O que a Soberba nos diz?
Por Alessandra Leles Rocha
A reflexão do dia deveria ser “O importante
não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros
fizeram de nós” 1.É assim que surgem os excessos e a ideia de que se pode realizar sem limites, como se estivéssemos acima do Bem e do Mal.
Sim, o ser humano na sua busca pelo
pertencimento gosta de ser elogiado, bajulado, enaltecido... É a satisfação
maior do seu Ego, a componente psíquica de interação
do ser humano com a sua realidade, adequando os seus instintos primitivos com o
ambiente em que vive, e do seu Superego, a componente psíquica que se desenvolve a partir do Ego e consiste na representação dos ideais e valores morais e culturais do indivíduo.
O problema é que essa estimulação em demasia pode abalar
as fundamentações realistas do indivíduo e conduzi-lo a um patamar equivocadamente
idealizado. Quando a irrealidade cria um véu que obscurece os sentidos e leva o
se humano a se julgar maior e mais importante do que quaisquer um de seus
pares, algo está errado.
Assim são os “autocratas” na história 2. Como ser um representante da sociedade
e de seus interesses, na medida em que só consegue perceber os fatos a partir da
ótica do próprio prisma? Com o pensamento de que “se não estão comigo estão
contra mim”, se estabelece uma carência plena de empatia com a diversidade existente
no mundo, o que torna impossível consolidar uma coexistência pacífica e
equilibrada.
A soberba com que o indivíduo se reveste blinda a sua
capacidade de dimensionar os impactos negativos do seu egocentrismo. Afinal, os
que fomentam a idolatria do soberbo estão sempre em busca de uma quirela de status,
de poder ou de dinheiro, não se preocupando em absoluto com as demandas, as
mazelas coletivas, que a negligência e o descompromisso podem causar. É, por isso,
que os “Absolutos” dispõem de um séquito a lhe seguir.
Como não há o contraditório nesse “mundo idealizado”, uma
certeza absoluta se estabelece. Não são à toa tantos exemplos disso espalhados
pelo globo. Em países desenvolvidos. Em países em desenvolvimento. Em países
subdesenvolvidos. Há uma perda total do senso de responsabilidade, de
governança, de cidadania, de altruísmo. Apenas os fins lhes justificam todos os
meios.
Eles transitam na contramão de seus próprios discursos;
pois, se eles representam, ainda que em parte, suas respectivas populações, a verdade
é que não se enxergam semelhantes a elas, agindo a revelia de direitos e
deveres. Eles dispõem de tudo a seu favor, enquanto a base de sua pirâmide é
totalmente invisibilizada, embora seja ela a responsável pela manutenção dos
seus delírios.
O que eles mesmos fazem do que os outros fizeram deles
nos aponta para o tamanho da desigualdade, da injustiça, da perversidade que
reside entre os seres humanos. Na medida em que direitos e deveres são
relativizados ao peso do status,
do poder ou do dinheiro, reafirmamos a ideia de que poucos, muito poucos, têm
seu acesso à dignidade cidadã assegurado.
Porém, isso tende a mudar, não porque eu ou você
desejamos; mas, porque as próprias conjunturas conduzirão a esse caminho. Há uma
visível impaciência e indignação pairando sobre o mundo. Há um cansaço moral
movendo os corpos e as palavras. A sociedade está reaprendendo a ouvir e a
falar impulsionada pelos absurdos que a rodeia. Ela não se impressiona mais com
a retórica, o que lhe interessa são os fatos, as soluções, a mudança para
melhor. É por isso que, em breve, a soberba deixará muitos “reis nus” 3 por aí.