sábado, 20 de agosto de 2016

Homenagem ao Dia Mundial da Fotografia (19/08)

Olhe o passarinho!


Por Alessandra Leles Rocha


Aprisionar o tempo. Talvez tenha sido esta a razão que moveu a civilização humana a desenvolver a fotografia. Ainda que seja por um instante, um único momento, a sensação de vencer o invencível é de imenso prazer.
E da parceria ousada entre a química, a física e a curiosidade do homem a imagem pode ser capturada. Dos primeiros experimentos na remota antiguidade até o assombro tecnológico das máquinas digitais fica evidente a importância da fotografia para as pessoas.
A vida na decomposição infinita de seu prisma é razão incontestável para imortalizar a contemplação. Quem não se encanta com o céu, seus astros e estrelas a cintilar no azul profundo e enigmático do universo em expansão? Ou com o nascer e o pôr do sol? Ou o trabalho dedicado das abelhas e formigas na construção do seu lar? Quantas possibilidades?...
De cada cena um debulhar de histórias. É! O Tempo é um grande contador de histórias; portanto, a fotografia também. Não há quem não viaje nas lembranças diante de uma foto. O que parece estático em nossas mãos ganha a dinâmica dos sentimentos e uma descrição narrativa salta dos lábios sem percebermos. As feições, a respiração, o brilho no olhar... O comportamento todo muda diante de uma fotografia. Presente e passado se misturam, sem que se saia do lugar.
Então, o que seria da odisseia humana sem elas? Conhecer, saber, aprender depende do registro, de como foi o início, o meio e o fim. Com as fotografais estabelecemos parâmetros de como tem sido o mundo, a sua gente, o seu lado bom e o seu lado sombrio, e podemos recordar refletir e se avaliar. Fotografia é arte, é cultura, é comportamento, é um pouquinho de tudo e de nós.
Não apenas nas caixas, nos álbuns, nos celulares e outras tecnologias é que as colecionamos. Não há fotografia só no limite do individual. Há tempos que elas ganharam o mundo, as páginas dos livros, das revistas, dos outdoors, das exposições, enfim... O que as palavras não conseguem traduzir ou explicar, lá estão elas para fazer. Silenciosamente, sutilmente, as fotografias revelam mais do que o visível; elas desnudam as emoções. É por essas e por outras que algumas pessoas relutam tanto em se deixar fotografar.
Mas, em tempos de selfies, o mundo parece ter abolido o pudor, perdido a vergonha e se entregue ao fanatismo dos flashes. A velocidade da vida nos assusta tanto, que eleva nosso instinto de controlar o tempo.  O que às vezes nos parece difícil de enxergar, de compreender pelo ritmo frenético dos acontecimentos, a fotografia é a nossa segunda e, porque não dizer, a melhor oportunidade para fazê-lo.  Guardar para sempre o material daquilo que subjetivamente nos pertence, como é o caso do nascimento, da infância, da juventude, das conquistas, dos amores,... Naquele instante enigmático em que tudo espera pelo enlace perfeito entre você, a câmera e o mundo.

Então, mesmo que chova que vente que sua alma não esteja tão feliz assim, fotografe. Certamente, a vida muda da água para o vinho, quando se escuta alguém dizer o velho e bom: olhe o passarinho!

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