são!” (Miguel de Cervantes – Dom Quixote de la Mancha [1605]).