Muros ou pontes? Assim, pergunta 2017.
Por Alessandra Leles Rocha
Nem concluímos a segunda década do século XXI e o mundo já deu sinais claros sobre a sua necessidade de mudanças. Se avanços têm existido no campo da ciência e da tecnologia, no que diz respeito a sermos humanos o retrocesso parece evidente. O desequilíbrio paira no ar, enquanto buscamos uma compreensão sobre tais descaminhos e até aonde eles irão nos conduzir.
2016 é um
marco nesse processo. A desordem, o caos, a incompreensão,... o mundo pareceu
estar sob a total inversão da lógica, do bom senso, dos valores humanos. De
repente, a humanidade estranhou a si e aos seus comportamentos, em um movimento
impactante e de alto valor de ressignificação. Uma insatisfação tomou conta da ordem social, na
medida em que a consciência sobre a perda do protagonismo humano começou a
incomodar.
Sim, 2016
refletiu a verdadeira realidade do homem pós-moderno. A raça humana permitiu a
si mesma chegar até o Terceiro Milênio dilapidando os alicerces dos direitos
fundamentais da sua gente, em detrimento da loucura desmedida de alguns de seus
membros. O espelho do cotidiano refletiu o que não se gostaria de ver: o homem
algoz do homem. Dessa forma, retrocedemos aos velhos hábitos e voltamos a
construir muros ao invés de pontes.
Distante da
paz, 2016 foi tempo de guerra. De todos os tipos. Com todas as armas. Certamente,
com o mesmo resultado mórbido e perverso de aniquilação da vida e da própria
espécie. Uma exaltação da barbárie, do primitivismo, da incapacidade de
coexistir e construir o bem comum. Na escala de prioridades, o ser humano
encontra-se no final da fila.
Por isso
foi tão difícil. A verdade sofrida e doída não se cansa de repetir pelos 366
dias de 2016. A própria geografia é incapaz de amenizar o impacto, oferecendo a
sensação do distanciamento; afinal, é o ser humano na sua dor, na sua angústia,
na sua luta pela sobrevivência e dignidade. Então, não dá para ser indiferente,
frio, quando poderia ser você a “bola da vez”. Não, não dá para fingir que nada
disso está acontecendo.
2016 foi
como um rolo compressor que passou por cima das nossas ilusões, dos nossos
sonhos, das nossas esperanças. Nua e crua, a verdade esbofeteou nosso rosto até
nos tirar da zona de conforto. Não foi um ano daqueles para guardar na memória
pelos feitos e conquistas, que se traduziram em alegrias e satisfação. Fomos sugados até a última gota e depois
lançados num pântano movediço. Perdemos o viço, a coragem, o entusiasmo,
enquanto nos tornávamos desorientados ou apáticos diante dos acontecimentos. Algo comparável a um tsunami.
Portanto,
2017 chega com a missão de catarmos nossos cacos e digerirmos tantas lições. O ser
humano está de volta ao centro das discussões, buscando resgatar o seu protagonismo
social, o que não significa, em absoluto, um mero exercício de poder. O
protagonismo nesse caso é viver em razão do e para o ser humano, rompendo com
rótulos e distinções que não passam de arbitrariedades e violências improducentes.
Até aqui
vivemos nos protegendo uns dos outros, construindo muros que só conseguiram
visibilizar cada vez mais a nossa ignorância, a nossa estupidez, a nossa
mediocridade; já que, historicamente nenhuma barreira conseguiu impedir a
disseminação da violência e da guerra. Cabe a nós, nesse ano que se anuncia,
rever esses conceitos e redimensionar nossa visão de mundo, de sociedade, de
humanidade.
Então, como
estopim dessa reflexão eu compartilho a Fábula do Porco-espinho: Durante a era glacial,
muitos animais morriam por causa do frio. Os porcos-espinhos, percebendo a
situação, resolveram se juntar em grupos, assim se agasalhavam e se protegiam
mutuamente, mas os espinhos de cada um feriam os companheiros mais próximos,
justamente os que ofereciam mais calor. Por isso decidiram se afastar uns dos
outros e começaram de novo a morrer congelados. Então precisaram fazer uma
escolha: ou desapareciam da Terra ou aceitavam os espinhos dos companheiros. Com
sabedoria, decidiram voltar a ficar juntos. Aprenderam assim a conviver com as
pequenas feridas que a relação com uma pessoa muito próxima podia causar, já
que o mais importante era o calor do outro. E assim sobreviveram. Moral da
História: O melhor relacionamento não é aquele que une pessoas perfeitas,
mas aquele onde cada um aprende a conviver com os defeitos do outro, e a
valorizar suas qualidades.
Pense nisso e faça de 2017 um intenso construir de pontes
que unam corações e mentes em favor de um mundo mais justo, mais belo e mais
humano. Salve, Salve 2017!