terça-feira, 27 de junho de 2023

Não é uma responsabilidade minha, dele ou daquele. É nossa!


Não é uma responsabilidade minha, dele ou daquele. É nossa!

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Com dados da World Resources Institute, “A cada cinco segundos no ano passado, o planeta perdeu uma área de floresta tropical virgem equivalente a um campo de futebol, e cerca de 43% desta destruição foi registrada apenas no Brasil – resultado da catastrófica política ambiental do ex-presidente” 1.

No entanto, os alertas que se acendem diante dessa informação, dão conta apenas de um viés da história, que são as florestas tropicais. Mas, enquanto brasileiros, temos que entender que o desmatamento e as queimadas ilegais têm se disseminado por outros biomas nacionais, tão importantes quanto a Amazônia, como é o caso da Mata Atlântica, do Cerrado e do Pantanal.

Ora, isso significa que estamos atacando drasticamente o equilíbrio ecossistêmico e criando espaços profícuos para que os processos de desertificação se instalem. Duas matérias me chamaram atenção essa manhã, uma a respeito da relação direta entre as mudanças climáticas e os efeitos delas correlacionados à  insegurança alimentar e às doenças respiratórias 2, e outra a respeito da escassez hídrica nos EUA elevando o preço das commodities agrícolas em razão da dificuldade de produção 3.

A todos aqueles que vêm rosnando para as políticas ambientalmente sustentáveis, para as exigências diplomáticas no campo socioambiental do comércio exterior, meu alerta para que reflitam melhor a respeito. Infelizmente, do ponto de vista da organização social e da distribuição de poder e riqueza, o mundo pouco evoluiu em relação ao seu retrato colonial, por conta de êxitos mercantis pontuais que vieram sendo mantidos com unhas e dentes pelas sucessivas gerações.

É fundamental fazer um flashback da história, para entender que entre os séculos XIV e XVII, o modo de ser, de pensar, de agir, era demasiadamente limitado. A hegemonia de algumas nações constituía nelas uma compreensão extremamente individualista, de modo que o pensamento coletivo era inexistente. E justamente por isso, é que elas não se constrangeram e nem se importaram com as práxis empregadas na exploração dos recursos naturais planeta afora. Aliás, findado os tempos coloniais e emergida a Revolução Industrial, o movimento permaneceu exatamente o mesmo.  

Mas, como tão bem escreveu Sir. Isaac Newton, “a toda ação corresponde a uma reação de igual intensidade, mas que atua no sentido oposto” (3ª Lei ou Princípio da Ação e Reação), de modo que não tardou muito para que as grandes potências do mundo começassem a sentir de perto os efeitos de suas investidas desenvolvimentistas, a partir das consequências ambientais. Desflorestamento. Incêndios florestais. Esgotamento de recursos hídricos. Poluição atmosférica. Acúmulo de resíduos sólidos. Insalubridade. Enchentes e alagamentos. Secas prolongadas. Alterações abruptas nos padrões climáticos. ...

E se não bastasse um entendimento a respeito de tudo isso, sob uma perspectiva individual de cada país, a dinâmica do mundo fez emergir uma compreensão globalista desses efeitos, ou seja, uma percepção humanizada de que a raça humana na sua integralidade estava sob ameaça de problemas que vieram sendo criados historicamente e cuja parcela principal de responsabilidade, recaia justamente sobre as grandes potências em razão do seu próprio ciclo de progresso.

Em contrapartida, as nações que se formaram na esteira dessa história, ao contrário de emergir embasadas por novos paradigmas, novas visões de mundo e de sociedade, lamentavelmente, acabaram dando prosseguimento aos mesmos modus operandi. Continuaram presas ao extrativismo explorador irracional, aos maus usos e ocupações do espaço geográfico, ao descompromisso com a preservação das reservas hídricas, à dizimação de espécies da fauna e da flora, à apropriação indébita dos territórios pertencentes aos povos originários, enfim.  O que também as fez desfrutar da referida Lei de Newton.

Assim, diante de uma total assimetria de concepções, em que uns já perceberam a gravidade das suas ações, outros em parte e muitos de maneira alguma, o cenário diplomático internacional tenta desenvolver um consenso, muito mais no sentido de estancar a letalidade imposta pela ruína socioambiental das más práxis empregadas, do que simplesmente privilegiar (ou proteger) uns em detrimento de outros.

O entendimento de que as ameaças climáticas afetam a todos indistintamente, sob diferentes formas, conteúdos e intensidades, está posta na mesa de negociação há décadas. Cada um tem a exata dimensão da sua responsabilidade no processo de degradação socioambiental no planeta. O ponto chave é que não adianta discutir o montante de erros passados e as responsabilidades de cada um, imersos em outros cenários conjunturais. É preciso saber o que será feito do que restou do planeta, do que ainda permite a existência e a sobrevivência humana.

Aí, nesse sentido, se os países em desenvolvimento (emergentes) e os subdesenvolvidos podem ser cobrados em termos de preservação e compromisso com a sustentabilidade ambiental, no que diz respeito às reservas naturais, aos ecossistemas, em contrapartida, os países desenvolvidos também precisam ser cobrados em relação aos impactos provocados por suas revoluções tecnocientíficas, as quais possuem potencial degradante sobre o Meio Ambiente. Trata-se, portanto, de uma via de mão dupla de responsabilidades a serem assumidas e efetivamente colocadas em prática.

Afinal de contas, como dizia Mahatma Gandhi, “Um homem não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado em outra. A vida é um todo indivisível”. O planeta Terra é um só para todos. Então, ninguém está isento de nada, quando o assunto são obrigações, deveres, compromissos, atribuições. Sem vida não há progresso, nem desenvolvimento, nem tecnologia. Segundo o escritor e filósofo inglês Alan Watts, “O sentido da vida é estar vivo. É tão claro, tão óbvio e tão simples. Mesmo assim, todo mundo não para de correr em pânico, como se fosse necessário conseguir alguma coisa além de si próprio”.