quinta-feira, 13 de julho de 2017

“Para a política o homem é um meio; para a moral é um fim. A revolução do futuro será o triunfo da moral sobre a política”. Ernest Renan

Será que algum dia a Glória chegará?


Por Alessandra Leles Rocha



Da Tomada da Bastilha até os dias atuais será que alguma coisa mudou ao redor do mundo? A Corte continua fazendo a festa, esbanjando, pilhando em plena luz do dia e para quem quiser ver. A população permanece sendo tratada como objeto, incapaz de agir e reagir diante da privação dos seus sonhos, esperanças e dignidade humana. Pois é, para os que ainda não entenderam, a história é cíclica. Mudam-se os cenários, os atores e os figurantes; mas, o enredo e o roteiro permanecem os mesmos.
Para nós brasileiros, ao relembrarmos o fato histórico mais importante da França e, também, mundial encontramos uma identificação estreita com a nossa realidade. Ex-colônia portuguesa, passamos de mãos em mãos pela exploração e espoliação de nossas riquezas e direitos até... hoje. Sim, não conseguimos romper os grilhões e renascer da opressão e da subserviência aos príncipes e reis contemporâneos, cuja opulência de seus títulos não advém da herança nobre e distinta, ungida pela chamada Teoria Divina dos Reis. A verdade é que pagamos a farra dos brioches por escolha democrática.
Nós, tupiniquins tropicais, nos rendemos aos encantos narcísicos de nossos eleitos e trabalhamos incessantemente para que não lhes falte recursos para os seus desvarios absolutos, enquanto nos esquecemos de nossos direitos humanos e mais singelas necessidades vitais. É como se a fome, o desemprego, a carestia, a precariedade da saúde e da educação públicas,... jamais tivessem cruzado os nossos caminhos e, portanto, nossa Corte não tivesse responsabilidade alguma sobre esses e outros assuntos.
Ao contrário da Corte Francesa, por aqui fomos nós os decapitados. Perdemos a cabeça na ignorância cega de nossas escolhas, nossas pequenas corrupções, nossa ingenuidade interesseira... Sem cabeça é lógico que alguém passaria a pensar por nós; então... O séquito dos desprovidos da razão torna-se, portanto, cada vez mais vulnerável aos apelos da sensibilidade passional. Ora, para sentir basta ter coração.
Afinal, que ser humano não se comove diante de alguém que lhe diga o que ele sempre quis ouvir? Por isso, nas promessas mais estapafúrdias as praças sempre se encheram de aplauso. Assim, proliferaram Robin Hood e toda legião de defensores da justiça, dos fracos e oprimidos, como matilhas de lobos em peles de cordeiro. Enquanto nos enchia com seu blábláblá repetitivo e sem nenhum resultado prático, a Corte desfilava a cara da riqueza no mais vil espetáculo de humilhação.  
Em pleno século XXI, no entanto, nada disso era para existir. Mas, a práxis secular que se cronificou entre nós é tão perversa que nem os rigores da lei não nos acordaram do torpor letárgico de nossa servil obediência. Obra criada pelos homens, talvez por isso mesmo, as leis com seus inúmeros vieses e lacunas não nos inspirem a confiança segura da restauração ética e moral. Como diz o provérbio, “O bom julgador por si se julga”...      
Enquanto isso, assistimos e vivenciamos horrorizados as mesmas demandas que levaram o povo de Luís XVI as ruas. Os séculos subsequentes parecem, portanto, não ter aprendido os valores da igualdade, da liberdade, da fraternidade, da justiça e/ou dos direitos humanos. A pirâmide permaneceu com a mesma desequilibrada distribuição social. As Cortes, essas serão sempre as mesmas. E as revoluções, apenas um ato de desespero inócuo diante de uma cegueira que habita não os olhos da sociedade, mas os olhos da alma de cada filho seu. Será que algum dia a Glória chegará?