Como será o amanhã?!
Por Alessandra Leles
Rocha
Quem diria que o ser humano iria fazer aposta com a própria
vida! Houve um tempo em que acreditei piamente que as pessoas possuíam instinto
de sobrevivência e preservação. Mas, vendo o mundo como está, me questiono todos
os dias a esse respeito. A humanidade foi envolvida pela força do imediatismo. Que
se danem as consequências! ...
A questão é que elas chegam! Inevitavelmente, elas chegam. À
revelia de vontades e desejos, o cotidiano é muito mais complexo do que se
possa imaginar ou querer. A vida é tecida sobre um labirinto de regras, de
normas, de protocolos, de leis, os quais ultrapassam os limites da displicência
humana.
Não se trata de muito ou pouco conhecimento a respeito. Nem de
querer ou não os seguir. Eles estão lá e pronto. Fingir que não viu ou
quaisquer outras desculpas não se sustentam. As decisões sempre cobram seu
preço; sobretudo, quando tomadas sem pesar os prós e os contra, sem considerar
as possibilidades e seus vieses. A ansiedade não é uma boa conselheira. Porque
o “agora” podem ser muitos; nunca se sabe.
Pena que a humanidade abriu mão de pensar, de refletir, para
transitar pelos atalhos, pelos pretextos, pelos subterfúgios insustentáveis. Como
se a vida pudesse ser vivida na concepção de um jogo de regras em constante
mutação, segundo os interesses e necessidades do jogador. Só que não é assim.
De modo que esse processo vai tecendo teias enoveladas que
parecem não ter fim. Os problemas vão se misturando, se confundindo, se
tornando mais e mais complexos e difíceis; embora, pudessem ter sido tão
simples de resolver no início da sua gênese. Então...
Há uma arrogância intrínseca ao ser humano que o faz pensar
não precisar pensar, ou que pode delegar essa tarefa a quem possa interessar e
só usufruir da praticidade do chamado “efeito manada” da existência humana. Ele
não gosta de despender seu tempo aprendendo. Não lê manuais. Não se importa com
as leis. Não considera as regras. Enfim... age sob a batuta da própria cabeça. Estufa
o peito para ostentar seus achismos. Para dar seus jeitinhos. Para se vestir de
esperteza e embromação. Até que um dia “a casa cai” como haveria de ser.
Por mais autonomia que o ser humano deva manifestar a sua existência,
ela não é fruto do acaso e nem tampouco está dissociada do mundo. A
individualidade não é o bastante para sobrepor a coletividade. Não é à toa que Santo
Agostinho já dizia “Há homens que se
agarram a sua opinião, não por ser verdadeira, mas simplesmente por ser sua”.
E um ponto importantíssimo nessa reflexão, é que a velocidade com que a vida
responde a esse tipo de imprevidência pode ser mais rápida que a esperada.
Para se absterem do comprometimento, da responsabilidade, da
análise, os seres humanos acabam construindo um pacto velado de confiança entre
si. Depositam uns aos outros níveis de expectativa e credulidade sobre o
incerto, o incomensurável, que chega a assustar.
Sabe aquela velha história de não se debruçar sobre as notas
de rodapé, as letrinhas miúdas dos contratos?! Apenas dispensam uma leitura dinâmica
mequetrefe e fim. E na insistência dos avisos e alertas, dão de ombros e fazem ouvidos
de mercador. É como se “de repente” se esquecessem de que não devemos confiar
nem mesmo na própria sombra.
Aí, quando o barco naufraga, a bomba estoura, a casa implode,
choram sua vitimização sem pudores. Como se pudessem realmente se distanciar
mais uma vez do comprometimento, da responsabilidade, da análise, dos fatos em
si. E se há coisas que podem ser remendadas, restauradas, recuperadas, há
outras que não. São definitivas, imutáveis. Prejuízos que custam a própria vida
ou a de muitos outros.
Por mais afoitas, desesperadas ou imediatistas que as pessoas
sejam, sob muitos aspectos o mundo ainda é o mesmo. A rotação da Terra permanece
em 24 horas. A translação em 365 dias. A
morte sem aviso prévio. ... Isso significa,
então, que ao invés de debochar e de menosprezar a vida, você devesse dispensar
“Cuidado com seus pensamentos, eles podem
se tornar palavras. Cuidado com suas palavras, elas podem se tornar ações. Cuidado
com suas ações, elas podem se tornar hábitos. Cuidado com seus hábitos, eles
podem se tornar seu caráter. Cuidado com seu caráter, ele pode se tornar seu
destino” (frase do filme A Dama de
Ferro). Assim, antes de se perguntar como será o amanhã, observe antes como
está o seu agora.