sábado, 4 de junho de 2022

O Meio Ambiente. A 3ª Lei de Newton.


O Meio Ambiente. A 3ª Lei de Newton.

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

À véspera do Dia Mundial do Meio Ambiente, a reflexão que cabe ser feita no momento é bastante simples e óbvia. Enquanto milhões de seres humanos marcham em favor da destruição do planeta, isso não muda o status da importância ambiental. Negar, invisibilizar, negligenciar, ... nada disso desconstrói a relação que existe entre seres humanos e o meio ambiente.  

Portanto, o que se assiste desde a década de 60 com os primeiros eventos globais em torno das discussões socioambientais é uma queda de braços inócua, entre os interesses econômicos e os interesses do meio ambiente.

A supremacia do capital foi o que sempre determinou essa relação. Sobrevivência, salubridade, qualidade de vida, nunca estiveram, de fato, entre as pautas de ação dos governos e dos grandes proprietários dos meios de produção.

De modo que os eventos, apesar de mobilizarem as sociedades e os veículos de comunicação e informação, não conseguiram o feito primordial de conter as investidas e os desdobramentos dos impactos ambientais negativos decorrentes das mais diversas ações antrópicas.

Não é à toa que chegamos ao ponto que chegamos. Efeito estufa. Aumento da temperatura global. Degelo das calotas polares e dos cumes montanhosos. Elevação dos níveis de água oceânicos. Alteração drástica dos regimes pluviométricos em algumas regiões, contrapondo a escassez hídrica em outras. Assoreamento de cursos d’água. Desertificação. ...

O que deixa patenteado que à revelia da vontade humana o meio ambiente se faz presente entre nós. Seja para o bem. Seja para o mal. Ora, não seria, então, mais produtivo tê-lo a nosso favor? Certamente. Mas, não é isso o que desejam as mãos que governam o mundo.  De modo que ficamos, cada vez mais, à mercê de decisões equivocadas e extremamente perigosas.

Não adianta, o ser humano é o intruso nessa história. Foi ele quem invadiu, tomou, pilhou, usurpou, do planeta para satisfazer aos seus próprios interesses. Como se o meio ambiente estivesse ali para esse fim. Como se não estivesse na necessidade de sobrevivência humana a presença dele. Água limpa e farta. Solo limpo e produtivo. Ar limpo. Ecossistemas em pleno equilíbrio.

Portanto, se em breve nada mais restar, é importante compreender que as discussões socioambientais não irão cessar. Esse assunto não será apenas uma página virada na história da humanidade, não. Porque o ser humano terá que debater sobre como sobreviver sem o meio ambiente, se isso for de algum modo possível. É isso mesmo. Se for possível.

Trata-se de uma questão objetiva. Até aqui, a raça humana não conseguiu provar a si mesma que o enriquecimento, que o poder do capital é, realmente, suficiente para prover e garantir a sua sobrevivência. Haja vista todas as recentes catástrofes climáticas ocorridas ao redor do planeta.

Cidades inteiras destruídas pela força das águas, dos ventos, dos incêndios. A humanidade confrontada pela escassez de alimentos, de recursos hídricos em condições de potabilidade, balneabilidade e demais usos, de ar respirável, de solo cultivável, enfim... No entanto, continuamos a correr atrás do dinheiro. Mais. Cada vez mais.   

É como se a humanidade tivesse sido consumida por um torpor incontrolável, que não mede as consequências dos prejuízos e dos riscos que isso representa. Ela não se dá conta que esse movimento tem resultado em uma insuficiência econômica cada vez mais acentuada.

Ora, na medida em que o meio ambiente é destruído, a raça humana, que foi criada a partir da dependência direta dos elementos da natureza, é obrigada a investir cada vez mais em estratégias e planejamentos que venham garantir parâmetros mínimos de qualidade e suficiência para atender as suas demandas. O que significa que seu eventual lucro acaba sendo destinado a reparar os próprios erros e equívocos que ela comete.

Em suma, um ciclo vicioso. Onde as perdas acabam superando, em muito, os ganhos. Sim, porque a destruição ambiental representa a ponta do iceberg de extermínio do próprio ser humano. Cada elemento estruturante da relação natureza e humanidade que é comprometido ou dizimado, leva ao adoecimento das populações. De modo que o ser humano está longe de “vender saúde”.

Ao contrário, está cada vez menos inteiro para desfrutar de suas realizações, conquistas, trabalhos. Uma imensa maioria sobrevive a poder de remédios, de tratamentos, de terapêuticas diversas. Tentando esconder ou dissimular uma aparência de algo que não condiz com a verdade. Daí tantos correrem em busca de uma tal “fonte da eterna juventude” que nunca existiu e tem cada vez menos chance de existir com um planeta à beira do colapso.

Não acredita? Verdade. O stress, caro (a) leitor (a), conhecido como o Mal do Século, por exemplo, mata de maneira impiedosa e silenciosamente. E contra ele o único antídoto seria uma vida equilibrada em todos os sentidos, sem grandes altos e baixos, sem excessos absurdos, sem ousadias imprevidentes. Uma vida biologicamente respeitosa aos limites, as organizações, aos princípios vitais.

Entretanto, nos tornamos o “Coelho Branco”, da história de Alice 1. Sempre apressados. Sempre ofegantes. Sem saber o porquê das coisas. Sem saber para onde ir. Sem saber qual o nosso o papel na vida. Correndo atrás do desconhecido, oprimidos por forças conjunturais arrebatadoras.

O que explica, ao menos em parte, a razão que nos leva a desconsiderar o meio ambiente em que nos inserimos. Ele se transformou em mero cenário, em elemento de menor importância. Afinal, quem escreve o cotidiano são os seres humanos, em momento de protagonismo ou de coadjuvância. Então, o restante precisa caber nas suas vontades, nos seus ideários, nos seus desvarios, sem reclamar, sem fazer objeção.

Por isso, quando ouvir dizer isso ou aquilo sobre o Meio Ambiente, lembre-se das seguintes palavras do cientista Carl Sagan, “A verdade pode ser intrigante. Pode ser difícil lidar com isso. Pode ser contra intuitiva. Pode contradizer preconceitos arraigados. Pode não estar de acordo com o que desejamos desesperadamente que seja verdade. Mas nossas preferências não determinam o que é verdade”.



1 CARROLL, L. Alice no País das Maravilhas. São Paulo: Martin Claret, 2007. Título original em inglês: Alice’s Adventures in Wonderland (1866).  

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