E aí, está disposto ou não???
Por Alessandra Leles Rocha
Quem não gosta de euforia, de
entusiasmo, de paixão? Tudo isso é muito bom; mas, sob muitos aspectos não muda
o mundo para melhor, não muda a vida para melhor.
Estou vendo muita gente se
virando do avesso no movimento de conscientização sobre a importância de fazer
o título eleitoral e participar do pleito desse ano; mas, falta alguma coisa
nessa agitação. Talvez, um pouco mais de português claro e direto, numa
discussão franca e isenta sobre o exercício cidadão.
Partidarismo à parte. Idolatrias à
parte. Escolhas à parte. Porque esse é um assunto que demanda um desapego
profundo, que envolve, antes de qualquer outra coisa, consciência. E isso é
algo pessoal e intransferível.
Trata-se de um diálogo que você estabelece
consigo mesmo, sem meias verdades, sem meias mentiras, sem precisar ser
diplomático ou polido em demasia. Afinal de contas, a escolha de um
representante, seja em que situação for, é algo de extrema responsabilidade.
Sim. Um representante lhe
representa. Representa os seus interesses, os seus anseios, as suas ideias,
dentro de um determinado espaço, dentro de um determinado tempo. De modo que a
representação política não diz respeito só ao agora.
Ela segue seu curso de consequências
e desdobramentos por muitos e muitos anos. Seja sob aspectos positivos. Seja sob
aspectos negativos. Afinal, ninguém acerta sempre. Porque as escolhas, as
decisões, surgem a partir das conjunturas que se configuram.
Acontece que, no caso da política,
isso tem uma repercussão tão gigantesca que exige sim, uma análise, um
critério, um cuidado, muito maior, a fim de minimizar os impactos.
Tudo porque a política diz
respeito não só a meia dúzia de gatos pingados; mas, de um coletivo que ultrapassa
a cifra dos milhões de cidadãos. Gente de todo jeito, que carrega nos ombros o
peso das implicações relativas à sua própria identidade nacional.
Tem pobre. Tem rico. Tem analfabeto. Tem letrado. Tem ficha limpa. Tem
ficha suja. Enfim... Cada um com a sua realidade, as suas demandas, as suas
expectativas, os seus sonhos, as suas frustrações, ... que ninguém tem o
direito de desmerecer.
E esse me parece o ponto nevrálgico
da reflexão, porque o exercício cidadão brasileiro não foi ensinado a agregar
as diferenças em busca de um denominador comum, para que o sucesso, o
desenvolvimento, o progresso, fosse realmente bom para todos.
Em mais de 500 anos de história,
houve sempre quem ficasse a margem das conquistas, dos direitos, das melhorias.
Afinal, aqui, ali e acolá sempre tinha alguém para se colocar à frente das
prioridades, por se julgar, de alguma forma, superior dentro do estrato social.
O que significa que a
representatividade política acabava dentro de um enviesamento perverso e comumente
indigesto; pois, a cada pleito se repete a sina de decisões ultra individualistas.
Passou da hora de prestar
atenção a essa ideia, “[...]Se o país não for pra cada um / Pode
estar certo / Não vai ser pra nenhum [...]” 1.
E não vai mesmo, se o brasileiro continuar acreditando que mudar pessoas é o
suficiente, é a fórmula do “milagre”.
O poeta Mário Quintana já dizia “Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo
são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas”. E em plena era high tech, os livros associados às
tecnologias da informação e da comunicação têm sim, a obrigação de serem melhor
aproveitados pelo cidadão.
Esse é o momento das
multilinguagens – visuais, sonoras, verbais, espaciais, tecnológicas. De torná-las
ferramentas verdadeiramente capazes de auxiliar na abstração dos conteúdos e na
formulação do próprio entendimento político da realidade. Parar de seguir a
cabeça dos outros como se não tivesse uma cabeça sobre o próprio pescoço!
Sabe, a notícia
de que o “Brasil fica mais uma vez de
fora da reunião do G7”2 tem um caráter
didático nesses tempos eleitoreiros. Pois é, a realidade decidiu puxar o tapete
de quem ainda queria acreditar que a complexa e caótica situação nacional não
impactava a todos os brasileiros.
Que a fome,
a miséria, o desemprego, a inflação, ... tudo isso era preocupação da pobreza,
dos mais desfavorecidos, dos marginalizados. Mas, quando a situação chega a
esse ponto, que “É a terceira vez
consecutiva, nos últimos quatro anos, que o país deixa de ser convidado para a reunião,
que desta vez ocorre na Alemanha, enquanto líderes da África do Sul, Senegal e
Indonésia receberam convites” 3, a “Casa Grande” descobre o tamanho do
perigo que tem pela frente e se percebe tão ameaçada quanto à “Senzala”.
Afinal,
esse é um fórum constituído por sete nações, as quais conjuntamente representam
metade da economia global – Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália
Japão e Reino Unido. Ele se reúne desde 1975 para discutir a Economia do mundo.
Portanto,
esse é um sinal claro de que a nossa Economia vai mal, que as nossas relações
diplomáticas e de comércio exterior vão mal. E esse é um “mal” que se decompõe em efeito cascata sobre todos os brasileiros.
Na medida
em que agrava situações que já estão bastante críticas no cenário atual, tais
como a desvalorização do real frente ao dólar, os impactos das constantes altas
nos juros para tentar conter o arroubo da inflação, a desaceleração da produção
industrial.
Portanto,
quem estiver defendendo que o país está uma maravilha é de um cinismo vexatório,
de uma hipocrisia desconcertante, de uma alienação estúpida. Lamento, mas não
dá para expressar de outra forma!
Será mesmo,
que tem alguém, dentre esses, que pensa em “apagar
o incêndio com tacinhas de champanhe”? Porque o fogo da nossa tragédia se
faz alto! Para cada canto que se olhe, da administração pública, o que se vê é
um cenário de terra arrasada, de escombros de um desmantelamento proposital,
que impede com que a máquina pública reaja satisfatoriamente no cumprimento das
suas obrigações e serviços.
Sabe,
estudamos história; mas, vivemos a história. Por isso, não dá para tecer
comentários e análises somente com base em recortes predefinidos e tendenciosos,
escolhidos a dedo por uns e outros. Retratos são só retratos.
Para
entender o Brasil precisamos assistir ao filme inteiro, sem cortes! É dessa
forma que se torna possível destacar os pontos importantes que nos fizeram
chegar até aqui, de um jeito bom ou ruim.
Nem tudo
foram flores, nem tudo foram espinhos; mas, a carência de cuidados permitiu que
muitas ervas daninhas preenchessem os espaços vazios e destruíssem grande parte
do que havia sobrevivido em meio a tantos vendavais.
Diante disso,
compartilho uma reflexão que é perfeita nesse contexto: “Eu não voto por rótulos. [...] Eu não quero saber das campanhas
eleitorais para nada. Eu quero saber das ideias que as pessoas têm e da maneira
como depois as vão defender e praticar” (Agostinho da Silva – filósofo, poeta e
ensaísta português).
Afinal, a
história não deixa dúvidas ao fato de que “Os
piores males que a humanidade já teve de suportar foram infligidos por maus
governos” (Ludwig Heinrich Edler von Mises – economista austríaco). Mas,
para perceber isso é preciso aquela consciência que não teme colocar os partidarismos
à parte, as idolatrias à parte, as escolhas à parte. E aí, está disposto ou
não???