quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Democracia ou antidemocracia? É isso o que está em jogo!


Democracia ou antidemocracia? É isso o que está em jogo!

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

É espantoso que haja alguém escolhendo o voto, no segundo turno, a partir de indivíduos. Acorda, minha gente! Dentro do cenário de tantas atipias, já descritas pelos analistas dos veículos de informação e comunicação, a maior diz respeito ao fato de que essa é uma eleição de posicionamento a favor ou contra a democracia.

Esse péssimo hábito brasileiro de não nomear corretamente as coisas acaba nisso! Cheios de pudores daqui e dali ninguém rasga o verbo e diz abertamente que o Brasil atual tem sido governado pela ULTRADIREITA. Pois é, antes que ela vencesse na Itália recentemente, o Brasil já respirava esses ares.

Mas, como sempre gosto de apontar nos meus textos, por aqui a direita se divide em muitos matizes. O que muitas vezes causa a falsa impressão de inofensividade, quando na verdade não é bem assim. No fim das contas, independentemente da gradação, a direta faz qualquer coisa para se manter no poder e no controle do país, como fez desde que surgiu pelas mãos de uma herança colonial.

O que está na balança, nesse momento, então, é a Democracia. Não está em discussão esse ou aquele candidato. Não é o partido X ou o partido Y. É, simplesmente,  o direito do cidadão ao livre acesso à informação, sem sigilos de 100 anos; transparência e publicidade no trato da coisa pública, nada de Orçamentos Secretos, por exemplo; sistema institucional de freios e contrapesos ao exercício do poder, de modo que as instituições mantenham seu decoro e sua responsabilidade sem demandar observações mais duras umas das outras; e, equidade na representação de grupos minoritários nas esferas públicas de decisão, inclusive, oportunizando o lugar de fala da diversidade e da pluralidade humana brasileira. Simples assim! 

Aliás, dados os candidatos que restaram na concorrência pela Presidência da República, em segundo turno, é muito fácil analisar as trajetórias de cada um. O que fizeram e o que deixaram de fazer. Em que acertaram e em que erram. Seus posicionamentos em relação à Democracia, a cidadania e a Constituição Federal de 1988. Os veículos de informação e comunicação existentes nos país estão repletos de materiais a respeito, na forma de jornais, de revistas e de um vasto arquivo audiovisual para ser consultado a qualquer tempo.

Essa busca é importante porque é preciso entender que essa eleição é coisa séria, não é possível brincar com a Democracia. Perdê-la é fácil! Recuperá-la pode levar décadas, como o Brasil já experimentou algumas vezes, ao longo de sua história. Estamos, portanto, diante de algo bem maior do que o direito ao exercício do voto, da escolha da representação político-partidária. Nessa de optar ou não, pela democracia, o que está sobre a mesa, principalmente, é aprofundar ou não as próprias desigualdades socioeconômicas. 

E para isso, a ULTRADIREITA não se constrange em defender certas ideias, tais como, o negacionismo, as teorias da conspiração, o racismo, a xenofobia, a misoginia, a homofobia, o conservadorismo, a teocracia. Porque ela entende que é assim que se tem o poder e controle sobre a sociedade, partindo da consolidação do medo para dissipar eventuais riscos que possam ameaçar a sua estabilidade política e econômica.

Devo admitir que me parece muito estranho refletir sobre tudo isso, em pleno século XXI, no auge das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs).  É um cenário discursivo tão retrógrado, esse apresentado pela ULTRADIREITA, que traz a impressão de um mergulho em um tempo de séculos atrás, totalmente desconectado com a contemporaneidade. Aliás, partindo desse entendimento, é que se torna ainda mais difícil de compreender como as atuais gerações conseguem flertar com essas ideias, na medida em que podem viver conectadas à rede de computadores a maior parte de seu tempo.  

Algo que se torna impensado, diante do controle operacionalizado pelos regimes de ULTRADIREITA. Basta ler, por exemplo, a matéria “Entenda como funciona a rede de espionagem de Putin na internet. Vazamento de arquivos de agência que controla redes no país revela mecanismos de censura e repressão do governo” 1 e se perguntar, será que a população brasileira estaria preparada para viver essa realidade?

Realmente, já deveríamos ter superado a fase de refletir a esse respeito! As inúmeras cartas publicadas, dentro e fora do Brasil, em 11 de agosto deste ano, foram substancialmente robustas para extinguir quaisquer sombras de dúvidas a respeito da importância da Democracia, da lisura do sistema eleitoral brasileiro e da confiabilidade nas urnas eletrônicas. Todos que se pronunciaram na ocasião foram unânimes na sua defesa enfática ao Estado Democrático de Direito, ou seja, um Estado guiado pelas leis e baseado na liberdade da vontade popular.

Portanto, é, no mínimo, constrangedor ver brasileiros e brasileiras discutindo e vociferando sobre figuras humanas, ainda que representativas politicamente, porque estão se esquecendo do que é realmente essencial. Pessoas, representantes político-partidários, vêm e vão, são substituíveis. Mas, os pilares que sustentam o país na sua governança, na sua expressão diplomática, na sua identidade nacional, ou seja, a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, o pluralismo político 2, estes sim, precisam ser mantidos intactos, sem ranhuras, sem abalos.

Não nos esqueçamos das palavras de Rui Barbosa, “A espada não é a ordem, mas a opressão; não é a tranquilidade, mas o terror; não é a disciplina, mas a anarquia; não é a moralidade, mas a corrupção; não é a economia, mas a bancarrota”. Por isso, “O governo da demagogia não passa disso: o governo do medo”; afinal, “A República não precisa de fazer-se terrível, mas de ser amável; não deve perseguir, mas conciliar; não carece de vingar-se, mas de esquecer; não tem que se coser na pele de antigas reações, mas de alargar e consolidar a liberdade”. Pensemos sobre isso!