sexta-feira, 12 de março de 2021

É ou não é?!


É ou não é?!

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Olho para a sociedade brasileira e não chego a um consenso se ela mergulhou de cabeça na irrealidade ou se, simplesmente, decidiu se vestir de escárnio da cabeça aos pés. Porque só essas duas opções poderiam tentar justificar os malabarismos praticados em nome da flexibilização de valores, princípios e comportamentos, em plena Pandemia.

Talvez, nem devêssemos nos espantar. Um país que já fez ironia com a expressão “ligeiramente grávida” 1, nos anos 80, é porque encontra caminhos para crer que do provável ao improvável tudo pode ser beneficiado pela gradação. Grandes mentiras. Pequenas mentiras. Grandes corrupções. Pequenas corrupções. ... mas, será que é isso mesmo?!

Bom, porque se você começa a espetar o braço com um alfinete repetidas vezes, durante horas, aqueles pequenos furinhos vão se transformar em um ferimento extenso e doloroso. Assim é a vida, ou é ou não é. Não tem meio termo. Não tem escala de gradação. Porque os acontecimentos seguem um fluxo contínuo.

O que a princípio parece pouco, parece bobagem ou irrelevância, vai ganhando corpo e sustentação, até que explode em consequências inimagináveis. Seguindo, de certo modo, a Teoria da Conservação de Lavoisier, ou seja, “na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”.

No fundo, um mecanismo rápido de manejar os vieses da vida de maneira mais favorável aos interesses. Como se fosse adiantar. O problema é que há sempre um “mas” no meio do caminho. Então, essas pseudogradações se transformam em verdadeiros catalisadores que desconstroem as “realidades idealizadas”, em um piscar de olhos.

Por isso, trouxe à tona essa discussão neste momento. A Pandemia parece ter propiciado um terreno fértil para esse “esticar a corda”. Do modo com o qual as conjunturas caminham, não tarda ouvirmos, não mais a expressão “ligeiramente grávida”; mas, “ligeiramente mortos”; como se isso fosse possível.

Percebem a gravidade disso? Ninguém fica ligeiramente doente, ligeiramente entubado, ligeiramente sem pulso, ... Olhar a vida sob esse prisma, então, significa atenuar e tornar sem efeito a gravidade do momento presente, dos problemas a serem enfrentados, das insuficiências humanas e materiais; enfim...  E é assim que milhares de pessoas estão dialogando com a situação.

No entanto, enquanto elas agem dessa forma, a realidade se esfacela sob nossos pés. De diferentes formas. Em diferentes direções e sentidos. Ligeiramente vacinados. Ligeiramente atendidos. Ligeiramente informados. Ligeiramente responsabilizados. E por aí vai, até nos depararmos com a ideia de um ligeiro caos.

Nesse ponto, nem sei se a vontade maior é de sentar no chão e chorar ou de dormir indefinidamente na esperança de acordar em outra conjuntura. Porque tamanha desfaçatez blasé é demais até para o Brasil. Será que nos tornamos um bando de avestruzes e nem nos demos conta?!

Sim, porque somente com a cabeça mergulhada na terra para se abster do mundo dessa maneira. Ora, tudo está intenso demais. O dia a dia tem sido tingido em cores tão fortes, que nem Salvador Dalí, Pablo Picasso ou Frida Kahlo, por exemplo, conseguiriam algo parecido. Os silêncios gritam mais alto do que qualquer convenção de ruídos seria capaz de fazer. E os corpos sentem e ressentem as vibrações que pairam no ar. O que significa que já ultrapassamos a fronteira do estar ligeiramente apáticos e abatidos.

Talvez seja necessário reconhecer, então, que não dá para viver fugindo da vida. Em algum momento, ela vai bater à porta e querer dialogar, colocando as cartas na mesa, os pingos nos is, como exigem suas conjunturas. Quanto antes as pessoas se abrirem para esse processo, melhor. Porque o equilíbrio é sempre a medida ideal para o ser humano, pois evita frustração, sofrimento, amargura, ...

Afinal, ele aponta o discernimento para as soluções. Algo fundamental, considerando que a existência humana é um fluxo contínuo de altos e baixos permeados pelo imprevisível. Além disso, quem quer viver seus dias sendo apenas ligeiramente satisfeito, ligeiramente amado, ligeiramente pleno, ligeiramente grato, ...?

Diante dessa reflexão, só posso me render à sabedoria de Albert Einstein ao ter escrito que: “A vida é como jogar uma bola na parede. Se for jogada uma bola azul, ela voltará azul. Se for jogada uma bola verde, ela voltará verde. Se a bola for jogada fraca, ela voltará fraca. Se a bola for jogada com força, ela voltará com força. Por isso, nunca “jogue uma bola na vida” de forma que você não esteja pronto a recebê-la. A vida não dá nem empresta; não se comove nem se apieda. Tudo o que ela faz é retribuir e transferir aquilo que nós oferecemos”.