Olhe por trás do rótulo...
Por Alessandra Leles Rocha
Identificados
por números, nomes, apelidos e adjetivos, vez por outra, nada amistosos, assim
caminham os seres humanos. Sob a marca de rótulos e mais rótulos os dias passam
e fazem a humanidade se esquecer de que por trás deles pulsa um coração.
É
certo que somos diferentes, únicos em nossa espécie. No entanto, somos humanos
e, como tal, regidos pela razão e pela sensibilidade; assim como, por demandas
comuns de sobrevivência. Em nome da nossa aceitação social, buscamos o
reconhecimento pelo o que existe de mais profundo em nosso ser. Quando somos
medidos, pesados e julgados na periferia de nossa aparência ou, quem sabe, uma
primeira impressão, retiram arbitrariamente de nós o direito de sermos quem
somos.
Pensemos
ou não a respeito, é assim que se constroem o preconceito e a intolerância. Baseando-se
no mais absurdo critério de subjetividade, alguém aponta os defeitos (ou
raramente possíveis qualidades) em uma pessoa; mas, ao usar esse pretexto inicia-se
um rito de inferiorização, menosprezo e invisibilidade do outro. Logo surgem
seguidores dessa aclamação sem propósito e o processo ganha vulto
incomensurável.
Longe
de poder atribuir esse comportamento antissocial aos valores da
contemporaneidade, sejamos honestos para admitir que ele sempre esteve presente
na humanidade, como um traço deletério de nossa raça. Usamos rótulos para nos
distinguir como se quiséssemos de fato nos diferenciar de nossos pares.
Mas,
quando observamos a realidade atual percebemos que o uso desse artificio é
incapaz de ocultar um desejo de ser exatamente como uns e outros. Por mais
cruel e nociva que nossa metralhadora insultante de rótulos possa aparentar,
apontamos o que representa o nosso objeto de cobiça. Nesse sentido, então, a
tecnologia só fez ampliar as manifestações desse traço.
Por
isso, a importância da reflexão sobre esse assunto. Por que os rótulos nos
importam mais do que o ser humano em si? Será que estamos tão desprovidos de essência
para precisar nos apegar nisso? São tantos rótulos, que temos deixado de
perceber que a bondade ainda é maioria; assim como, tantas outras virtudes. Temos
nos inebriado pelos encantos da casca, quando a manutenção da vida está na
semente que ela esconde.
São
tantas trocas de amabilidade meticulosamente estratégica, tanta indiferença
proposital, tanta manipulação de resultados, tanta coisa para não se orgulhar...
Assim caminha a humanidade. Desconfigurando a verdade, os princípios, a sensatez,
a lógica e o bom senso. E se perguntarmos qual a razão de tudo isso, nem ela
mesma sabe responder; pois, já se rendeu a uma subserviência bovina que anula
qualquer reflexão.
E
quanto mais se persegue a aceitação da sociedade, mais rótulos se adquirem na
contrapartida dessa realização. Por isso, tanta frustração, tanto ódio
destilado, tanta loucura disseminada, tantas atitudes sem explicação. Os rótulos
sufocam tanto a nossa essência que ela acaba por sucumbir e nos transformar em
massa disforme, sem sinais remotos de que ali algum dia existiu um ser humano.
Como
dizia Coco Chanel, “Não importa o lugar de onde você vem. O que importa é quem você
é! E quem você é? Você sabe?”; portanto, não se renda aos rótulos, não se deixe
violentar por eles, seja você. Sempre. Em qualquer situação.