Escrever...
Por Alessandra Leles
Rocha
Cada vez mais acredito que a
escrita seja um bálsamo para alma. Descarregar silenciosamente os pensamentos
sobre o papel é mesmo terapêutico. Sem ninguém
para fazer objeções e censuras, a liberdade, então, floresce em campo livre. Em tempos de tantos “sapos” engolidos a seco,
só mesmo escrevendo sem maiores preocupações com regras e normas linguísticas, para
dar vazão aos incômodos do cotidiano sejam eles particulares ou coletivos.
Anda difícil, complicado mesmo, carregar
o peso do mundo sobre os ombros, sem dispensar algum mísero fiapo de tempo,
colocando as ideias no lugar. Então, nada melhor do que fazê-lo escrevendo. A escrita pede calma, atenção; pois, não dá
para escrever sem pensar. Mas, basta o primeiro traço no papel para uma
avalanche invadir os espaços em branco e firmar seu registro.
Como escrever é um diálogo de um só
sujeito, cada palavra ali carrega um pouco, às vezes muito, daquela identidade.
As ideias, os discursos, são revelações mesmo quando conscientemente não sejam
essas as intenções; mas, talvez, por isso, escrever seja tão importante ao
processo de autoconhecimento. Por incrível que pareça é mais fácil medir as
palavras na oralidade do que na escrita, na medida em que presas na
materialidade do papel se pode ler e reler diversas vezes e extrair de cada vez
uma nova significação.
Traços de emoção, de sentimentos,
de acontecimentos, de vida. Palavras que caprichosamente equilibram as
dualidades do ser. A naturalidade da escrita aproxima-nos as afinidades, a essência
em comum. Por isso, ora gostamos ora não. Tempos depois de escrever é sempre possível
questionar as razões de uma escrita e elevá-la do “céu ao inferno”; afinal, as
palavras imóveis não recebem a mesma clemência da nossa própria evolução, que
nos faz e refaz a cada instante.
Por isso temos tanto a escrever, extravasar
sem sair do lugar, sem um único movimento dos lábios. Enquanto tudo muda e a alma
impactada precisa de alento capaz de ressignificar pacificamente as transformações,
antes que a efervescência lhe consuma em fogo alto, ceder à escrita é o caminho.
Quantas palavras, então, nos fazem sujeitos de nossa própria história? Só
quando nos tornamos efetivamente letrados é que nos sentimos capazes de
desbravar o mundo.
Como disse Fernando Pessoa, “Eu não
escrevo em Português. Escrevo eu mesmo”. Assim, a escrita nos possibilita
transitar pela vida, de uma maneira mais reflexiva e crítica. E para essa
jornada todos estão aptos sem exceção, basta querer, basta ousar, basta se
permitir o presente. Cada vez que você escreve é como se uma borboleta rompesse
o próprio casulo. Palavras são capazes de voar, de transcender, de transformar...
São um jeito, quem sabe simples, de se tornar protagonista da própria vida, um
colaborador do mundo; especialmente, quando a escrita busca revelar o lado bom
da existência humana.