Licença
para perturbar???
Por
Alessandra Leles Rocha
Recobrar a razão é o que alguns
brasileiros precisam com urgência. Há 26 anos o sistema eleitoral brasileiro
utiliza as urnas eletrônicas sem que quaisquer dúvidas quanto à confiabilidade
do sistema fossem apontadas, que quaisquer resultados eleitorais fossem
questionados. O que faz das eleições brasileiras um exemplo de credibilidade,
agilidade e avanço para o mundo.
Diante das constantes manifestações
antidemocráticas, que seguem desde o resultado do segundo turno eleitoral deste
ano, é preciso, então, dizer que nenhum cidadão brasileiro dispõe de licença
para perturbar a ordem, o sossego, o direito de ir e vir; muito menos, exercer
a ilicitude despudoradamente, como vem ocorrendo país afora.
Se o cidadão comum não se permite
mais pensar e raciocinar adequadamente, que tal, as lideranças
político-partidárias exercerem o papel de conter os absurdos, de colocar ordem
na casa, a fim de que o progresso do país tenha alguma chance de vingar?
Me refiro a essas pessoas,
considerando justamente que, muitas delas, foram eleitas ao longo desses 26
anos e jamais se opuseram ou questionaram o referido sistema eleitoral. Foram só
alegria e contentamento! Afinal, as eleições lhes permitiram conquistar o
poder, a influência, o status, os salários, os penduricalhos, as mordomias, pagas
por meio do dinheiro público na forma dos seus milhões.
Assim, tanto o cerrar fileiras
com a legião antidemocrata nacional quanto abster-se de quaisquer manifestações,
nesse momento, é ultrajante para o país. Talvez, não tenham se dado conta de
que nem todos os seus eleitores, aqueles que depositaram votos a seu favor,
estejam realmente em plena concordância com as ações ilegais que vêm sendo
cometidas no país, inclusive, colocando em risco pessoas gravemente doentes que
demandam atendimento médico de urgência.
Mas, em relação ao bem-estar e a
saúde, comportamentos assim, não surpreendem se lembrarmos de todo o desserviço
prestado em relação à COVID-19, ao escárnio manifesto contra as vítimas das violências
urbanas, ao negacionismo contra a vacinação, à fome e à miséria crescente, ...
Essas pessoas, em momento algum, tiveram quaisquer comportamentos respeitosos, empáticos,
fraternos em relação à vida de seus semelhantes. Então...
Desse modo, depois de perder a
eleição, como já determinado e reconhecido pelo Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e por todos os órgãos observadores nacionais
e internacionais, eles decidiram, portanto, por perderem a simpatia e o respeito
de muitos dos seus apoiadores. Elevando assim, o contingente numérico contrário
às suas pretensões golpistas.
Bem, havia cinco cargos em
disputa – Presidente da República, Governador, Senador, Deputado Federal,
Deputado Estadual e Deputado Distrital, para serem escolhidos como representantes
da população, em primeiro e em segundo turno, quando necessário. Então, como é
possível questionar o resultado do segundo turno para Presidente da República,
em relação a um certo grupo de urnas, se havia também 12 estados elegendo seus
governadores? Nenhum dos candidatos aos governos estaduais se opuseram aos
resultados. Nem tampouco, quaisquer dos Senadores, Deputados Federais, Deputados
Estaduais e Deputados Distritais, derrotados ou eleitos em primeiro turno.
Lamento, mas não estamos diante
de nenhum argumento plausível, sustentável, factível. Todo o processo foi
verificado, auditado, conferido, avaliado, por diversas autoridades. O que se
vê nesse arrastar de correntes deprimente é a anticidadania em estado bruto. Não
se respeitam as leis, as instituições, as pessoas, ou seja, a ideia é não
respeitar nada e nem ninguém, a fim de satisfazer seus desejos e vontades, mesmo
vindo a instituir o caos no país. Então, eu lhe pergunto, isso é bom para quem,
cara pálida?
Para quem dizia que o Brasil, em
pleno auge da Pandemia, não podia parar, que os cidadãos tinham que sair as
ruas e manterem suas rotinas de trabalho, parece que a opinião mudou
subitamente. Talvez, porque quem esteja na linha de frente da antidemocracia
sejam aqueles que detém as rédeas da política, da economia, nas mãos. Mas, se
engana quem pensa que eles passam incólumes pelo caos. Não, não passam. Porque não
tarda a sua irresponsabilidade afetar a dinâmica do país, a tal ponto de
repercutir diretamente sobre os seus interesses econômicos.
Pena, que “A humanidade erra por ter a sua consciência submersa na ignorância”
(Bhagavad-Gita). São tantas certezas, tantas convicções, que, quando menos se espera,
tropeça no próprio cadarço do seu caos.
Portanto, a única coisa que resta a se dizer, diante desse cenário antidemocrático abjeto, é que “Os verdadeiros democratas não são aqueles histéricos que exigem isto e reivindicam aquilo, que dizem que precisamos de não sei quê e que vamos morrer estúpidos se não fizermos não sei que mais. São os que vivem e deixam viver. São os que respeitam as opiniões, as excentricidades e as manias dos outros, sem ceder à tentação de os desconvencer à força” (Miguel Esteves Cardoso – As Minhas Aventuras na República Portuguesa). Só essa compreensão é capaz de separar o joio do trigo e resgatar a razão em meio à insanidade nacional contemporânea.