Não
é uma responsabilidade minha, dele ou daquele. É nossa!
Por
Alessandra Leles Rocha
Com dados da World Resources
Institute, “A cada cinco segundos no ano
passado, o planeta perdeu uma área de floresta tropical virgem equivalente a um
campo de futebol, e cerca de 43% desta destruição foi registrada apenas no
Brasil – resultado da catastrófica política ambiental do ex-presidente” 1.
No entanto, os alertas que se acendem
diante dessa informação, dão conta apenas de um viés da história, que são as
florestas tropicais. Mas, enquanto brasileiros, temos que entender que o
desmatamento e as queimadas ilegais têm se disseminado por outros biomas
nacionais, tão importantes quanto a Amazônia, como é o caso da Mata Atlântica,
do Cerrado e do Pantanal.
Ora, isso significa que estamos
atacando drasticamente o equilíbrio ecossistêmico e criando espaços profícuos para
que os processos de desertificação se instalem. Duas matérias me chamaram
atenção essa manhã, uma a respeito da relação direta entre as mudanças climáticas
e os efeitos delas correlacionados à
insegurança alimentar e às doenças respiratórias 2,
e outra a respeito da escassez hídrica nos EUA elevando o preço das commodities
agrícolas em razão da dificuldade de produção 3.
A todos aqueles que vêm rosnando
para as políticas ambientalmente sustentáveis, para as exigências diplomáticas
no campo socioambiental do comércio exterior, meu alerta para que reflitam
melhor a respeito. Infelizmente, do ponto de vista da organização social e da distribuição
de poder e riqueza, o mundo pouco evoluiu em relação ao seu retrato colonial, por
conta de êxitos mercantis pontuais que vieram sendo mantidos com unhas e dentes
pelas sucessivas gerações.
É fundamental fazer um flashback da história, para entender que
entre os séculos XIV e XVII, o modo de ser, de pensar, de agir, era
demasiadamente limitado. A hegemonia de algumas nações constituía nelas uma compreensão
extremamente individualista, de modo que o pensamento coletivo era inexistente.
E justamente por isso, é que elas não se constrangeram e nem se importaram com
as práxis empregadas na exploração dos recursos naturais planeta afora. Aliás, findado
os tempos coloniais e emergida a Revolução Industrial, o movimento permaneceu
exatamente o mesmo.
Mas, como tão bem escreveu Sir.
Isaac Newton, “a toda ação corresponde a
uma reação de igual intensidade, mas que atua no sentido oposto” (3ª Lei ou
Princípio da Ação e Reação), de modo que não tardou muito para que as grandes
potências do mundo começassem a sentir de perto os efeitos de suas investidas desenvolvimentistas,
a partir das consequências ambientais. Desflorestamento. Incêndios florestais. Esgotamento
de recursos hídricos. Poluição atmosférica. Acúmulo de resíduos sólidos. Insalubridade.
Enchentes e alagamentos. Secas prolongadas. Alterações abruptas nos padrões
climáticos. ...
E se não bastasse um entendimento
a respeito de tudo isso, sob uma perspectiva individual de cada país, a dinâmica
do mundo fez emergir uma compreensão globalista desses efeitos, ou seja, uma
percepção humanizada de que a raça humana na sua integralidade estava sob
ameaça de problemas que vieram sendo criados historicamente e cuja parcela
principal de responsabilidade, recaia justamente sobre as grandes potências em
razão do seu próprio ciclo de progresso.
Em contrapartida, as nações que se
formaram na esteira dessa história, ao contrário de emergir embasadas por novos
paradigmas, novas visões de mundo e de sociedade, lamentavelmente, acabaram
dando prosseguimento aos mesmos modus
operandi. Continuaram presas ao extrativismo explorador irracional, aos
maus usos e ocupações do espaço geográfico, ao descompromisso com a preservação
das reservas hídricas, à dizimação de espécies da fauna e da flora, à apropriação
indébita dos territórios pertencentes aos povos originários, enfim. O que também as fez desfrutar da referida Lei
de Newton.
Assim, diante de uma total
assimetria de concepções, em que uns já perceberam a gravidade das suas ações,
outros em parte e muitos de maneira alguma, o cenário diplomático internacional
tenta desenvolver um consenso, muito mais no sentido de estancar a letalidade
imposta pela ruína socioambiental das más práxis empregadas, do que simplesmente
privilegiar (ou proteger) uns em detrimento de outros.
O entendimento de que as ameaças
climáticas afetam a todos indistintamente, sob diferentes formas, conteúdos e intensidades,
está posta na mesa de negociação há décadas. Cada um tem a exata dimensão da
sua responsabilidade no processo de degradação socioambiental no planeta. O ponto
chave é que não adianta discutir o montante de erros passados e as responsabilidades
de cada um, imersos em outros cenários conjunturais. É preciso saber o que será
feito do que restou do planeta, do que ainda permite a existência e a sobrevivência
humana.
Aí, nesse sentido, se os países
em desenvolvimento (emergentes) e os subdesenvolvidos podem ser cobrados em
termos de preservação e compromisso com a sustentabilidade ambiental, no que
diz respeito às reservas naturais, aos ecossistemas, em contrapartida, os
países desenvolvidos também precisam ser cobrados em relação aos impactos
provocados por suas revoluções tecnocientíficas, as quais possuem potencial degradante
sobre o Meio Ambiente. Trata-se, portanto, de uma via de mão dupla de
responsabilidades a serem assumidas e efetivamente colocadas em prática.
Afinal de contas, como dizia Mahatma
Gandhi, “Um homem não pode fazer o certo
numa área da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado em outra. A vida é
um todo indivisível”. O planeta Terra é um só para todos. Então, ninguém
está isento de nada, quando o assunto são obrigações, deveres, compromissos,
atribuições. Sem vida não há progresso, nem desenvolvimento, nem tecnologia.
Segundo o escritor e filósofo inglês Alan Watts, “O sentido da vida é estar vivo. É tão claro, tão óbvio e tão simples. Mesmo
assim, todo mundo não para de correr em pânico, como se fosse necessário
conseguir alguma coisa além de si próprio”.