Ladeira
a baixo...
Por
Alessandra Leles Rocha
Ladeira a baixo é uma boa
expressão para definir o momento atual. As tentativas do fundamentalismo
contemporâneo protagonizadas pelas diversas correntes da direita global podem
fortalecer uma nova ordem social no mundo; mas, não exatamente como elas acreditam
e almejam.
Enquanto se digladiam dentro de
suas próprias fronteiras, e algumas vezes fora delas, o que muitos países,
talvez, não tenham se dado conta (ou não queiram admitir) é o fato de que toda
essa instabilidade é a tempestade perfeita para suas próprias derrocadas.
Aqui, por exemplo, o
esfacelamento das instituições às vésperas do pleito eleitoral é bastante
emblemático. Suspeitas, investigações, prisões, orbitam o universo da
corrupção, do tráfego de influências e outros “pecados” inconfessáveis, como se o país não pudesse virar as
páginas da sua própria história.
Então, ele se repete, se repete,
se repete, ... enquanto vê quaisquer perspectivas de estabilidade e progresso
desaparecerem no horizonte, como miragem no deserto.
Nos EUA, a grande potência
mundial, são as recentes decisões da Suprema Corte que criam uma aura de
instabilidade social gravíssima, em meio ao caos que a própria economia foi
submetida em decorrência tanto da Pandemia da COVID-19 quanto da recente Guerra
na Ucrânia.
Trata-se de um retrocesso
judiciário tão significativo que pode sim, afetar as bases da Democracia, da
Liberdade e da prosperidade econômica, que eles sempre se orgulharam em
defender.
A história ensina, “grandes impérios um dia acabam ruindo”.
Mas, isso vale também para os pseudoimpérios, que estão distribuídos, por aí,
pela exacerbação narcísica de governos medíocres e instituições demasiadamente
frágeis.
Simplesmente, porque seu excesso
de certezas e convicções absurdas os fazem, mais dia menos dia, acabarem
tropeçando no próprio cadarço.
Sabe aquela história de grandes
marcas que sempre depositaram sua força e hegemonia no nome de mercado e
acabaram sendo surpreendidas pelos concorrentes?
Pois é. Nome não ganha jogo. Nome
não sustenta poder. É assim que o mundo funciona. Essa é a insígnia do
desenvolvimento, da evolução.
Portanto, aqueles que trabalharam
em favor das micro e macro estabilidades tendem a despontar no panorama de uma
nova ordem global. Aliás, o ponto de vista desses bravos previdentes é bastante
simples.
Pautas ideológicas
comportamentais não colocam comida na mesa, não garantem empregos, não
movimentam as bases econômicas, não impulsionam o protagonismo de mercado, não
alinhavam credibilidade nas relações diplomáticas e de comércio exterior, não
criam estruturas de avanço científico e tecnológico. E países precisam disso, não é mesmo?
De modo que não se pode retirar o
foco das demandas prioritárias, justamente em um momento em que o mundo ensaia
uma retomada, depois de três anos difíceis de sobrevivência, diante da
Pandemia.
Os prejuízos foram sentidos em
cada canto do planeta, dentro das especificidades próprias das nações. Pior
para alguns. Menos pior para outros. Mas, todos, sem exceção, não fugiram do
impacto das adversidades.
Então, não dá para “procurar pelo em ovo” em torno de questões
que estão longe de ser um consenso, que criam muito mais dissidência do que
harmonia.
Esses são tempos para deixar o
curso natural da história fluir e criar uma certa estabilização, ainda que
temporária, para em momento mais oportuno buscar uma solução verdadeiramente
profícua.
Agora, segundo analistas e
especialistas, no campo da Economia, a realidade indica uma necessidade de
coesão e coerência na tomada de decisões, na construção de planejamentos
estratégicos, para se aguardar o processo de recuperação socioeconômica que
aponta para um movimento gradual e lento.
Inclusive, torcendo para que
nenhuma outra manifestação do imponderável, nenhuma imprevisibilidade mais
arrasadora, se apresente e coloque o jogo na iminência de novos rearranjos e
organizações.
Por isso, nesses tempos bicudos,
como diz o provérbio, “Prudência e caldo
de galinha não faz mal a ninguém”. Não é hora de ousar, de fazer graça, de
brincar, de instigar a discordância, de desarmonizar o ambiente. O medo da
recessão global tensiona o mundo.
E se a economia vai mal, os
humores sociais se desestabilizam muito mais rapidamente e com muito mais
intensidade. É o medo da inflação. O medo do desemprego. O medo da fome. O medo
do empobrecimento. O medo do adoecimento. O medo em todas as suas formas e
conteúdos.
Isso significa que as investidas
do fundamentalismo contemporâneo, a partir de pautas conservadoras extremistas,
é um desserviço aos países em que elas têm acontecido. Ora, a dignidade de
sobrevivência humana é o que está em jogo.
Assim, é impossível pensar que ao
limitar, retirar, proibir ou tolher direitos já, de certo modo, consagrados, a
maioria da população vai aceitar isso pacificamente.
Principalmente, considerando que
estas decisões são tomadas pela perspectiva minoritária de alguns em detrimento
da maioria, que sustenta a base da pirâmide social.
Querendo ou não, estamos no
século XXI, em plena Era das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). O
mundo convive e coexiste pelo toque nas telas. Tudo acontece, portanto, na
velocidade da luz.
De modo que os conhecimentos são
repartidos e compartilhados aos milhões por segundo, reduzindo, de algum modo,
a impossibilidade de controle ao acesso das pessoas nesse universo virtual.
Enquanto, aqui ou ali as guerras
travadas se baseiam em discussões, quase medievais, outros aproveitam a
oportunidade para travar suas guerras pelo protagonismo e hegemonia global,
tendo a tecnologia como a grande arma de dominação.
Não se esqueça de que o mundo
vive a realidade da chamada Revolução Industrial 4.0! Com seus sistemas
Ciber-físicos, com a internet das coisas, com a computação em nuvem, com a
Inteligência Artificial (IA).
Os países antenados a esse
movimento já entenderam que o domínio da geografia do mundo não necessita mais
de grandes exércitos, de invasões sangrentas, de arsenais sofisticados, de
bombas aqui e ali.
O domínio do mundo está ao alcance das mãos, no olhar atento as telas, nas informações computadorizadas. Quem souber mais, quem desenvolver mais, quem criar mais, quem surpreender mais, vence o jogo. Porque vai se impor nos mercados do mundo. Vai fazer riqueza. Vai estabelecer dependência e domínio tecnológico. Vai dar as cartas. Simples assim!