terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Muros ou pontes? Assim, pergunta 2017.

Muros ou pontes? Assim, pergunta 2017.


Por Alessandra Leles Rocha


Nem concluímos a segunda década do século XXI e o mundo já deu sinais claros sobre a sua necessidade de mudanças. Se avanços têm existido no campo da ciência e da tecnologia, no que diz respeito a sermos humanos o retrocesso parece evidente. O desequilíbrio paira no ar, enquanto buscamos uma compreensão sobre tais descaminhos e até aonde eles irão nos conduzir.
2016 é um marco nesse processo. A desordem, o caos, a incompreensão,... o mundo pareceu estar sob a total inversão da lógica, do bom senso, dos valores humanos. De repente, a humanidade estranhou a si e aos seus comportamentos, em um movimento impactante e de alto valor de ressignificação.  Uma insatisfação tomou conta da ordem social, na medida em que a consciência sobre a perda do protagonismo humano começou a incomodar.  
Sim, 2016 refletiu a verdadeira realidade do homem pós-moderno. A raça humana permitiu a si mesma chegar até o Terceiro Milênio dilapidando os alicerces dos direitos fundamentais da sua gente, em detrimento da loucura desmedida de alguns de seus membros. O espelho do cotidiano refletiu o que não se gostaria de ver: o homem algoz do homem. Dessa forma, retrocedemos aos velhos hábitos e voltamos a construir muros ao invés de pontes.
Distante da paz, 2016 foi tempo de guerra. De todos os tipos. Com todas as armas. Certamente, com o mesmo resultado mórbido e perverso de aniquilação da vida e da própria espécie. Uma exaltação da barbárie, do primitivismo, da incapacidade de coexistir e construir o bem comum. Na escala de prioridades, o ser humano encontra-se no final da fila.
Por isso foi tão difícil. A verdade sofrida e doída não se cansa de repetir pelos 366 dias de 2016. A própria geografia é incapaz de amenizar o impacto, oferecendo a sensação do distanciamento; afinal, é o ser humano na sua dor, na sua angústia, na sua luta pela sobrevivência e dignidade. Então, não dá para ser indiferente, frio, quando poderia ser você a “bola da vez”. Não, não dá para fingir que nada disso está acontecendo.
2016 foi como um rolo compressor que passou por cima das nossas ilusões, dos nossos sonhos, das nossas esperanças. Nua e crua, a verdade esbofeteou nosso rosto até nos tirar da zona de conforto. Não foi um ano daqueles para guardar na memória pelos feitos e conquistas, que se traduziram em alegrias e satisfação.  Fomos sugados até a última gota e depois lançados num pântano movediço. Perdemos o viço, a coragem, o entusiasmo, enquanto nos tornávamos desorientados ou apáticos diante dos acontecimentos.  Algo comparável a um tsunami.
Portanto, 2017 chega com a missão de catarmos nossos cacos e digerirmos tantas lições. O ser humano está de volta ao centro das discussões, buscando resgatar o seu protagonismo social, o que não significa, em absoluto, um mero exercício de poder. O protagonismo nesse caso é viver em razão do e para o ser humano, rompendo com rótulos e distinções que não passam de arbitrariedades e violências improducentes.
Até aqui vivemos nos protegendo uns dos outros, construindo muros que só conseguiram visibilizar cada vez mais a nossa ignorância, a nossa estupidez, a nossa mediocridade; já que, historicamente nenhuma barreira conseguiu impedir a disseminação da violência e da guerra. Cabe a nós, nesse ano que se anuncia, rever esses conceitos e redimensionar nossa visão de mundo, de sociedade, de humanidade.
Então, como estopim dessa reflexão eu compartilho a Fábula do Porco-espinho: Durante a era glacial, muitos animais morriam por causa do frio. Os porcos-espinhos, percebendo a situação, resolveram se juntar em grupos, assim se agasalhavam e se protegiam mutuamente, mas os espinhos de cada um feriam os companheiros mais próximos, justamente os que ofereciam mais calor. Por isso decidiram se afastar uns dos outros e começaram de novo a morrer congelados. Então precisaram fazer uma escolha: ou desapareciam da Terra ou aceitavam os espinhos dos companheiros. Com sabedoria, decidiram voltar a ficar juntos. Aprenderam assim a conviver com as pequenas feridas que a relação com uma pessoa muito próxima podia causar, já que o mais importante era o calor do outro. E assim sobreviveram. Moral da História: O melhor relacionamento não é aquele que une pessoas perfeitas, mas aquele onde cada um aprende a conviver com os defeitos do outro, e a valorizar suas qualidades.
Pense nisso e faça de 2017 um intenso construir de pontes que unam corações e mentes em favor de um mundo mais justo, mais belo e mais humano. Salve, Salve 2017!