sexta-feira, 23 de abril de 2021

Não há inimigo pior ...


Não há inimigo pior ...

 

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

 

Não há inimigo pior para o ser humano do que ele próprio; sobretudo, quando ele se envolve no manto da intempestividade. Destacando-se no cenário de especulações e conjecturas eleitoreiras para 2022, pode-se dizer que o Presidente da República tem se excedido nas manobras sobre o tabuleiro do poder e angariado reveses importantes.

Talvez, por uma busca excessiva por um adversário ideal mais adiante, as tentativas de desqualificação e construção de impopularidade aos pretensos oponentes estão se esvaindo por suas próprias mãos e erros de cálculo.   

Ontem foi mais um 22 de abril a ser esquecido pelo presidente. Primeiro, porque seu discurso na Cúpula do Clima contradisse seus imensos esforços em reduzir a pó o trabalho de seus antecessores. Ao valer-se dos bons resultados brasileiros em um passado recente, ele omitiu sua gestão, até aqui, pela dificuldade que teria em explicar a desconstrução e alteração das bases gestoras sob cuidados do Ministério do Meio Ambiente; o que resultou na promoção de uma escalada de maus resultados estatísticos, no que diz respeito a preservação e conservação dos recursos naturais.

Segundo, porque o pleno do Supremo Tribunal Federal (STF) manteve a decisão sobre a imparcialidade do ex-juiz Sérgio Moro em ação contra o ex-presidente Lula, depois de já terem declarado a incompetência da Vara Federal de Curitiba para julgar o ex-presidente, nas ações penais relativas aos casos do tríplex do Guarujá, do sítio de Atibaia e do Instituto Lula (sede e doações). De modo que ele, agora, volta a gozar de seus direitos políticos e se torna um forte pretenso candidato para 2022.

Se o presidente não fosse inimigo de si mesmo não teria caído nessas esparrelas. Sua ânsia pelo adversário ideal, que não lhe imponha obstáculos e dificuldades de vitória, está sim, criando problemas sérios.

Com grande atraso, agora se sabe como operou os trabalhos dos adeptos da direita e extrema direita nacional para romper com os ciclos de governança contrários as suas opiniões e interesses. De modo que foi por esse caminho que ele se uniu ao ex-juiz, envolvendo-se pela bandeira da “anticorrupção” e o promovendo depois a seu Ministro da Justiça.

Acontece que antes de chegar ao centro do poder federal, o ex-juiz já havia angariado uma popularidade expressiva e trazia consigo uma plataforma de trabalho própria a ser implementada.

Foi o bastante, então, para que as rusgas se exacerbassem e culminassem nas farpas da fatídica reunião de 22 de abril de 2020, quando o desalinhamento dos discursos se mostrou evidente e o ex-juiz, logo em seguida, pediu exoneração do cargo de Ministro. De certo modo, em um primeiro momento, o resultado passava a ideia de que acabara de se construir a desconstrução de um pretenso oponente.

No entanto, ainda não se imaginava que o ex-presidente voltaria ao cenário político, justamente, a partir da análise dos pedidos peticionados pela sua defesa em relação ao ex-juiz. Porque, a verdade da história, naquele momento, ainda transitava pelas tais linhas tortas da vida.

A aliança que havia sido estabelecida, com vistas ao sucesso do pleito de 2018, começava, então, a se desfazer para as pretensões de 2022, diante da reorganização das conjunturas, as quais não mais favoreciam nem ao atual presidente e nem ao ex-juiz.

Mas, não se pode esquecer de que, antes disso, o presidente já havia operado da mesma maneira contra o Governador de São Paulo, na sua cruzada insana contra a vacina CoronaVac, produzida em parceria entre o Instituto Butantã e a Sinovac chinesa, para proteção contra a COVID-19.  

Ciente das pretensões do governador, em relação ao pleito presidencial de 2022, a liderança nas tratativas em relação à vacina precisava ser contida. Então, ele se colocou em oposição à aquisição dos insumos para produção nacional e das vacinas já envazadas; bem como, da sua aplicação junto à população.  

Claro que prejuízos de natureza temporal ocorreram; mas, no frigir dos ovos, o empenho do governador acabou rendendo destaque e protagonismo, no cenário tão tumultuado da gestão da Pandemia no país.

Diante do crescimento exponencial das mortes pelo Sars-COV-2 e a pressão da opinião pública nacional e internacional por uma vacinação ágil e efetiva, o presidente não teve outro caminho a não ser apoiar as vacinas disponíveis no país, incluindo a CoronaVac.

Sem contar que, contrariando as expectativas do presidente, frente a possibilidade de o ex-presidente voltar ao cenário político, o governador sinalizou publicamente a sua pretensão a reeleição ao cargo atual. De modo que os prognósticos quanto ao futuro foram se desfazendo sem controle.

William Shakespeare já dizia, “ou você controla seus atos, ou eles o controlarão”. O tabuleiro do poder não é para amadorismos, precipitações, inquietudes vãs. É preciso saber o que fazer, por que fazer, quando fazer; afinal, como tudo na vida, sobre o poder residem consequências imprevisíveis.

Basta ver, o tamanho dos estragos que o diminuto inimigo viral tem nos feito experimentar. Os desdobramentos das catástrofes climáticas, que se abatem sobre o planeta, em decorrência da fiação perversa e desordenada dos seres humanos. ... Tudo o que acontece na vida faz parte do jogo.

Por isso, não se pode jamais esquecer de que “a felicidade e a liberdade começam com a clara compreensão de um princípio: algumas coisas estão sob nosso controle, outras não. Só depois de lidar com essa questão fundamental e aprender a distinguir entre o que você pode e o que não pode controlar, é que a tranquilidade interna e a eficácia externa se tornam possíveis” (Epiteto – filósofo grego estoico).

Caso contrário, haverá sempre a sombra de um fantasma que cresce e se alimenta no cerne de seu próprio sentido, até que, um dia, consiga consumi-lo de tanta exaustão, sem ao menos lhe dar a possibilidade de responder “Onde foi que eu errei? ”.


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