quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Os fins, os meios, as traições


Os fins, os meios, as traições

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

 

Embora a Pandemia esteja fazendo estragos no país, é estranho como as principais casas legislativas, Câmara dos Deputados e Senado Federal, parecem totalmente absorvidas pela eleição de suas principais cadeiras. Uma preocupação generalizada em torno de possíveis “traições” partidárias figura, inclusive, como assunto de destaque na mídia nacional. Vejam que não restou nem o cuidado de “tampar o sol com a peneira” para disfarçar como os interesses pessoais deles estão cada vez mais acima de quaisquer interesses da sociedade. E legislando em causa própria vão tecendo uma traição contínua ao povo que os elegeu.

Sim, porque diante de antigas e recentes mazelas, há tempos que o Brasil carece um pouco mais de atenção e vontade de seus congressistas. Porque não se trata só de remover as teias de aranhas sobre pilhas de projetos e processos inertes; mas, no significado prático disso. Não, não se trata apenas de prejuízos diversos para a população. O não “arregaçar as mangas” do Congresso nacional, também, se associa diretamente as posições retardatárias que o país ocupa no cenário mundial.

Sejamos honestos que os nossos nobres representantes não se parecem muito afeitos a se inspirar pelas novidades que acontecem ao redor do globo e resultam em melhorias significativas nos campos do desenvolvimento. Não os vejo olhar para a contemporaneidade e extrair dela as prioridades na hora de pautar as discussões e as deliberações em plenário. Vivem negociando, barganhando interesses, enquanto o objeto principal a ser decidido fica relegado ao fim da fila; se é que ela tem mesmo um. Como se o país pudesse esperar e, por consequência, toda a sua gente.

E isso é algo realmente merecedor de reflexão, porque um processo semelhante tem sido dispensado pelo Executivo; sobretudo, nessa Pandemia, e causado profundo descontentamento e desconforto sociedade afora. Ainda que a postergação seja um comportamento já incorporado pela maioria da população; não significa que ela tenha perdido sua nocividade.  O atraso, a demora, podem matar, como temos visto recentemente acontecer.

 O hábito de trivializar ideias e comportamentos a fim de legitimá-los é, portanto, além de algo bem ultrapassado, muito perigoso. Pena que é, justamente, isso o que se tenta fazer em relação ao fisiologismo no país. Começando pela prática de sucessões quase que hereditárias, as quais alçaram famílias inteiras ao apogeu da política brasileira, a história foi desenhando um panorama de condutas e práticas condenáveis alicerçadas nas trocas de favores que viessem a satisfazer apenas os interesses político-partidários, que persistem ainda hoje.

De modo que no frigir dos ovos, as promessas de campanha não conseguem ultrapassar as fronteiras da linguagem verbal para se materializarem. O que não é difícil perceber, quando a cada novo pleito se ouvem plataformas, defendendo demandas já manifestas tantas vezes no passado, que haveria tempo hábil para que tivessem sido solucionadas, mas não foram. Apesar disso, como a “credulidade” ainda teima em resistir, essas promessas se traduzem no sucesso eleitoral de alguns.

No entanto, à revelia de vontades e quereres de muitos, por sorte a roda da vida está começando a girar diferente. Talvez, finalmente, tenhamos alcançado o que disse Mário Sérgio Cortella sobre a esperança, ou seja, não confundirmos esperança de o verbo esperançar com esperança do verbo esperar. “[...] Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo” (Trecho retirado do livro “Educação e Esperança”[1]).

Isso significa que a sociedade, mesmo em seus vieses mais abandonados e carentes, começa a dar sinais de almejar por uma representatividade que de fato lhe represente. Que seja sua voz. Que lute por suas demandas e sonhos. Que seja ponto de consenso; um denominador comum nas tribulações. Que valorize e respeite o voto que recebeu de você, na simbologia máxima que ele traduz. Afinal, de cada beijo traidor recebido até hoje, todos já estão fartos de saber que o fim nunca foi diferente daquele da história original. Então...