segunda-feira, 18 de abril de 2022

Nada é igual ... Nem mesmo as guerras.


Nada é igual ... Nem mesmo as guerras.

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Por mais que as experiências pregressas nos tragam algum know-how sobre a vida, nada se repete exatamente da mesma forma. Há sempre uma variação aqui e ali, um elemento surpresa, um certo desalinhamento, para dar contornos e formas bastante particulares aos eventos.

Portanto, a guerra em curso no leste Europeu, estabelecida pela invasão da Rússia ao território ucraniano, pode sim, trazer repercussões e desdobramentos bem mais sinistros e imprevisíveis do que aqueles que o mundo assistiu durante a Segunda Guerra Mundial. A começar pelo robusto arsenal nuclear disponível no planeta.

Até aqui, como já era de se esperar, as grandes potências mundiais conduzem o conflito à certa distância, esperando um arrefecimento voluntário dos ânimos, embora saibam que isso não vai acontecer. Foi assim, na Segunda Guerra. Demorou para que elas admitissem o fracasso diplomático e dialógico; mas, guerras não são meros exercícios militares, não são estabelecidas para acontecer com prazo mínimo e determinado. Guerras são guerras e quem as começa não tem a menor intenção de recuar nos seus propósitos. A verdade, então, é que todos já estão cientes de que a Rússia pretende levar a situação aos extremos.

E mesmo diante de todos os prejuízos, especialmente, os de natureza humanitária, eles parecem não se importar com o estiramento das forças, que vem se configurando no horizonte. Estão mantendo a crise sob constante vigilância e observação, como se fosse suficiente.

Mas, será? Na iminência de completar dois meses de conflito, o mundo já padece efeitos importantes tais como o aumento dos índices de inflação, do fluxo migratório, da insuficiência de matérias-primas e commodities agrícolas para a produção industrial, que geram consequências diretas nas relações socioeconômicas que já se mostravam instáveis por conta da pandemia do Sars-Cov-2 e suas variantes.

Assim, caso a imprevisibilidade venha atuar, mais uma vez, nessa década de tantas incertezas, o mundo pode se deparar com um cenário irremediavelmente caótico, ou seja, uma guerra nuclear. Tudo porque o atual potencial bélico, dessa natureza, é muito maior do que aquele da Segunda Guerra.

Não são algumas poucas bombas nucleares, são milhares. Que podem destruir o mundo em segundos, colocando-o sob o impacto de um resfriamento abrupto em razão de uma nuvem densa de poeira e particulados que encobriria a radiação solar, por um longo período, impossibilitando a sobrevivência da grande maioria dos seres vivos, incluindo os humanos.

Isso significa que a vida poderia ser extinta de acordo com a proximidade do evento. Os mais próximos seriam aniquilados imediatamente. E a medida em que as ondas nucleares fossem se afastando do epicentro, os efeitos seriam sentidos a partir do resfriamento climático intenso, da inexistência de abrigos adaptados para essas condições, da impossibilidade de produção de alimentos, da escassez e contaminação hídrica, da poluição do ar, do aparecimento de doenças desencadeadas pela energia dissipada. Portanto, uma ameaça real a existência dos seres humanos. 

Infelizmente, isso não é tão impossível quanto se imagina. Basta um descuido, um erro de estratégia, um arroubo inconsequente, alguém que queira colocar mais tensão nos acontecimentos, para que isso se torne realidade. O simples fato desse arsenal existir impõe para a raça humana um risco, porque é impossível estimar o limite da beligerância alheia.

Aliás, é bom lembrar que apesar das duas bombas lançadas sobre o território japonês, na Segunda Guerra, com todos os seus efeitos horríveis sobre a população atingida, nada disso fez o mundo retroceder nessa ideia. Ao contrário, colocou-se a produzir um arsenal ainda mais perigoso. O que significa que uma guerra nuclear nunca esteve fora dos planos das grandes potências.

Nem se pode dizer se tratar de uma ameaça psicológica, porque no campo da ciência e tecnologia nuclear acidentes acontecem, mesmo mediante todos os protocolos de controle e segurança estabelecidos. Haja vista o acidente de Chernobyl, no norte da Ucrânia, em 1986, ou do Césio 137, em Goiânia, em 1987, ou de Fukushima, no Japão, em 2011.

Os desdobramentos diretos e indiretos desses acidentes permanecem repercutindo sobre suas populações, obrigando a um processo monitoramento continuo dos níveis de radiação nas regiões afetadas, o que impede o uso e ocupação irrestrita desses espaços. Então, quando o assunto é uma bomba, um artefato desenvolvido e programado para promover um efeito destruidor, devastador, o nível de insegurança que existe é incomensurável.

Daí a estranheza ao ler nos veículos de comunicação que informação que dentre as pautas que o Ministro da Economia brasileiro pretende defender, na viagem que faz aos EUA, está um posicionamento reservado pela manutenção da Rússia como membro do G20, do FMI e do Banco Mundial 1, após carta enviada pelo Ministro das Finanças russo pedindo tal apoio 2.

A Rússia sabe que o Brasil não tem todo esse protagonismo; mas, representa um de seus pouquíssimos aliados com acesso ao cenário internacional, então, ela usa desse recurso. No entanto, para o Brasil isso pode deteriorar, ainda mais, a sua frágil imagem no campo diplomático e de comércio exterior 3.

Vê-se, portanto, que o Brasil não está compreendendo nada de nada ao se prestar a esse papel. As sanções econômicas impostas à Rússia, desde o início dessa guerra, não são um problema nosso. Aliás, em momento algum, a Rússia tem se preocupado com os interesses brasileiros, em relação aos impactos econômicos gerados pelo conflito.

Assim, quaisquer atitudes de alinhamento com os russos podem nos prejudicar ainda mais. Inclusive, se eles por alguma razão decidirem ultrapassar a última fronteira que limita o uso das armas nucleares. Aí, não haverá quem nos defenda! Tudo porque o Brasil decidiu estar do lado da guerra, do morticínio, da destruição.

Estamos brincando com fogo? Não. Estamos brincando com milhares de ogivas nucleares que podem ser apontadas na nossa direção. Estamos brincando com coisa séria, com vidas humanas. Tudo para fazer parecer que somos muito importantes, muito ocupados, muito atuantes; quando, na verdade, não é nada disso.

O país vai a pique, porque eles não sabem o que fazem e metem os pés pelas mãos a torto e a direito. Deveríamos estar pensando nos nossos problemas. Em como vamos sobreviver aos desafios dessa guerra se ela se prolongar ainda mais. Lá fora o Brasil é só mais um na multidão. Ninguém está preocupado conosco, com a nossa sobrevivência, com o nosso bem-estar.

Afinal de contas, as narrativas estão gastas. Os discursos estão vazios. Conquistamos, sem grandes esforços, uma identidade caricata. Cada passo dado e o país parece que vai desintegrar, porque nada se sustenta. Nosso feito será nos destruirmos sem ter ao menos uma ogiva nuclear, contando apenas com a incompetência e a total inabilidade de governança.