Democracia
ou antidemocracia? É isso o que está em jogo!
Por
Alessandra Leles Rocha
É espantoso que haja alguém
escolhendo o voto, no segundo turno, a partir de indivíduos. Acorda, minha
gente! Dentro do cenário de tantas atipias, já descritas pelos analistas dos
veículos de informação e comunicação, a maior diz respeito ao fato de que essa
é uma eleição de posicionamento a favor ou contra a democracia.
Esse péssimo hábito brasileiro de
não nomear corretamente as coisas acaba nisso! Cheios de pudores daqui e dali
ninguém rasga o verbo e diz abertamente que o Brasil atual tem sido governado
pela ULTRADIREITA. Pois é, antes que ela vencesse na Itália recentemente, o
Brasil já respirava esses ares.
Mas, como sempre gosto de apontar
nos meus textos, por aqui a direita se divide em muitos matizes. O que muitas
vezes causa a falsa impressão de inofensividade, quando na verdade não é bem
assim. No fim das contas, independentemente da gradação, a direta faz qualquer
coisa para se manter no poder e no controle do país, como fez desde que surgiu
pelas mãos de uma herança colonial.
O que está na balança, nesse
momento, então, é a Democracia. Não está em discussão esse ou aquele candidato.
Não é o partido X ou o partido Y. É, simplesmente, o direito do cidadão ao livre acesso à
informação, sem sigilos de 100 anos; transparência e publicidade no trato da
coisa pública, nada de Orçamentos Secretos, por exemplo; sistema institucional
de freios e contrapesos ao exercício do poder, de modo que as instituições
mantenham seu decoro e sua responsabilidade sem demandar observações mais duras
umas das outras; e, equidade na representação de grupos minoritários nas
esferas públicas de decisão, inclusive, oportunizando o lugar de fala da diversidade
e da pluralidade humana brasileira. Simples assim!
Aliás, dados os candidatos que
restaram na concorrência pela Presidência da República, em segundo turno, é
muito fácil analisar as trajetórias de cada um. O que fizeram e o que deixaram
de fazer. Em que acertaram e em que erram. Seus posicionamentos em relação à
Democracia, a cidadania e a Constituição Federal de 1988. Os veículos de
informação e comunicação existentes nos país estão repletos de materiais a
respeito, na forma de jornais, de revistas e de um vasto arquivo audiovisual
para ser consultado a qualquer tempo.
Essa busca é importante porque é
preciso entender que essa eleição é coisa séria, não é possível brincar com a
Democracia. Perdê-la é fácil! Recuperá-la pode levar décadas, como o Brasil já
experimentou algumas vezes, ao longo de sua história. Estamos, portanto, diante
de algo bem maior do que o direito ao exercício do voto, da escolha da
representação político-partidária. Nessa de optar ou não, pela democracia, o
que está sobre a mesa, principalmente, é aprofundar ou não as próprias
desigualdades socioeconômicas.
E para isso, a ULTRADIREITA não
se constrange em defender certas ideias, tais como, o negacionismo, as teorias
da conspiração, o racismo, a xenofobia, a misoginia, a homofobia, o
conservadorismo, a teocracia. Porque ela entende que é assim que se tem o poder
e controle sobre a sociedade, partindo da consolidação do medo para dissipar eventuais
riscos que possam ameaçar a sua estabilidade política e econômica.
Devo admitir que me parece muito
estranho refletir sobre tudo isso, em pleno século XXI, no auge das Tecnologias
da Informação e da Comunicação (TICs). É
um cenário discursivo tão retrógrado, esse apresentado pela ULTRADIREITA, que
traz a impressão de um mergulho em um tempo de séculos atrás, totalmente
desconectado com a contemporaneidade. Aliás, partindo desse entendimento, é que
se torna ainda mais difícil de compreender como as atuais gerações conseguem
flertar com essas ideias, na medida em que podem viver conectadas à rede de
computadores a maior parte de seu tempo.
Algo que se torna impensado,
diante do controle operacionalizado pelos regimes de ULTRADIREITA. Basta ler,
por exemplo, a matéria “Entenda como
funciona a rede de espionagem de Putin na internet. Vazamento de arquivos de
agência que controla redes no país revela mecanismos de censura e repressão do
governo” 1 e se perguntar, será que a
população brasileira estaria preparada para viver essa realidade?
Realmente, já deveríamos ter
superado a fase de refletir a esse respeito! As inúmeras cartas publicadas,
dentro e fora do Brasil, em 11 de agosto deste ano, foram substancialmente
robustas para extinguir quaisquer sombras de dúvidas a respeito da importância
da Democracia, da lisura do sistema eleitoral brasileiro e da confiabilidade
nas urnas eletrônicas. Todos que se pronunciaram na ocasião foram unânimes na
sua defesa enfática ao Estado Democrático de Direito, ou seja, um Estado guiado
pelas leis e baseado na liberdade da vontade popular.
Portanto, é, no mínimo,
constrangedor ver brasileiros e brasileiras discutindo e vociferando sobre
figuras humanas, ainda que representativas politicamente, porque estão se
esquecendo do que é realmente essencial. Pessoas, representantes
político-partidários, vêm e vão, são substituíveis. Mas, os pilares que
sustentam o país na sua governança, na sua expressão diplomática, na sua
identidade nacional, ou seja, a
soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do
trabalho e da livre iniciativa, o pluralismo político 2,
estes sim, precisam ser mantidos intactos, sem ranhuras, sem abalos.
Não nos esqueçamos das palavras de Rui Barbosa, “A espada não é a ordem, mas a opressão; não é a tranquilidade, mas o terror; não é a disciplina, mas a anarquia; não é a moralidade, mas a corrupção; não é a economia, mas a bancarrota”. Por isso, “O governo da demagogia não passa disso: o governo do medo”; afinal, “A República não precisa de fazer-se terrível, mas de ser amável; não deve perseguir, mas conciliar; não carece de vingar-se, mas de esquecer; não tem que se coser na pele de antigas reações, mas de alargar e consolidar a liberdade”. Pensemos sobre isso!