O
Meio Ambiente. A 3ª Lei de Newton.
Por
Alessandra Leles Rocha
À véspera do Dia Mundial do Meio
Ambiente, a reflexão que cabe ser feita no momento é bastante simples e óbvia. Enquanto
milhões de seres humanos marcham em favor da destruição do planeta, isso não
muda o status da importância ambiental. Negar, invisibilizar, negligenciar, ...
nada disso desconstrói a relação que existe entre seres humanos e o meio
ambiente.
Portanto, o que se assiste desde
a década de 60 com os primeiros eventos globais em torno das discussões
socioambientais é uma queda de braços inócua, entre os interesses econômicos e
os interesses do meio ambiente.
A supremacia do capital foi o que
sempre determinou essa relação. Sobrevivência, salubridade, qualidade de vida,
nunca estiveram, de fato, entre as pautas de ação dos governos e dos grandes
proprietários dos meios de produção.
De modo que os eventos, apesar de
mobilizarem as sociedades e os veículos de comunicação e informação, não
conseguiram o feito primordial de conter as investidas e os desdobramentos dos
impactos ambientais negativos decorrentes das mais diversas ações antrópicas.
Não é à toa que chegamos ao ponto
que chegamos. Efeito estufa. Aumento da temperatura global. Degelo das calotas
polares e dos cumes montanhosos. Elevação dos níveis de água oceânicos. Alteração
drástica dos regimes pluviométricos em algumas regiões, contrapondo a escassez hídrica
em outras. Assoreamento de cursos d’água. Desertificação. ...
O que deixa patenteado que à
revelia da vontade humana o meio ambiente se faz presente entre nós. Seja para
o bem. Seja para o mal. Ora, não seria, então, mais produtivo tê-lo a nosso
favor? Certamente. Mas, não é isso o que desejam as mãos que governam o mundo. De modo que ficamos, cada vez mais, à mercê de
decisões equivocadas e extremamente perigosas.
Não adianta, o ser humano é o intruso
nessa história. Foi ele quem invadiu, tomou, pilhou, usurpou, do planeta para
satisfazer aos seus próprios interesses. Como se o meio ambiente estivesse ali
para esse fim. Como se não estivesse na necessidade de sobrevivência humana a
presença dele. Água limpa e farta. Solo limpo e produtivo. Ar limpo. Ecossistemas
em pleno equilíbrio.
Portanto, se em breve nada mais
restar, é importante compreender que as discussões socioambientais não irão
cessar. Esse assunto não será apenas uma página virada na história da
humanidade, não. Porque o ser humano terá que debater sobre como sobreviver sem
o meio ambiente, se isso for de algum modo possível. É isso mesmo. Se for
possível.
Trata-se de uma questão objetiva.
Até aqui, a raça humana não conseguiu provar a si mesma que o enriquecimento,
que o poder do capital é, realmente, suficiente para prover e garantir a sua sobrevivência.
Haja vista todas as recentes catástrofes climáticas ocorridas ao redor do
planeta.
Cidades inteiras destruídas pela
força das águas, dos ventos, dos incêndios. A humanidade confrontada pela escassez
de alimentos, de recursos hídricos em condições de potabilidade, balneabilidade
e demais usos, de ar respirável, de solo cultivável, enfim... No entanto,
continuamos a correr atrás do dinheiro. Mais. Cada vez mais.
É como se a humanidade tivesse
sido consumida por um torpor incontrolável, que não mede as consequências dos prejuízos
e dos riscos que isso representa. Ela não se dá conta que esse movimento tem
resultado em uma insuficiência econômica cada vez mais acentuada.
Ora, na medida em que o meio
ambiente é destruído, a raça humana, que foi criada a partir da dependência direta
dos elementos da natureza, é obrigada a investir cada vez mais em estratégias e
planejamentos que venham garantir parâmetros mínimos de qualidade e suficiência
para atender as suas demandas. O que significa que seu eventual lucro acaba
sendo destinado a reparar os próprios erros e equívocos que ela comete.
Em suma, um ciclo vicioso. Onde as
perdas acabam superando, em muito, os ganhos. Sim, porque a destruição
ambiental representa a ponta do iceberg de extermínio do próprio ser humano. Cada
elemento estruturante da relação natureza e humanidade que é comprometido ou
dizimado, leva ao adoecimento das populações. De modo que o ser humano está
longe de “vender saúde”.
Ao contrário, está cada vez menos
inteiro para desfrutar de suas realizações, conquistas, trabalhos. Uma imensa
maioria sobrevive a poder de remédios, de tratamentos, de terapêuticas diversas.
Tentando esconder ou dissimular uma aparência de algo que não condiz com a
verdade. Daí tantos correrem em busca de uma tal “fonte da eterna juventude” que nunca existiu e tem cada vez menos
chance de existir com um planeta à beira do colapso.
Não acredita? Verdade. O stress,
caro (a) leitor (a), conhecido como o Mal do Século, por exemplo, mata de
maneira impiedosa e silenciosamente. E contra ele o único antídoto seria uma
vida equilibrada em todos os sentidos, sem grandes altos e baixos, sem excessos
absurdos, sem ousadias imprevidentes. Uma vida biologicamente respeitosa aos
limites, as organizações, aos princípios vitais.
Entretanto, nos tornamos o “Coelho Branco”, da história de Alice 1. Sempre apressados. Sempre ofegantes. Sem
saber o porquê das coisas. Sem saber para onde ir. Sem saber qual o nosso o
papel na vida. Correndo atrás do desconhecido, oprimidos por forças
conjunturais arrebatadoras.
O que explica, ao menos em parte,
a razão que nos leva a desconsiderar o meio ambiente em que nos inserimos. Ele se
transformou em mero cenário, em elemento de menor importância. Afinal, quem
escreve o cotidiano são os seres humanos, em momento de protagonismo ou de coadjuvância.
Então, o restante precisa caber nas suas vontades, nos seus ideários, nos seus
desvarios, sem reclamar, sem fazer objeção.
Por isso, quando ouvir dizer isso
ou aquilo sobre o Meio Ambiente, lembre-se das seguintes palavras do cientista
Carl Sagan, “A verdade pode ser
intrigante. Pode ser difícil lidar com isso. Pode ser contra intuitiva. Pode contradizer
preconceitos arraigados. Pode não estar de acordo com o que desejamos desesperadamente
que seja verdade. Mas nossas preferências não determinam o que é verdade”.
1 CARROLL, L. Alice no País das Maravilhas. São Paulo: Martin Claret, 2007. Título original em inglês: Alice’s Adventures in Wonderland (1866).