É
ou não é?!
Por
Alessandra Leles Rocha
Olho para a sociedade brasileira
e não chego a um consenso se ela mergulhou de cabeça na irrealidade ou se,
simplesmente, decidiu se vestir de escárnio da cabeça aos pés. Porque só essas
duas opções poderiam tentar justificar os malabarismos praticados em nome da
flexibilização de valores, princípios e comportamentos, em plena Pandemia.
Talvez, nem devêssemos nos
espantar. Um país que já fez ironia com a expressão “ligeiramente grávida” 1,
nos anos 80, é porque encontra caminhos para crer que do provável ao improvável
tudo pode ser beneficiado pela gradação. Grandes mentiras. Pequenas mentiras.
Grandes corrupções. Pequenas corrupções. ... mas, será que é isso mesmo?!
Bom, porque se você começa a
espetar o braço com um alfinete repetidas vezes, durante horas, aqueles
pequenos furinhos vão se transformar em um ferimento extenso e doloroso. Assim
é a vida, ou é ou não é. Não tem meio termo. Não tem escala de gradação. Porque
os acontecimentos seguem um fluxo contínuo.
O que a princípio parece pouco,
parece bobagem ou irrelevância, vai ganhando corpo e sustentação, até que
explode em consequências inimagináveis. Seguindo, de certo modo, a Teoria da
Conservação de Lavoisier, ou seja, “na
natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”.
No fundo, um mecanismo rápido de
manejar os vieses da vida de maneira mais favorável aos interesses. Como se
fosse adiantar. O problema é que há sempre um “mas” no meio do caminho. Então, essas pseudogradações se
transformam em verdadeiros catalisadores que desconstroem as “realidades idealizadas”, em um piscar
de olhos.
Por isso, trouxe à tona essa
discussão neste momento. A Pandemia parece ter propiciado um terreno fértil
para esse “esticar a corda”. Do modo
com o qual as conjunturas caminham, não tarda ouvirmos, não mais a expressão “ligeiramente
grávida”; mas, “ligeiramente mortos”; como se isso
fosse possível.
Percebem a gravidade disso?
Ninguém fica ligeiramente doente, ligeiramente entubado, ligeiramente sem pulso,
... Olhar a vida sob esse prisma, então, significa atenuar e tornar sem efeito
a gravidade do momento presente, dos problemas a serem enfrentados, das
insuficiências humanas e materiais; enfim...
E é assim que milhares de pessoas estão dialogando com a situação.
No entanto, enquanto elas agem
dessa forma, a realidade se esfacela sob nossos pés. De diferentes formas. Em
diferentes direções e sentidos. Ligeiramente vacinados. Ligeiramente
atendidos. Ligeiramente informados. Ligeiramente responsabilizados. E por
aí vai, até nos depararmos com a ideia de um ligeiro caos.
Nesse ponto, nem sei se a vontade
maior é de sentar no chão e chorar ou de dormir indefinidamente na esperança de
acordar em outra conjuntura. Porque tamanha desfaçatez blasé é demais até para
o Brasil. Será que nos tornamos um bando de avestruzes e nem nos demos conta?!
Sim, porque somente com a cabeça
mergulhada na terra para se abster do mundo dessa maneira. Ora, tudo está
intenso demais. O dia a dia tem sido tingido em cores tão fortes, que nem
Salvador Dalí, Pablo Picasso ou Frida Kahlo, por exemplo, conseguiriam algo
parecido. Os silêncios gritam mais alto do que qualquer convenção de ruídos seria
capaz de fazer. E os corpos sentem e ressentem as vibrações que pairam no ar. O
que significa que já ultrapassamos a fronteira do estar ligeiramente apáticos e abatidos.
Talvez seja necessário reconhecer,
então, que não dá para viver fugindo da vida. Em algum momento, ela vai bater à
porta e querer dialogar, colocando as cartas na mesa, os pingos nos is, como
exigem suas conjunturas. Quanto antes as pessoas se abrirem para esse processo,
melhor. Porque o equilíbrio é sempre a medida ideal para o ser humano, pois
evita frustração, sofrimento, amargura, ...
Afinal, ele aponta o
discernimento para as soluções. Algo fundamental, considerando que a existência
humana é um fluxo contínuo de altos e baixos permeados pelo imprevisível. Além disso,
quem quer viver seus dias sendo apenas ligeiramente
satisfeito, ligeiramente amado, ligeiramente pleno, ligeiramente grato, ...?
Diante dessa reflexão, só posso
me render à sabedoria de Albert Einstein ao ter escrito que: “A vida é como jogar uma bola na parede. Se for
jogada uma bola azul, ela voltará azul. Se for jogada uma bola verde, ela
voltará verde. Se a bola for jogada fraca, ela voltará fraca. Se a bola for
jogada com força, ela voltará com força. Por isso, nunca “jogue uma bola na
vida” de forma que você não esteja pronto a recebê-la. A vida não dá nem
empresta; não se comove nem se apieda. Tudo o que ela faz é retribuir e
transferir aquilo que nós oferecemos”.