sábado, 26 de dezembro de 2020

Como será o amanhã?!


Como será o amanhã?!

 

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

 

 

Quem diria que o ser humano iria fazer aposta com a própria vida! Houve um tempo em que acreditei piamente que as pessoas possuíam instinto de sobrevivência e preservação. Mas, vendo o mundo como está, me questiono todos os dias a esse respeito. A humanidade foi envolvida pela força do imediatismo. Que se danem as consequências! ...

A questão é que elas chegam! Inevitavelmente, elas chegam. À revelia de vontades e desejos, o cotidiano é muito mais complexo do que se possa imaginar ou querer. A vida é tecida sobre um labirinto de regras, de normas, de protocolos, de leis, os quais ultrapassam os limites da displicência humana.

Não se trata de muito ou pouco conhecimento a respeito. Nem de querer ou não os seguir. Eles estão lá e pronto. Fingir que não viu ou quaisquer outras desculpas não se sustentam. As decisões sempre cobram seu preço; sobretudo, quando tomadas sem pesar os prós e os contra, sem considerar as possibilidades e seus vieses. A ansiedade não é uma boa conselheira. Porque o “agora” podem ser muitos; nunca se sabe.   

Pena que a humanidade abriu mão de pensar, de refletir, para transitar pelos atalhos, pelos pretextos, pelos subterfúgios insustentáveis. Como se a vida pudesse ser vivida na concepção de um jogo de regras em constante mutação, segundo os interesses e necessidades do jogador. Só que não é assim.

De modo que esse processo vai tecendo teias enoveladas que parecem não ter fim. Os problemas vão se misturando, se confundindo, se tornando mais e mais complexos e difíceis; embora, pudessem ter sido tão simples de resolver no início da sua gênese. Então...

Há uma arrogância intrínseca ao ser humano que o faz pensar não precisar pensar, ou que pode delegar essa tarefa a quem possa interessar e só usufruir da praticidade do chamado “efeito manada” da existência humana. Ele não gosta de despender seu tempo aprendendo. Não lê manuais. Não se importa com as leis. Não considera as regras. Enfim... age sob a batuta da própria cabeça. Estufa o peito para ostentar seus achismos. Para dar seus jeitinhos. Para se vestir de esperteza e embromação. Até que um dia “a casa cai” como haveria de ser.

Por mais autonomia que o ser humano deva manifestar a sua existência, ela não é fruto do acaso e nem tampouco está dissociada do mundo. A individualidade não é o bastante para sobrepor a coletividade. Não é à toa que Santo Agostinho já dizia “Há homens que se agarram a sua opinião, não por ser verdadeira, mas simplesmente por ser sua”. E um ponto importantíssimo nessa reflexão, é que a velocidade com que a vida responde a esse tipo de imprevidência pode ser mais rápida que a esperada.

Para se absterem do comprometimento, da responsabilidade, da análise, os seres humanos acabam construindo um pacto velado de confiança entre si. Depositam uns aos outros níveis de expectativa e credulidade sobre o incerto, o incomensurável, que chega a assustar.

Sabe aquela velha história de não se debruçar sobre as notas de rodapé, as letrinhas miúdas dos contratos?! Apenas dispensam uma leitura dinâmica mequetrefe e fim. E na insistência dos avisos e alertas, dão de ombros e fazem ouvidos de mercador. É como se “de repente” se esquecessem de que não devemos confiar nem mesmo na própria sombra.

Aí, quando o barco naufraga, a bomba estoura, a casa implode, choram sua vitimização sem pudores. Como se pudessem realmente se distanciar mais uma vez do comprometimento, da responsabilidade, da análise, dos fatos em si. E se há coisas que podem ser remendadas, restauradas, recuperadas, há outras que não. São definitivas, imutáveis. Prejuízos que custam a própria vida ou a de muitos outros.

Por mais afoitas, desesperadas ou imediatistas que as pessoas sejam, sob muitos aspectos o mundo ainda é o mesmo. A rotação da Terra permanece em 24 horas. A translação em 365 dias.  A morte sem aviso prévio.  ... Isso significa, então, que ao invés de debochar e de menosprezar a vida, você devesse dispensar “Cuidado com seus pensamentos, eles podem se tornar palavras. Cuidado com suas palavras, elas podem se tornar ações. Cuidado com suas ações, elas podem se tornar hábitos. Cuidado com seus hábitos, eles podem se tornar seu caráter. Cuidado com seu caráter, ele pode se tornar seu destino” (frase do filme A Dama de Ferro). Assim, antes de se perguntar como será o amanhã, observe antes como está o seu agora.