É
ou não é?
Por
Alessandra Leles Rocha
Ao acompanhar diariamente as notícias
do Brasil e do mundo percebo que um fenômeno parece se repetir: a INCOERÊNCIA. Tudo
bem, que nenhum ser humano é cem por cento coerente, vinte e quatro horas por
dia; de repente, uma escorregadinha aqui e ali é inevitável. A questão que
desperta atenção é que o cotidiano tem se assemelhado a um filme cuja legenda
não se ajusta em nada a fala original; então, fica muito estranho não é mesmo?
O Senado da República brasileira,
por exemplo, cometeu recentemente a incoerência de escolher uma Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ), com pessoas citadas em delações à Operação
Lava-Jato, para sabatinar o novo ministro indicado ao Supremo Tribunal Federal
(STF), como se isso não fosse pra lá de constrangedor. É uma situação
totalmente antiética, a qual não deveria nem ao menos ser cogitada. No entanto,
a INCOERÊNCIA predominou.
Outra situação que me chamou muita
atenção é a da manifestação das famílias dos policiais no Espírito Santo. Não pelo
fato dessas pessoas estarem reivindicando do Estado, um olhar mais respeitoso e
digno com os trabalhadores da Segurança Pública; mas, por elas não se
intimidarem aos riscos de uma exposição tão direta.
Digo isso, porque é de amplo conhecimento,
o fato de que muitos trabalhadores ligados à Segurança Pública, no país, utilizam
estratégias para manterem sua identidade profissional e suas famílias resguardadas,
a título de minimizarem a ocorrência de atos de hostilidade e violência por
parte de marginais e facções criminosas. Muitos, inclusive, saem para o
trabalho à paisana, levando o uniforme para vestir no local de trabalho, para
não serem reconhecidos. Então, como
explicar que o receio deixou de ser tão forte a ponto de fazer com que essas famílias,
agora, resolvessem se expor dessa maneira? Isso é no mínimo, muita INCOERÊNCIA.
Olhando além de nossas fronteiras,
outro caso de INCOERÊNCIA é o novo Presidente dos Estados Unidos da América.
Depois de atacar pública e diversas vezes a sua oponente durante a corrida
eleitoral, pelo fato de que a mesma utilizou e-mail particular para tratativa
de assuntos de Estado; agora, é ele que, na qualidade de Presidente de um dos países
mais importantes na geopolítica mundial, usa e abusa da Tecnologia da Informação,
através das redes sociais, para assuntos de Estado em que desfere impropérios contra
aliados e não aliados dentro e fora do seu território. INCOERENTE, não?!
Pois bem, você pode dizer que estou
sendo ‘rigorosa’ demais, ‘perfeccionista’ demais, como se não levasse em conta
o fato de que a sabedoria humana, às vezes, nos faz refletir e mudar de
opinião, ou seja, que a INCOERÊNCIA também é parte da nossa evolução.
Entretanto, esses parcos exemplos
citados acima nos dão conta de algo que parece se propagar como uma epidemia contemporânea
entre as pessoas e, cuja gravidade se consolida quando bate à porta da perda da
credibilidade, da moralidade, da legitimidade dos discursos e das ações, que
impactam (algumas vezes, de modo severo) a sociedade como um todo. Esse tipo de
INCOERÊNCIA impede o ser humano de se fazer compreensível e respeitável; algo,
como perder o velho e bom ‘início, meio e fim’ das coisas e se colocar a tecer os
fatos fora de ordem; e, esse é o grande problema.
Não dá para negar que a COERÊNCIA é pacificadora, é mantenedora
dos bons resultados que se desdobram do curso da vida. Se a gente sabe que de
um pé de laranja sempre nasce laranja é porque essa é a COERÊNCIA da natureza; então, não adianta esperar uma jaca ou um
caqui. Assim, são as relações que fiamos no cotidiano. Quaisquer que sejam os
desvios que cometemos em relação à COERÊNCIA,
de pronto sabemos que o final não será o esperado. Então, não se esqueça desse
provérbio chinês, “Somente os tolos
exigem perfeição, os sábios se contentam com a coerência”.