quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Licença para perturbar???


Licença para perturbar???

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Recobrar a razão é o que alguns brasileiros precisam com urgência. Há 26 anos o sistema eleitoral brasileiro utiliza as urnas eletrônicas sem que quaisquer dúvidas quanto à confiabilidade do sistema fossem apontadas, que quaisquer resultados eleitorais fossem questionados. O que faz das eleições brasileiras um exemplo de credibilidade, agilidade e avanço para o mundo.

Diante das constantes manifestações antidemocráticas, que seguem desde o resultado do segundo turno eleitoral deste ano, é preciso, então, dizer que nenhum cidadão brasileiro dispõe de licença para perturbar a ordem, o sossego, o direito de ir e vir; muito menos, exercer a ilicitude despudoradamente, como vem ocorrendo país afora.

Se o cidadão comum não se permite mais pensar e raciocinar adequadamente, que tal, as lideranças político-partidárias exercerem o papel de conter os absurdos, de colocar ordem na casa, a fim de que o progresso do país tenha alguma chance de vingar?

Me refiro a essas pessoas, considerando justamente que, muitas delas, foram eleitas ao longo desses 26 anos e jamais se opuseram ou questionaram o referido sistema eleitoral. Foram só alegria e contentamento! Afinal, as eleições lhes permitiram conquistar o poder, a influência, o status, os salários, os penduricalhos, as mordomias, pagas por meio do dinheiro público na forma dos seus milhões.

Assim, tanto o cerrar fileiras com a legião antidemocrata nacional quanto abster-se de quaisquer manifestações, nesse momento, é ultrajante para o país. Talvez, não tenham se dado conta de que nem todos os seus eleitores, aqueles que depositaram votos a seu favor, estejam realmente em plena concordância com as ações ilegais que vêm sendo cometidas no país, inclusive, colocando em risco pessoas gravemente doentes que demandam atendimento médico de urgência.

Mas, em relação ao bem-estar e a saúde, comportamentos assim, não surpreendem se lembrarmos de todo o desserviço prestado em relação à COVID-19, ao escárnio manifesto contra as vítimas das violências urbanas, ao negacionismo contra a vacinação, à fome e à miséria crescente, ... Essas pessoas, em momento algum, tiveram quaisquer comportamentos respeitosos, empáticos, fraternos em relação à vida de seus semelhantes. Então...

Desse modo, depois de perder a eleição, como já determinado e reconhecido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e por todos os órgãos observadores nacionais e internacionais, eles decidiram, portanto, por perderem a simpatia e o respeito de muitos dos seus apoiadores. Elevando assim, o contingente numérico contrário às suas pretensões golpistas.

Bem, havia cinco cargos em disputa – Presidente da República, Governador, Senador, Deputado Federal, Deputado Estadual e Deputado Distrital, para serem escolhidos como representantes da população, em primeiro e em segundo turno, quando necessário. Então, como é possível questionar o resultado do segundo turno para Presidente da República, em relação a um certo grupo de urnas, se havia também 12 estados elegendo seus governadores? Nenhum dos candidatos aos governos estaduais se opuseram aos resultados. Nem tampouco, quaisquer dos Senadores, Deputados Federais, Deputados Estaduais e Deputados Distritais, derrotados ou eleitos em primeiro turno.

Lamento, mas não estamos diante de nenhum argumento plausível, sustentável, factível. Todo o processo foi verificado, auditado, conferido, avaliado, por diversas autoridades. O que se vê nesse arrastar de correntes deprimente é a anticidadania em estado bruto. Não se respeitam as leis, as instituições, as pessoas, ou seja, a ideia é não respeitar nada e nem ninguém, a fim de satisfazer seus desejos e vontades, mesmo vindo a instituir o caos no país. Então, eu lhe pergunto, isso é bom para quem, cara pálida?

Para quem dizia que o Brasil, em pleno auge da Pandemia, não podia parar, que os cidadãos tinham que sair as ruas e manterem suas rotinas de trabalho, parece que a opinião mudou subitamente. Talvez, porque quem esteja na linha de frente da antidemocracia sejam aqueles que detém as rédeas da política, da economia, nas mãos. Mas, se engana quem pensa que eles passam incólumes pelo caos. Não, não passam. Porque não tarda a sua irresponsabilidade afetar a dinâmica do país, a tal ponto de repercutir diretamente sobre os seus interesses econômicos.

Pena, que “A humanidade erra por ter a sua consciência submersa na ignorância” (Bhagavad-Gita). São tantas certezas, tantas convicções, que, quando menos se espera, tropeça no próprio cadarço do seu caos.

Portanto, a única coisa que resta a se dizer, diante desse cenário antidemocrático abjeto, é que “Os verdadeiros democratas não são aqueles histéricos que exigem isto e reivindicam aquilo, que dizem que precisamos de não sei quê e que vamos morrer estúpidos se não fizermos não sei que mais. São os que vivem e deixam viver. São os que respeitam as opiniões, as excentricidades e as manias dos outros, sem ceder à tentação de os desconvencer à força (Miguel Esteves Cardoso – As Minhas Aventuras na República Portuguesa). Só essa compreensão é capaz de separar o joio do trigo e resgatar a razão em meio à insanidade nacional contemporânea.