sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

2017 e suas primeiras reflexões...

Da barbárie das cavernas até hoje em dia


Por Alessandra Leles Rocha


Podemos pensar que a barbárie é resultado da deterioração humana? Por incrível que possa parecer, não.  O ser humano é um bárbaro por excelência e viveu nessa condição por milhares de anos até que o advento da organização social e do surgimento das leis, códigos e doutrinas viesse atuar como mecanismo de freio e contrapeso na boa convivência entre os indivíduos.
Então, o que temos assistido nessa primeira semana de 2017 é a deterioração social, no que diz respeito aos conceitos de cidadania e de coexistência coletiva. Na medida em que o indivíduo se abstém da consciência e do bom senso, que compreendem a importância do cumprimento das normas que asseguram os direitos e os deveres de cada um, fica evidente o esfacelamento do seu compromisso natural consigo e com os demais.
Quando a sociedade não se dispõe a refletir e discutir sobre as razões que levam as pessoas a agir à revelia da boa e saudável convivência estabelecida pelo vasto ordenamento jurídico de cada Estado nação, ela não faz senão fomentar silenciosamente o resgate da prática da barbárie. Algo parece sinalizar favoravelmente que agir na contramão das determinações das leis, códigos e doutrinas não encontra sanções e/ou punições, as quais mereçam crédito ou respeito.  
Desse modo, o indivíduo passa a seguir suas próprias orientações e ditames sem maiores preocupações e constrangimentos. Aliás, esse é o comportamento humano desde a mais tenra infância, observar a aprovação ou desaprovação do meio em que está inserido, para ver se pode ou não continuar procedendo de uma determinada forma. Daí, a nossa total incompreensão diante dos acontecimentos, os quais lamentavelmente tendem a persistir na sua repetição.
Não é de hoje, que o Brasil ostenta uma vasta legislação imbuída em tentar atender ao mais amplo espectro das necessidades e conflitos sociais.  No entanto, no que diz respeito à sua aplicação, fiscalização e modernização (de acordo com a evolução da própria sociedade), o Estado brasileiro demonstra claramente a sua dificuldade e inoperância, favorecendo espaços profícuos para o engessamento e o descumprimento da mesma. Como dizem por aí, “uns fingem que fazem; outros fingem que cumprem”.
Como se vê pouco se considera a questão da segurança pública como um processo cíclico em que cada elo precisa manifestar a consciência na ação da sua responsabilidade, com vistas ao resultado satisfatório esperado. Basta que um dos elementos se descuide do exercício correto do seu papel para colocar em xeque todo o processo; e isso, minha gente, inclui cada cidadão brasileiro.
Então, sobre o nosso papel cidadão e para que não haja mais nenhum tipo de dúvida, ser cidadão é ter:
O exercício dos direitos e deveres civis, políticos e sociais estabelecidos na Constituição de um país. [...] Uma boa cidadania implica que os direitos e deveres estão interligados, e o respeito e cumprimento de ambos contribuem para uma sociedade mais equilibrada e justa. Exercer a cidadania é ter consciência de seus direitos e obrigações, garantindo que estes sejam colocados em prática. Exercer a cidadania é estar em pleno gozo das disposições constitucionais. Preparar o cidadão para o exercício da cidadania é um dos objetivos da educação de um país.*
Desse modo, na displicência arrogante com que negligenciamos a relevância da nossa cidadania e saímos, por aí, estratificando as mazelas sociais entre maiores ou menores, graves ou não graves, deixamos de reconhecer que problemas são problemas e quando não solucionados a contento transformam-se em gigantescas bolas de neve.
Distante dessa consciência, a sociedade fomenta a ilusão de que só temos direitos e, por isso, abrem-se precedentes para tantos absurdos, para tantas manifestações da barbárie. Quem paga o preço no final é a própria sociedade através de mais impostos e cada vez menos recursos investidos em favor do bem comum. 
Portanto, trabalhar apenas na “apartação humana”, entre os que sabem e os que “não sabem” conviver em sociedade, é só uma forma simplista de encarar tamanha deterioração. O país precisa muito mais do que isso e uma mudança de comportamento e de atitude passa por uma reavaliação profunda das leis, códigos e doutrinas, no que tange à sua aplicação, fiscalização e modernização, devolvendo à população a percepção do seu princípio igualitário e social.
Além disso, é fundamental que esse processo renovador alcance a reformulação dos valores e princípios sociais, através das práticas presentes na educação nacional. A escola precisa saber que cidadãos ela quer ajudar a formar para o seu país. E um trabalho bem feito, nesse sentido, repercute diretamente nas bases da educação familiar; pois, um aluno consciente da sua cidadania possui efeito multiplicador e transformador na sociedade em que vive.
Caso contrário, a sociedade brasileira permanecerá no seu franco declínio de deterioração, gastando recursos escassos em práxis ineficazes enquanto chora novas barbáries anunciadas. Pensemos nisso com a seriedade e a responsabilidade que nossa cidadania nos outorga.




* https://www.significados.com.br/cidadania/