Olhe o passarinho!
Por Alessandra Leles
Rocha
Aprisionar o tempo. Talvez tenha sido esta a razão que moveu
a civilização humana a desenvolver a fotografia. Ainda que seja por um
instante, um único momento, a sensação de vencer o invencível é de imenso prazer.
E da parceria ousada entre a química, a física e a
curiosidade do homem a imagem pode ser capturada. Dos primeiros experimentos na
remota antiguidade até o assombro tecnológico das máquinas digitais fica
evidente a importância da fotografia para as pessoas.
A vida na decomposição infinita de seu prisma é razão
incontestável para imortalizar a contemplação. Quem não se encanta com o céu, seus
astros e estrelas a cintilar no azul profundo e enigmático do universo em
expansão? Ou com o nascer e o pôr do sol? Ou o trabalho dedicado das abelhas e
formigas na construção do seu lar? Quantas possibilidades?...
De cada cena um debulhar de histórias. É! O Tempo é um grande
contador de histórias; portanto, a fotografia também. Não há quem não viaje nas
lembranças diante de uma foto. O que parece estático em nossas mãos ganha a
dinâmica dos sentimentos e uma descrição narrativa salta dos lábios sem
percebermos. As feições, a respiração, o brilho no olhar... O comportamento
todo muda diante de uma fotografia. Presente e passado se misturam, sem que se
saia do lugar.
Então, o que seria da odisseia humana sem elas? Conhecer,
saber, aprender depende do registro, de como foi o início, o meio e o fim. Com
as fotografais estabelecemos parâmetros de como tem sido o mundo, a sua gente,
o seu lado bom e o seu lado sombrio, e podemos recordar refletir e se avaliar.
Fotografia é arte, é cultura, é comportamento, é um pouquinho de tudo e de nós.
Não apenas nas caixas, nos álbuns, nos celulares e outras
tecnologias é que as colecionamos. Não há fotografia só no limite do
individual. Há tempos que elas ganharam o mundo, as páginas dos livros, das
revistas, dos outdoors, das exposições, enfim... O que as palavras não
conseguem traduzir ou explicar, lá estão elas para fazer. Silenciosamente,
sutilmente, as fotografias revelam mais do que o visível; elas desnudam as
emoções. É por essas e por outras que algumas pessoas relutam tanto em se
deixar fotografar.
Mas, em tempos de selfies,
o mundo parece ter abolido o pudor, perdido a vergonha e se entregue ao
fanatismo dos flashes. A velocidade da vida nos assusta tanto, que eleva nosso
instinto de controlar o tempo. O que às
vezes nos parece difícil de enxergar, de compreender pelo ritmo frenético dos
acontecimentos, a fotografia é a nossa segunda e, porque não dizer, a melhor
oportunidade para fazê-lo. Guardar para
sempre o material daquilo que subjetivamente nos pertence, como é o caso do
nascimento, da infância, da juventude, das conquistas, dos amores,... Naquele
instante enigmático em que tudo espera pelo enlace perfeito entre você, a
câmera e o mundo.
Então, mesmo que chova que vente que sua alma não esteja tão
feliz assim, fotografe. Certamente, a vida muda da água para o vinho, quando se
escuta alguém dizer o velho e bom: olhe o
passarinho!