Natal...
Por
Alessandra Leles Rocha
Os mais céticos podem até torcer o
nariz; mas, que o tempo natalino consegue materializar a subjetividade que
existe em cada um, isso é fato. O que alguns chamam de “clima de Natal” é algo
realmente arrebatador e transformador na sociedade.
De forma mais ou menos acentuada,
pouco importa. A verdade é que esse fenômeno não visível traz à tona uma
diversidade de sentimentos e emoções, nem sempre disponíveis; embora,
essenciais a todos os dias do ano.
Para início de conversa, por aqui a
imagem do Natal é diferente. Não há neve e nem os seus tradicionais bonecos com
gorros e cachecóis coloridos e um nariz de cenoura, produzidos pelas crianças
nas ruas e parques. Ninguém sai às compras de gigantescos pinheiros e os sai
arrastando por aí. As cozinhas não se tornam aromatizadas pelo cheiro dos
biscoitos de gengibre que farão a festa da meninada. Enfim, a visão romantizada
da festa natalina nos países do hemisfério norte está apenas no imaginário.
Afinal de contas, no Natal do
hemisfério sul tudo acontece em pleno verão. Muita chuva. Muito sol. Muito
calor. As decorações apesar de inspiradas pela imaginação, vez por outra, levam
um toque tropical, por assim dizer. Papai Noel, às vezes, se veste de surfista.
Frutas ajudam a compor a mesa da ceia. Mas,
nem por isso, a descontração afasta as pessoas de certa introspecção motivada pelo
invisível presente no corre-corre de final de ano.
Não se trata de uma introspecção
melancólica, triste; apenas, um olhar mais terno, mais humano, mais
gentil,... consigo e com o mundo. Um
olhar que faz pensar, refletir sobre a vida, as relação humanas... De modo a se
fazer um balanço do aprendizado, das perdas e ganhos do cotidiano, do nível de
apego e desapego no campo do materialismo selvagem. Um olhar capaz, talvez, de
nos mostrar quem somos e o que podemos fazer para sermos melhores a cada dia.
De repente, num breve suspiro, é que
essa introspecção nos invade para ganhar matéria e forma. Está muito além do
cenário convidativo. Muito além das compras e presentes. Muito além dos
preparativos culinários. Muito além... Muito além mesmo.
Está abaixo das camadas mais
profundas da alma, como uma simbiose entre a essência humana e a essência do
Natal, que transcende o explicável, o compreensível. Apenas, se reflete no
olhar, no sorriso, nos mínimos e fundamentais gestos da convivência humana. Quem
sabe, a verdadeira estrada para uma coexistência pacífica e harmonizada.
O Natal nos faz sermos outros
dentro de nós mesmos. Outros que sabem sonhar acordado. Outros que vivem o
agora até a última gota de açúcar do algodão doce. Outros que se rendem
despudoradamente as manifestações de carinho e de aconchego. Outros que são
estopim para a motivação e a promoção humana. Outros cujo amor é sinônimo de
paz e tranquilidade. Outros cujo trabalho expressa a gratidão em realizar.
Outros... Muitos outros. E não há como não se render a essa prática
contemplativa de si mesmo.
Portanto, Natal não é jornada
finda. Natais são votos de recomeço, de confiança, de transformação, de
reavaliação humana que trocamos uns com os outros. Uma pausa involuntária na
realidade caótica para conseguir enxergar o que há de belo, puro e sagrado em
cada um. Uma abdicação de senões, de rótulos, de preconceitos, de achismos, de
modismos... para absorver o que a vida tem de mais natural, de mais simples, de
mais essencial.
Feliz Natal! Merry Christmas! Feliz
navidad! Joyeux Noël! Buon Natale!... agora e em
todos os outros que ainda hão de vir; afinal, isso é o que Papai Noel pode
realmente desejar de mais especial a você e aos seus.