Um peso e um milhão de
medidas
Por Alessandra Leles
Rocha
Essa é a melhor tradução para a capacidade intrínseca do
brasileiro em flexibilizar as questões da vida. Das menores as maiores decisões
a serem tomadas, o instinto de resolver segundo a ótica do próprio umbigo é
sempre tentador e nunca termina de maneira satisfatória e ética.
Um exemplo simples e clássico disso é a bancarrota que o Brasil
experimenta na última década, quando chegamos ao fundo do poço no trato da coisa
pública, ou melhor, do dinheiro público. A má gestão que sempre permeou a história
nacional, desde os tempos coloniais, insiste em ditar os rumos da nossa nau em
tempos difíceis e ariscos.
Não sei se por opção ou por alienação, mas os ares de espanto
que alguns fazem diante dos acontecimentos exibidos na mídia é vergonhoso. Afinal
de contas, de tão requentados os fatos e as notícias não dá mais para chocar ninguém.
Vivemos os mesmos dos mesmos há séculos, apenas perpetuando promessas e indignações
vãs.
Tudo, todas as nossas mazelas são fruto do mau emprego dos
recursos públicos. Sim, porque o dinheiro existe em profusão, basta ver as
cifras da corrupção nacional em todos os seus veios federativos. O ponto
crítico está no fato dele, simplesmente, não alcançar nunca o seu objetivo constitucional
de sanar as demandas da população.
A indústria da seca1
que rendeu votos durante décadas na região nordeste brasileira é um exemplo típico.
Mas, na verdade, a ideia de quem detém o
poder é mesmo não resolver nenhum problema e a cada pleito eleitoral prometer solução,
enquanto os recursos destinados se esvaem para longe do cidadão contribuinte
nos anos de governança. Talvez essa seja a maior de todas as “regras de ouro” 2 do nosso país, ou seja, entra ano e sai
ano e “tudo como dantes no quartel de Abrantes”.
Mas a repetição indiscriminada dessa práxis, de repente fez
iluminar com mais nitidez o que parecia de certa forma encoberto, ou seja, as péssimas
condições de vida para uns em detrimento de outros. A chamada “Constituição Cidadã” 3 que completa essa ano três décadas da
sua promulgação não tem muito que comemorar na prática, já que a realidade de todos os dias aponta um abismo que se
agiganta entre os membros da nação.
Enquanto as contas públicas não fecham por razões “obscuras”,
a do cidadão comum é pelo desemprego4,
pelos baixos salários 5, pela
necessidade de suprir os direitos sociais previstos em lei (mas, não de fato).
O curioso é pensar que as diferentes esferas de governo gastam aquilo que não produzem,
ao contrário do cidadão. Mas, é esse sujeito invisibilizado, maltratado, sugado
é quem precisa custear a própria sobrevivência e a dos outros, seus “dignos
representantes”.
E não bastasse tudo
isso, nossos gestores públicos não se constrangem em abusar de uma criatividade
de administração bizarra que contradiz quaisquer iniciativas de retomada da
ética e do equilíbrio econômico do país. Os privilégios das “cortes” permanecem
intocados para que os cortes aconteçam na base da pirâmide, mesmo que para isso
seja necessário alterar a regra que proíbe ao governo realizar operações de crédito
(empréstimos) para pagar despesas correntes ou de custeio da máquina pública.
Bom, se o governo federal consegue mudar às
regras do jogo; então, abrem-se precedentes sem limites para todos os demais entes
da federação. Aí, a crise a qual vivem vários estados brasileiros - com salários
atrasados, privatização de empresas, venda de imóveis,... – se aprofundaria
ainda mais.
Já
dizia Winston Churchill, “Não adianta dizer: ‘Estamos
fazendo o melhor que podemos’. Temos que conseguir o que quer que seja
necessário”. E isso, meus caros, significa hombridade para assumir os erros e promover os ajustes necessários com firmeza e dignidade. Não se cura uma doença com placebos!